Ambulantes retirados da calçada do Ver-o-Peso seguem à espera de novo espaço
A promessa foi de realoca-los, porém, até esta quarta-feira (12), terceiro dia da COP30, permanecem sem destino certo
José Castro, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30
Às vésperas da realização da COP 30, a Prefeitura de Belém (PA) realizou uma operação de retirada dos vendedores ambulantes que ficavam na calçada em frente ao Mercado do Ver-o-Peso. Isso se deu no primeiro dia de novembro a partir de uma ação conjunta entre as secretarias municipais de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade (Segbel), Desenvolvimento Econômico (Sedcon), Zeladoria e Conservação Urbana (Sezel) e Guarda Municipal.
No site oficial, o Executivo municipal diz que “a Prefeitura de Belém devolveu à população o espaço limpo e organizado” após operação inédita no centro comercial da Boulevard Castilhos França, “como parte das ações integradas do programa Belo Centro”, afirmando que “a iniciativa soluciona um problema histórico de ocupação irregular e desorganização do espaço urbano”.
Até esta quarta-feira (12), terceiro dia da COP30, essas pessoas seguem sem destino certo.
A iniciativa do Executivo municipal gerou revolta dos trabalhadores que tiveram que sair do local, mas também contou com apoio de parte da população, pois traz prejuízos para as pessoas que ali estavam há muito tempo. Por conta da localização estratégica e circulação diária de pessoas, conseguiam garantir o sustento das suas famílias.
Em nota, a Prefeitura de Belém informou que os vendedores foram notificados pelas equipes de Ordem Pública e orientados sobre os procedimentos para a regularização. Segundo a prefeitura, a medida foi necessária para que possam ser realocados para áreas autorizadas no centro comercial. Os trabalhadores temem por esse tempo de espera, pois ainda não há indicativo do novo espaço ou prazo de transferência para o novo local.
Na nota a Prefeitura relata que o trabalho foi bem-sucedido, afirmando que esse tipo de ação de ordenamento devolve e ressignifica o centro comercial para a população. Mas, ao que parece, ao custo de exclusão dos trabalhadores que ali já estavam há muito tempo, vendendo frutas, verduras, acessórios para celular, artigos de artesanato e outros itens.
Impacto da COP30
O Ver-o-Peso passou por reformas nos últimos meses, justamente para a COP. Investimentos estimados no valor de 64 milhões para a reforma e requalificação do complexo.
E os preparativos para a COP já geraram vários problemas para os feirantes, primeiramente pelo transtorno das obras, além do isolamento de alguns vendedores que tiveram que sair do seu ponto tradicional de venda, o que resultou em quedas nas vendas e, consequentemente, na renda desses trabalhadores. Além disso, alguns feirantes relatam casos de “perseguição”, conforme matéria do jornalista Carlos Altaman, publicada no portal Estado de Minas.
A vendedora Socorro Loura, disse na reportagem que os trabalhadores estariam sendo “perseguidos e isolados”, durante os preparativos para a COP.
Socorro também declarou que as ações de limpeza e fiscalização afirma que a movimentação das obras e ações de limpeza e fiscalização no mercado afetaram diretamente o sustento de dezenas de famílias que trabalham há décadas no local.
“Essa aqui é a cultura do Pará, a cultura mais famosa de Belém. Veio da minha bisavó, que foi escrava e trabalhava com essas ervas. Nós somos o postal mais lindo da feira do Ver-o-Peso.”
A imprensa de fora do estado tem se referido à operação como uma “limpeza”, dada a retirada dos ambulantes da calçada e de alguns pontos da feira. E que isso implicaria em esconder o verdadeiro Ver-o-Peso para quem vem à cidade.
Origem do Ver-o-Peso
O Mercado do Ver-o-Peso é a maior feira à céu aberto da América Latina, e um patrimônio nacional. A origem do mercado está ligada diretamente à formação da cidade e ao início da colonização portuguesa na Amazônia. Nasceu como posto de controle e cobrança de impostos sobre mercadorias que entravam e saíam pela Baía do Guajará.
O nome vem de uma casa onde se realizavam as pesagens dos produtos, chamada Casa de Haver o Peso, por isso o nome Ver-o-Peso, que se originou dessas pesagens. Era uma estrutura simples, feita de madeira, voltada ao controle fiscal e comercial da então Coroa Portuguesa.
O ponto foi escolhido por sua localização privilegiada às margens da Baía do Guajará, o que facilitava o desembarque de mercadorias e o escoamento da produção de cacau, peixe e outros produtos. Rapidamente o local passou de ponto de fiscalização para ponto de comércio livre, atraindo feirantes, barqueiros e agricultores ribeirinhos, que ali viram uma grande oportunidade de comércio.



