América Latina no Oscar: a perspectiva etnocêntrica nas edições
Conheça a trajetória da América Latina no maior prêmio do cinema mundial
Por Nathalin Gorska
Não é segredo que o Oscar segue uma linha etnocêntrica para suas indicações. Durante sua primeira edição, que ocorreu em 1929, entre os vencedores, somente três eram estrangeiros: Lewis Milestone, da Moldávia; Emil Jannings, da Suíça; e William Fox, da Hungria. Nenhum dos indicados era da América Latina.
A invisibilidade da América Central e do Sul passou despercebida por várias edições (20, ao todo), e só no ano de 1951 um latino ganhou a estatueta pela primeira vez. José Ferrer, um porto-riquenho, foi consagrado como melhor ator pelo filme “Cyrano de Bergerac”, de 1950, inspirado na peça de mesmo nome. Ferrer já havia sido indicado dois anos antes, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante por “Joana D’Árc”, mas não levou a estatueta para casa.
O Brasil na premiação
Em terras nacionais, a história não foi diferente. Nossa primeira indicação foi em 1945, com Ary Barbosa, pela categoria de Melhor Canção, pelo filme “Brazil”, mas a vencedora foi a música “Swinging on a Star”, do filme “O Bom Pastor”.
Ao todo, o Brasil foi indicado oito vezes em suas produções, são elas:
- O Pagador de Promessas (1963), indicado por Melhor Filme Internacional;
- O Quatrilho (1996), indicado por Melhor Filme Internacional;
- O Que é Isso, Companheiro? (1998), indicado por Melhor Filme Internacional;
- Uma História de Futebol (2001), indicado por Melhor Curta Metragem em Live-action;
- Cidade de Deus (2004), indicado por Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia. Tais números fizeram “Cidade de Deus” ser o filme com mais indicações da história do Brasil.
- O Menino e o Mundo (2016), indicado por Melhor Filme de Animação;
- Democracia em Vertigem (2020), indicado por Melhor Documentário.
Não podemos deixar de pontuar as coproduções em que o Brasil participou. Foram 15, entre essas, Central do Brasil (1999), em que Fernanda Montenegro concorreu na categoria de Melhor Atriz e o longa em Melhor Filme Internacional.
As participações latino-americanas no Oscar
Debater a presença de obras originárias da América Latina é mais do que uma questão de aumentar a escala de alcance do Oscar. Por que a América Latina não possui tantos prêmios, seja no cinema ou na música? Uma coisa é certa: jamais será por falta de capacidade ou obras publicadas.
Podemos levantar inúmeras questões para a falta de ocupação desses lugares, mas entre a mais notável (basta uma leve pesquisa em redes sociais como o “X”, antigo Twitter) percebemos que não consumimos nossas próprias obras. Segundo a Revista Piauí, em 2023, a cada 100 sessões de cinema no Brasil, apenas 13 eram nacionais.
E a questão vai além: especialmente no Brasil, após a posse de Jair Messias Bolsonaro, surge no país um sentimento de “patriotismo da direita”. Filmes como Marighella (2021), sofreram censuras prévias e os atores, hostilizados pela direita. Sessões de cinema sofriam tentativas de boicotes pelo filme retratar a história do revolucionário comunista Carlos Marighella.
Mas latinos consomem filmes da América Latina?
É através dessa questão que percebemos que nos falta formação de público. Não trabalhamos em nós mesmos a aceitação de obras fora do eixo Estados Unidos – Inglaterra e por isso, poucas obras chegam a furar nossa bolha de consumo.
Atualmente, vemos um crescente, mas não suficiente, número de obras originárias de países como Argentina, México e o Brasil, que chegam no estrelato e atraem os olhos da Academia. Deixamos, a seguir, obras latino-americanas que foram indicadas ao Oscar e um breve resumo sobre elas para você se aprofundar no Oscar e conhecer mais sobre a diversidade cultural da América Latina.
Argentina, 1985 (2022)
Apresentando o processo de julgamento dos militares argentinos, que cometeram crimes durante a ditadura que assolou o país de 1976 até 1983, o filme rapidamente tomou grandes proporções e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, além do Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
O longa está disponível no Prime Vídeo.
Pinóquio (2022)
Trazendo a história já tão conhecida do Pinóquio, o diretor mexicano, Guillermo Del Toro, conquistou o público com sua sensibilidade de abordar um clássico, mas também com os visuais arrebatadores que a animação tem. Pinóquio concorreu e venceu na categoria de Melhor Filme de Animação do Oscar, além de prêmios como Globo de Ouro, BAFTA e Prêmio Annie, também em melhor animação.
O longa está disponível na Netflix.
Uma mulher fantástica (2017)
Ganhador do Melhor Filme Estrangeiro do Oscar, o longa chileno foi o primeiro filme estrelado por uma mulher trans a ganhar o Oscar e acompanha a história de Marina, uma garçonete que sonha em ser cantora e que passa por reviravoltas em sua vida após o falecimento de seu melhor amigo e namorado.
A produção está disponível na Netflix.
Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades (2022)
O documentário dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu retrata a história de um jornalista e documentarista mexicano, que após retornar para casa, passa a ter crises existenciais com sua identidade. O Bardo concorreu ao Oscar de Melhor Fotografia, mas não saiu como vencedor.
O documentário está disponível na Netflix.
Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024