Por Mauro Utida

A Polícia Civil abriu uma investigação contra alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro, em Valinhos, no interior de São Paulo, após denúncia de racismo e xenofobia por uma mãe de um dos alunos, de 15 anos. A vítima é um estudante negro que se recusou a fazer parte do grupo do Whatsapp, intitulado “Fundação Anti Petismo”.

Após se opor aos alunos que o adicionaram ao grupo contra a sua vontade e alertar sobre o teor criminal das mensagens, o adolescente passou a ser alvo de ataques racistas. Em uma mensagem privada por um destes estudantes, ele foi ameaçado: “Espero que você morra fdp negro”, dizia a mensagem.

O grupo no WhatsApp com 32 participantes foi criado logo após o resultado do segundo turno das eleições. Os alunos compartilharam comentários de teor violento e discursos de ódio, imagens nazistas, comentários xenofóbicos e racistas. Esse grupo de alunos que se autointitula “neonazistas do Porto”. Eles falam em escravizar os nordestinos e ainda mandaram mensagens desejando a morte do estudante negro que corajosamente fez a denúncia.

Mensagens do grupo pelo Whatsapp mostra o teor neonazista. Foto: Reprodução/Instagram

A mãe do jovem, a advogada Thais Cremasco, registrou um boletim de ocorrência contra os alunos participantes do grupo e alertou: “O que ocorreu não são mensagens de brincadeira! É crime!”, escreveu em uma postagem publicada no Instagram, onde ela expôs algumas mensagens trocadas neste grupo.

A advogada questionou o colégio para saber quais as providências que serão tomadas e enfatizou que racismo, apologia ao nazismo e xenofobia são crimes. A escola suspendeu apenas o aluno responsável pelas mensagem que ameaçou o filho da advogada. “Como meus filhos vão frequentar uma escola que há alunos cometendo esse tipo de crime?”, questionou.

 

 

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Por meio da assessoria de imprensa, o Colégio Visconde de Porto Seguro informou que fará uma reunião do conselho administrativo nesta sexta-feira (4) para decidir sobre as providências que serão tomadas com os alunos envolvidos no grupo que disseminou mensagens racistas. “Imediatamente, após cientificada, a escola acolheu os alunos que se sentiram ofendidos bem como seus familiares, comprometendo-se a contribuir para a devida averiguação”, informou em nota.

Entidades repudiam mensagens

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Valinhos emitiu uma nota que “repudia veementemente os eventos racistas e, se solidariza com os envolvidos”.

O Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil também tomou conhecimento do caso e classificou como “estarrecedor” o teor dos comentários trocados pelos alunos no grupo de Whatsapp. “O caso, que aconteceu no colégio Visconde de Porto Seguro, unidade Valinhos, é estarrecedor e merece um olhar aprofundado”, declarou.

A instituição que se dedica a monitorar e denunciar ataques antissemitas, neonazistas e correlatos criticou a nota do colégio e declarou que a instituição de ensino não pode tolerar, sob nenhuma hipótese, conteúdos fascistas.

“Não temos o direito de fazer de conta que não sabíamos o que estava sendo gestado. O holocausto não começou com os campos de concentração, mas exatamente assim, acostumando as pessoas ao discurso de ódio e ao desejo de exterminar os “indesejáveis”. No nazismo fomos nós, judeus, mas não só nós. Negros, ciganos, portadores de deficiência, entre outros, estavam entre as 20 milhões de vítimas (6 milhões de judeus). No neonazismo brasileiro são os negros, os indígenas, os nordestinos, os moradores da periferia”, declarou.

“Isso não é e nunca foi brincadeira de adolescente, isso é crime e mata”, destaca o Observatório.

Nota do Colégio na íntegra

No presente momento, com as eleições encerradas, pequenos grupos estão se excedendo, infelizmente, em suas manifestações e atitudes, de forma polarizada e muitas vezes conturbada.

Essa atmosfera repercute nos jovens, lamentavelmente, e causa percalços no ambiente escolar. Chegou ao conhecimento do Colégio que, durante a apuração dos votos da eleição no último domingo, um grupo virtual foi criado por adolescentes, do qual participam alunos do Colégio, e foram postadas mensagens desrespeitosas.

Imediatamente, após cientificada, a escola acolheu os alunos que se sentiram ofendidos bem como seus familiares, comprometendo-se a contribuir para a devida averiguação.

O Colégio repudia qualquer tipo de atitude ou manifestação ofensiva ou discriminatória contra quaisquer pessoas e promove constantes ações pedagógicas, tais como palestras, encontros, mentorias e atividades, que abordam tolerância à diversidade, bem como a questão racial, entre outras posturas não discriminativas, para que os estudantes saibam desde a infância que essas práticas são inadmissíveis.

Comprometidos em construir uma sociedade livre de preconceitos, sabemos que isso se faz coletivamente. Enfrentar o racismo estrutural e a intolerância à diversidade presentes na sociedade é responsabilidade de todos nós como cidadãos, não apenas da escola.

Pedimos encarecidamente a todas as famílias que acompanhem e monitorem as redes sociais de seus filhos, às quais não temos acesso, que os orientem sobre o devido respeito aos povos de todas as raças, bem como às questões relacionadas à diversidade de gênero, classe, religião, orientação sexual ou política, além de explicar-lhes que certas ações são passíveis de sanções legais.

Também pedimos que esse mesmo exercício da tolerância ocorra entre toda a comunidade escolar e que evitem repassar imagens e informações dos menores de idade.

Estamos realizando a devida apuração dos fatos e tomando as medidas cabíveis dentro do âmbito de nossa competência, de acordo com o regimento escolar.

Reforçaremos com os alunos o intransigente posicionamento de nossa instituição secular, por meio de orientações específicas a eles, com mais palestras formativas para conscientizar a todos no que se refere ao exercício da tolerância e à cidadania digital.

A escola é um centro de desenvolvimento da educação e continuará trabalhando incansavelmente para a formação e conscientização de crianças e adolescentes a serviço de um mundo melhor para todos, missão que conta com a participação ativa, vigilante e colaborativa dos pais e responsáveis.

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