Alto Rio Solimões (AM) concentra ⅔ das mortes entre indígenas por Covid-19
Povo Tikuna revela as estratégias adotadas para impedir a entrada do vírus nas aldeias, “é por meio da união”.
Por Andressa Santa Cruz, da Rede NINJA Ambiental.
Nesta sexta (17), subiu para 27 o número de indígenas infectados pelo novo coronavírus. O estado do Amazonas segue líder, concentrando 96% dos casos e duas das três mortes oficiais: ambas as vítimas eram do Alto Rio Solimões, que abriga mais de 70 mil indígenas e está atrás apenas de Manaus no número de indígenas contaminados.
Até agora, em todo Brasil, a pandemia foi fatal para três indígenas que viviam em aldeias, sendo dois óbitos no Alto Rio Solimões – uma mulher do povo Kokama, 44 anos, e um ancião Tikuna, 78 anos. A região, que fica no sudoeste do Amazonas, também foi a primeira a registrar um caso de Covid-19 entre indígenas – uma mulher do povo Kokama, 20 anos, contraiu a doença após o contato com um médico enviado pelo Ministério da Saúde que estava contaminado. Ela, por sua vez, contagiou três de seus familiares: a mãe, de 39 anos; a filha Yara, de 1 ano e 10 meses; e o primo de quarto grau, de 37 anos, todos do povo Kokama.
Sinésio Tikuna, liderança indígena local relata como a sua comunidade, Vila Betânia, localizada no município de Santo Antônio de Iça onde vivem mais de 3800 Tikunas vem lidando com a pandemia.
“É por meio da união, por meio das nossas associações, com as nossas lideranças escolares, da equipe de saúde, da segurança comunitária que estamos tentando controlar a entrada das pessoas das outras cidades, da outra comunidade, das pessoas estranhas a nossa comunidade”.
Assista o depoimento completo:
Alto Solimões
Atualmente, o Alto Rio Solimões, região onde está localizada a Terra Indígena Betânia, soma 9 indígenas infectados, segundo os dados locais do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI-ARS). Para tratar os primeiros infectados, uma equipe de assistência médica foi enviada de helicóptero já que algumas comunidades ficam até três dias de barco de distância da capital.
Além do difícil acesso como agravante, o número de casos pode ser maior dada a incapacidade nacional de realizar mais testes. Uma nova pesquisa, feita com base em subnotificações por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UNB), aponta que a cada um caso confirmado no Amazonas, há 37 não contabilizados.
“Em trinta dias, nós saímos de 1 caso para 1.049 casos”, relatou a diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS/AM), Rosemary Pinto, em uma coletiva de imprensa online transmitida pelas redes sociais do Governo do Estado essa semana.
Hoje, o Amazonas soma 1.809 casos confirmados e 8% de taxa de letalidade, maior que a média nacional que é 6,4%.
Um dos agravantes, segundo Sinésio, são aqueles indígenas que necessitam ir até a cidade para poder receber seus recursos e relata a estratégia adotada, “Nós indicamos os dois representantes que vão buscar o recurso, o benefício das famílias indígenas daqui da comunidade, para trazer aqui na aldeia, para eles fazerem o pagamento aqui dentro da aldeia.”. Apesar do trabalho feito pelas lideranças locais e educadores, alerta “a gente precisa de mais orientação”.