Apesar dos avanços ao longo dos anos, mulheres ainda enfrentam desafios na modalidade

Foto: Gov.br

Por Grace Ketly Barbosa da S. Lima

Apesar de todas as proibições e tabus, das exclusões e do silêncio, o futebol feminino sobreviveu (e sobrevive), até os dias atuais, em sua melhor forma. Mas nem tudo são flores: sexismo e discriminação, ainda, pairam sobre o esporte.

A Copa do Mundo, em teoria, é  sinônimo de união e amor ao esporte, mas essa ideia não passa de uma fantasia, especialmente, quando se trata do esporte feminino. Mesmo com os avanços entre o Futebol no Brasil, Estados Unidos e outros países, que reivindicam, constantemente, equidade salarial, a desigualdade ainda persiste.

A Fifa, por exemplo, ainda premia quatro vezes mais para os homens (US$440 milhões contra R$110 milhões para as mulheres). Espanha, Inglaterra, Canadá, França e Haiti chegam à Copa do Mundo, rodeadas de protestos contra suas Federações e reivindicando melhores condições de trabalho e salário para suas jogadoras, mas essa não é uma condição em que se encontram, apenas, os países citados.

Espanha e Inglaterra compartilham um descontentamento com os burocratas do futebol. A Federação Inglesa de Futebol está se recusando a dar o bônus de desempenho às jogadoras, além dos pagamentos diretos que a FIFA oferece às atletas, pela primeira vez, no torneio Feminino.

Fora todas essas questões, ainda há, no futebol feminino, o tabu sobre gravidez e menstruação. Um estudo, liderado pelo Dr. Jacky Forsyth e desenvolvido pela  Staffordshire, foi realizado em clubes de futebol feminino de seis países europeus,  e envolveu mais de 1.100 jogadoras, treinadores e dirigentes da base de clubes de elite na Bulgária, Inglaterra, Finlândia, França, Polônia e Espanha. Os dados mostraram que a abordagem dos treinadores sobre o ciclo menstrual foi identificada como difícil para algumas jogadoras, funcionando como uma barreira, já que “o jogo feminino ainda é, predominantemente, treinado por homens” e que “os homens não entendem”. Por causa disso, algumas jogadoras se apoiaram, mantendo isso “entre nós, meninas”, em vez de se aproximarem de seus treinadores.

Além disso, apenas 5% conheciam as políticas do clube sobre gravidez, licença-maternidade, maternidade e responsabilidades de cuidado dos filhos. O co-autor, Dr. Alex Blackett, disse, ao Science Daily: “Essas descobertas lançam uma luz sobre o fato de que o treinamento e a educação do futebol ainda são voltados para os jogos masculinos. O desenvolvimento do futebol feminino parece estar em nível superficial no momento e, por baixo de tudo isso, ainda há muito mais a ser feito.”

Foto: Twitter/MagdalenaEriksson

Em 2022, o Chelsea F.C. Women se tornou o primeiro clube de futebol, do mundo, a adaptar o treinamento aos ciclos menstruais das jogadoras. A gerente feminina da Inglaterra, Sarina Wiegman, introduziu aplicativos de rastreamento menstrual, antes da vitória da equipe no Campeonato Europeu de Futebol Feminino de 2022.

Fora todas essas questões, existem países nos quais as mulheres, ainda, enfrentam restrições parciais ao acesso a estádios de futebol. Em 29 de março de 2022, no Irã, autoridades impediram que mulheres, incluindo aquelas que já haviam comprado ingressos, entrassem no estádio esportivo de Mashhad, na província de Khorasan, para assistir a uma partida das Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA Qatar 2022, entre Irã e Líbano.

Situações como essas desencadearam protestos, inclusive, na Copa do Mundo, em novembro do mesmo ano, quando torcedores do país manifestaram-se a favor dos direitos das mulheres. A proibição em estádios de futebol, como no Irã, é uma questão, profundamente, enraizada, mas o cenário está passando por transformações, principalmente após a Copa do Mundo de 2022, em decorrência dos protestos realizados e da visibilidade mundial do torneio.

Foto: Reuters / Torcedora protesta por direito das mulheres antes de Inglaterra x Irã

Apesar dos obstáculos, a crescente pressão internacional e os esforços incansáveis dos movimentos por igualdade de gênero estão abrindo caminho para mudanças significativas. À medida que mulheres corajosas lutam por seus direitos e pela oportunidade de vivenciar a emoção do futebol ao vivo, uma nova narrativa de inclusão e empoderamento começa a emergir.

A jornada está apenas começando, mas devemos ter em mente que ainda há muito trabalho a ser feito na luta pela igualdade no futebol. As mudanças culturais e sociais levam tempo, mas o progresso está sendo feito e os limites estão sendo ultrapassados. Podemos não ter chegado ao fim, mas estamos indo na direção certa. O futuro do futebol feminino é inclusivo e, juntos, estamos criando um mundo onde o gênero não determina quem experimenta a emoção do jogo.

Fontes: Globo, CNN, Time e Science Daily

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube