Vencedora da Bola de Ouro, a meio-campista espanhola tem construído um legado para além das quatro linhas.

 

Foto: William West/AFP

 

Por Mariana Walsh

A Bola de Ouro é apenas mais um prêmio para a extensa lista de conquistas de Aitana Bonmatí. A jogadora, que acabou de se consagrar campeã da Copa do Mundo em julho deste ano, possui diversos títulos em seu currículo. Como a mesma já afirmou diversas vezes, todo ano o seu objetivo é o mesmo: ganhar tudo. Com apenas 25 anos, assim fez na última temporada. E para além do topo no futebol, tal ambição também impulsionou seu desejo de fazer do mundo um lugar melhor. 

Nascida na Catalunha, Aitana foi mais uma dentre as inúmeras crianças da região inspiradas pelo futebol. Com oito anos, brincava de chutar uma bola feita de papel alumínio na sala de casa com seu pai. No pátio de sua escola, jogava com meninos e, apesar de seu porte franzino e das duras pancadas que levava, não se intimidava. Pelo contrário, na maioria das vezes, ganhava. 

Aos treze anos, recebeu um convite para jogar nas categorias de base do Barcelona, seu time do coração. De lá para cá, tornou-se um dos pilares da equipe catalã. Na temporada 2022/2023, a meio-campista foi fundamental para as conquistas do Campeonato Espanhol, Supercopa da Espanha e Champions League. Foram 37 jogos, 17 gols e 21 assistências com a camisa azul e grená.

Parte da seleção espanhola desde as categorias de base, estreou no time principal em 2017. Durante a Copa do Mundo de 2023, viveu o auge de sua carreira com a camisa da La Roja. Com atuações memoráveis, Aitana comandou sua equipe rumo ao título mundial, sendo inclusive eleita a melhor jogadora do torneio. Seu talento com a bola nos pés cativou até Pep Guardiola, um de seus ídolos. Em uma coletiva de imprensa, o atual técnico do Manchester City se disse “completamente apaixonado” pela sua forma de jogar

Para além dos campos, Aitana também se destaca na luta por igualdade, algo que aprendeu desde muito cedo. Quando nasceu, seus pais não concordavam com uma lei existente na época que determinava que o sobrenome do pai deveria ser o primeiro, e o da mãe o segundo. Eles lutaram para mudar essa regra, e conseguiram. Por isso, o nome Bonmatí que a jogadora carrega em sua camisa, foi herdado de sua mãe. Ao jornal El País, declarou:

“Sempre me preocupei com os mais vulneráveis. Faço isso porque sinto. Está no DNA da minha família, porque meus pais sempre lutaram muito contra as desigualdades sociais e de gênero. Creio que vivemos numa sociedade sexista, ainda que as coisas vão mudando. Mas há muito por fazer.”

Logo, quando se fala em mudar a realidade do futebol feminino, Aitana tem uma voz ativa. Em 2022, junto com outras 15 companheiras, escreveu uma carta à Federação Espanhola de Futebol pedindo por melhorias e alegando que não estaria disponível para ser convocada enquanto mudanças não fossem feitas. Aceitou voltar ao time para a disputa da Copa do Mundo, mas logo após a conquista do título mundial, ela e as demais jogadoras deram início ao movimento Se Acabó, que tem revolucionado a modalidade no país.

Além disso, desde o ano passado, a jogadora também exerce o papel de embaixadora da Agência das Nações Unidas para Refugiados na Espanha, a ACNUR. Eles organizam treinamentos de futebol para mulheres refugiadas em Barcelona, com o intuito de ajudá-las a se integrar. Aitana sabe do papel que possui para além dos campos, e o exerce de forma admirável. Ao receber a Bola de Ouro, na noite da última segunda feira, discursou:

“Como modelos a seguir, temos uma responsabilidade dentro e fora de campo. Devemos ser mais do que atletas. Continuem liderando pelo exemplo e lutem juntos por um mundo melhor, pacífico e igualitário.” 

Seja dentro ou fora das quatro linhas, a jogadora espanhola tem um compromisso com o futuro. Com apenas 25 anos, quer seguir conquistando títulos ao mesmo tempo que busca fazer a diferença na construção por um mundo melhor. Se quando começou a jogar, suas referências eram Xavi e Iniesta, porque não haviam exemplos femininos, hoje Aitana é quem inspira as novas gerações.