Alunas de medicina da USP tentam usar banheiro, sofrem transfobia de professor e registram B.O
As alunas decidiram registrar um boletim de ocorrência por ameaça e injúria racial
Duas estudantes de medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP) estão enfrentando uma batalha contra a transfobia no ambiente acadêmico. Louíse Rodrigues e Silva e Stella Branco, as primeiras alunas transexuais do curso, registraram um boletim de ocorrência contra o professor Jyrson Guilherme Klamt, alegando terem sido alvo de ameaças e ofensas.
As agressões ocorreram no refeitório da universidade, um dia após a instituição implantar o uso livre dos banheiros de acordo com a identidade de gênero. Louíse relata que, durante uma confraternização, o professor se aproximou de forma irônica, debochando da recente mudança e questionando qual banheiro ela utilizaria. O caso foi denunciado pelas duas alunas por meio de uma reportagem no G1.
“Ele perguntou pra mim qual banheiro eu iria usar a partir de agora. Nesse momento eu devolvi perguntando qual banheiro ele achava que eu deveria utilizar. Ele não respondeu e voltou a falar o quão absurdo ele achava pessoas trans usarem o banheiro de acordo com o gênero que se identificam”, relata Louíse.
A situação escalou quando o professor, segundo Louíse, fez ameaças diretas, sugerindo que, se utilizassem o banheiro na presença de sua filha, as estudantes “sairiam de lá mortas”. Stella, ao lado de Louíse, reagiu às ofensas, confrontando o professor, que a teria tratado de forma desrespeitosa e constrangedora.
As alunas decidiram registrar um boletim de ocorrência por ameaça e injúria racial. Vale ressaltar que, em agosto deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu enquadrar atos de homofobia e transfobia como crime de injúria racial, sem direito a fiança e com pena de dois a cinco anos de prisão.
O professor Klamt negou ter agido com transfobia, alegando ter questionado apenas como as estudantes gostariam de ser tratadas. Em nota, a diretoria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) afirmou que adotará procedimentos apuratórios legais e reforçou seu compromisso com “respeito, pertencimento e inclusão”.
No decorrer do ano passado, foram registradas 131 mortes de pessoas trans no Brasil, sendo que 65% dessas mortes foram motivadas por crimes de ódio com requinte de crueldade. Além disso, o país contabilizou 84 tentativas de homicídio. Os dados constam do Dossiê Assassinatos e Violências contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2022, entregue à presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF) pela secretária de Articulação Política da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Bruna Benevides, durante reunião do Observatório dos Direitos Humanos do Poder Judiciário (ODHPJ).
*Com informações do G1