Amazon, Google, Unilever e Nestlé são algumas das “gigantes” que falham nas metas climáticas
A ironia é que estudo queria descobrir as melhores práticas no mundo corporativo, mas detectou que a integridade de muitas delas é questionável
Um estudo realizado pelo New Climate Institute, revela que algumas das maiores empresas do mundo estão falhando em cumprir alguns pontos – ou muitos – de zerar emissões. Dentre as gigantes do mundo que estão aquém dos objetivos que traçaram para combater as mudanças climáticas, figuram a Amazon, Google, Nestlé, Vale, JBS e Unilever.
Ao todo 25 empresas que operam em variados setores e que têm origens diversas foram avaliadas pela pesquisa feita em colaboração com o Carbon Market Watch. A ironia é que o objetivo era descobrir as melhores práticas no mundo corporativo, mas os pesquisadores acabaram por detectar que a integridade de muitas delas é questionável.
Segundo Thomas Day, principal autor do estudo, “à medida que aumenta a pressão sobre as empresas para agir sobre as mudanças climáticas, suas manchetes ambiciosas muitas vezes carecem de substância real, o que pode enganar tanto os consumidores quanto os reguladores que são essenciais para orientar sua direção estratégica. Mesmo as empresas que estão indo relativamente bem exageram suas ações”.
Quais são e quais seus níveis de integridade?
Embora nenhuma delas tenha alcançado “alto grau de integridade”, a Maersk ficou no topo, com integridade razoável, seguida pela Apple, Sony e Vodafone com integridade “moderada”.
No geral, a análise conclui que as principais promessas da Amazon, Deutsche Telekom, Enel, GlaxoSmithKline, Google, Hitachi, IKEA, Vale, Volkswagen e Walmart têm “baixa integridade” e as da Accenture, BMW Group, Carrefour, CVS Health, Deutsche Post DHL, E .ON SE, JBS, Nestlé, Novartis, Saint-Gobain e Unilever têm integridade “muito baixa”.
Vale lembrar que quando uma marca diz que é ambientalmente responsável e não coloca em prática esses valores, está cometendo o greenwashing, que é enganar os consumidores.
Gilles Dufrasne, da Carbon Market Watch diz que “os anúncios enganosos das empresas têm impactos reais nos consumidores e formuladores de políticas. Somos enganados ao acreditar que essas empresas estão tomando medidas suficientes, quando a realidade está longe disso”. Ele avalia que sem regulamentação, o cenário continuará o mesmo.
“Precisamos que governos e órgãos reguladores intensifiquem e acabem com essa tendência de lavagem verde”.
Ao avaliar os esforços das 25 empresas, o pesquisador Thomas Day disse que em conjunto, teriam pouco impacto. Ele concorda que muitas delas estão contando com a compensação de carbono para uma grande parte de seus cortes projetados, mas a prática é controversa, pois não estão reduzindo emissões, mas sim, pagando para continuar emitindo. Nesse cenário, quem tem mais dinheiro, paga mais. Ficamos muito desapontados e surpresos com a quantidade de espaço para melhorias”.
Além da quantidade de compensação e a confiabilidade delas, e o progresso na redução de suas próprias missões, foram analisados também, a transparência de relatórios corporativos. “Essas empresas “precisam ser muito mais transparentes sobre esses objetivos”.
Iniciativas positivas
De outro lado, o estudo também identificou iniciativas promissoras, como uma ferramenta que o Google está desenvolvendo para adquirir energia renovável de alta qualidade em tempo real. A Maersk e a Deutsche Post também estão fazendo grandes investimentos em tecnologias de descarbonização para transporte e logística.
Muitos das empresas responderam que preservar as florestas existentes é uma das formas mais importantes para enfrentar a crise climática. Por sua vez, Day deu um conselho.
“É uma prática melhor não compensar – é mais transparente e construtivo. As empresas não devem alegar que vão zerar emissões até 2030, a menos que estejam reduzindo suas emissões em 90% até então”.
O outro lado
Via porta-vozes e notas, três das grandes empresas se manifestaram:
- A Amazon declarou que tinha o objetivo de atingir zero carbono líquido até 2040: “Estabelecemos metas ambiciosas. (…) A Amazon está no caminho de alimentar suas operações com energia 100% renovável até 2025, cinco anos à frente de nossa meta original”.
- A Nestlé disse que parabeniza a iniciativa, mas que “o relatório não compreende a abordagem da empresa e contém imprecisões significativas. [Nosso] roteiro climático foi validado pela Science-Based Targets Initiative [um órgão corporativo de sustentabilidade]. O trabalho que foi feito é rigoroso e extenso.”
- Já a Unilever disse que “embora compartilhemos diferentes perspectivas sobre alguns elementos deste relatório, agradecemos a análise externa de nosso progresso e iniciamos um diálogo produtivo com o NewClimate Institute para ver como podemos evoluir significativamente nossa abordagem”.
- O Google disse que está orgulhoso dos progressos apontados, ressaltando que em “em 2020, alcançou 67% livres de carbono por hora nos nossos data centers, acima dos 61% de 2019”. A Google acrescenta ainda que a sua meta é “atingir emissões líquidas zero em todas as nossas operações e cadeia de valor até 2030, como reproduziu o Executive Digest.