Há pouco tempo li uma coluna de Glenn Greenwald onde o jornalista alertava sobre a importância dos partidos do campo progressista desenvolverem um vocabulário mais amplo para falar de violência. O jornalista conta ter sofrido um assalto que durou uma hora e lembra ao leitor que o crime violento nos afeta diretamente na alma.

Em 2018, o candidato da direita trazia o discurso do combate à violência como uma de suas principais bandeiras. Boa parte da sociedade brasileira acredita que bandido bom é bandido morto e Bolsonaro parecia ser a pessoa ideal para matá-los. Foi a partir das revelações nas investigações do assassinato de Marielle Franco que o eleitor brasileiro pôde mensurar o tamanho do envolvimento da família Bolsonaro com criminosos do Rio de Janeiro. Se você ainda carrega alguma dúvida sobre essa relação, sugiro que assista ao vídeo “Bolsonaro Miliciano? Relações da família Bolsonaro com assassinos de Marielle” num youtube perto de você! Em menos de 9 minutos você verá que os danos que essa família deixa ao Brasil são maiores do que você pode imaginar! Nesses dois anos e meio de governo, Bolsonaro não combateu a criminalidade mas revelou ser ele mesmo, a própria.

Operações como a realizada pela polícia civil, no Morro do Jacarezinho, surgem como campanha política para parte desses eleitores e mostra que seu candidato “peita o STF”, que proibiu operações policiais nessas regiões durante a pandemia. Convido vocês a olharem as fotos na lista das pessoas mortas nessa operação. Nela podemos ver algumas crianças e adolescentes. Muitas vezes são pessoas que iriam passar pelo tráfico temporariamente, mais ou menos como os filhos de muitos pais da classe-média passam, só que num tráfico entre alunos de uma escola particular da cidade. Com esses, nada acontece. Sabe por quê? Porque não existe guerra às drogas. Se há, porque não  fazem operação em raves, onde o número de usuários reunidos é muito maior que em qualquer favela? Se há guerra às drogas, a população civil carioca quer saber, depois da chacina que ceifou 28 vidas, quem fornece arma e droga para o Jacarezinho? Onde está o novo chefe do tráfico do Jacarezinho? Afinal quase todo ano os jornais noticiam que foi preso um novo chefe do tráfico do Jacarezinho. Na última operação do dia 6 de Maio, enquanto 28 jovens morriam, o atual chefe do tráfico do Jacarezinho fugiu fantasiado de mulher. Sim. No dia seguinte à morte de Paulo Gustavo, o chefe do tráfico do Jacarezinho escapou da operação mais sanguinária do Rio de Janeiro fantasiado de Dona Hermínia!

Paulo Gustavo era o que o Brasil tem de mais vital! Uma explosão de talento, carisma e brilhantismo. Suas personagens comunicavam a todos. Paulo era muito rápido e, numa decisão que envolvesse salvar vidas, teria sido o primeiro a responder a carta da Pfeizer , como foi o primeiro a transferir meio milhão de reais para comprar oxigênio para Manaus.

Na cidade onde o governo fez a população de cobaia, num projeto necrófilo de “imunidade de rebanho”;  Paulo comprou galões de oxigênio.

Paulo Gustavo é a antítese de Bolsonaro!

Parte da população criticou a comoção que a morte de Paulo Gustavo causou, comparou com outros casos tristes da semana, talvez pelo ator sempre ter sido claramente contra esse governo.

O Brasil se sentia próximo de Paulo Gustavo. Empatia não se impõe, se cria. Quem não tinha perdido nenhum conhecido na pandemia até então, agora sentia uma perda.

A morte de Paulo Gustavo escancarou o que já estava na cara! Essas pessoas que estão morrendo poderiam ter tido suas vidas poupadas caso tivéssemos conseguido eleger outra pessoa em 2018!

Poucos dias depois da morte de Paulo Gustavo, Bolsonaro surge nas pesquisas com a maior rejeição de sua sangrenta história! A CPI da covid começa seus depoimentos no dia da morte do ator e revela a série de crimes cometidos por esse governo, crimes que jamais seriam conhecidos pelos eleitores de 2022; artistas que até então não estavam se manifestando politicamente, agora falam com veemência contra o governo; a denúncia contra Bolsonaro no Tribunal Internacional de Haia avança; Ricardo Salles terá  que responder à “cpi do desmatamento”; Olavo de Carvalho perde na justiça pela segunda vez e terá que pagar 2,9 milhões a Caetano Veloso; Carlos Bolsonaro perde na  Justiça e investigação contra Felipe Neto é suspensa; IAB pede responsabilização criminal de Sergio Moro em julgamento de Lula; ONU pede investigação independente para a chacina no Jacarezinho e hoje, todas as pesquisas mostram Lula em primeiro lugar nas eleições de 2022 e Boulos aparece em primeiro lugar para governador de São Paulo.

Sabemos que ainda há dificuldades por vir. Lula precisa proteger sua vida porque golpes na história foram dados a partir do assassinato ou suicídio de líderes populares. O estrago  que o fascismo faz é imensurável, deixa uma terra sem universidades, sem arte, a fome, mata a vida de muita gente brilhante. Acreditar que  “cada um tem sua Hora” é também acreditar que o povo preto e favelado tem sempre sua hora antecipada por Deus.

Me lembro agora de uma frase da filósofa Judith Butler que diz que a melhor forma de combater o fascismo é quando ele está no poder.

Não há dúvidas que o capitão figurará nos livros de história como um genocida e que a partir de seus netos, o sobrenome “Bolsonaro” será banido das certidões de nascimento da família, assim como a família de Hitler fez com esse sobrenome. Baniu oficialmente da face da Terra.

São as consequências que as mortes de Marielle Franco e Paulo Gustavo vêm causando que estão trazendo a luz a estes tempos sombrios, até finalmente chegarmos à primavera.

 

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