
Ana Pi e a alegria diante do colapso do mundo
Em Atomic Joy, a coreógrafa investiga o segredo coreográfico contido na noção de alegria.
Ana Pi é coreógrafa e artista da imagem. Nascida no Brasil e radicada na França, ela explora a diáspora africana e sua imaginação radical, pesquisando danças ancestrais e suas expressões periféricas contemporâneas. Atua como bailarina “extemporânea”, pedagoga, criadora de espaços e escritora, investigando gestos e movimentos transmitidos por tradições, transformados por paisagens, tecnologias e corpos vivos.
Em maio de 2025, enquanto finalizava os ensaios de seu novo trabalho, Ana apresentou à equipe da Mídia NINJA a proposta de Atomic Joy — espetáculo que abriu a Temporada Brasil–França em São Paulo, com apresentação na Pinacoteca Brasileira. Na conversa, mostrou como dança, comunicação e radicalidade sempre caminharam juntas:
“A dança é uma resistência alegre frente a uma grande e voraz transformação da sociedade.”
Estreada em 2025, em Seine-Saint-Denis, no subúrbio de Paris, Atomic Joy investiga a alegria como força coreográfica.
“A obra agita o campo da alegria. Só que a alegria não é moral, a alegria é amoral. Quem faz maldade por aí tá muito alegre também. Então, dentro dessa tensão do que é alegria, tem a palavra resistência – e a resistência não é uma metáfora, ela tem gestos que a acompanham. Eu escrevo a coreografia com gestos de resistência.”





Inspirada nas batalhas de dança de rua, Ana Pi cria um espaço de escuta e desobediência, onde gestos radicais se transformam em afirmação. Impulsionada pelas danças afrodiaspóricas, conecta memória e futuro, autonomia e coletivo. Com música de Christophe Chassol, a coreografia une ternura, virtuosismo e ferocidade, celebrando um legado em permanente transformação.
A obra propõe um mergulho na resistência física do corpo dançante, entendida não apenas como permanência, mas como reinvenção. Entre um exercício de estilo e o adiamento do fim, a coreografia se transforma em manual de sobrevivência e de memória, no qual a alegria contrabalança o medo globalizado de nosso tempo.
Estreada no contexto de cooperação cultural entre Brasil, França, a obra é também uma reconexão com a ancestralidade no presente. A dança surge como ferramenta de comunicação que provoca a pensar: como dançar a tradição diaspórica que carrega a alegria como centro?
Ana Pi
Suas obras transdisciplinares, ligadas ao ato de viajar, abordam trânsito, pertencimento, memória, cores e gestos cotidianos, sempre conectando passado e futuro.



Suas coreografias, instalações, filmes e pesquisas já foram exibidas em espaços como a 35ª Bienal de São Paulo, MoMA, Centre Pompidou, Museu Reina Sofía, Bienal de Dakar, Festival Internacional de Cinema de Roterdã, Inhotim, MASP, entre outros, consolidando sua relevância global. Desde 2010, desenvolve e partilha a prática CORPO FIRME, focada em danças periféricas e gestos sagrados.