Ada Hegerberg, estrela da Noruega e primeira Bola de Ouro, recusou-se a jogar, pela seleção, por 5 anos
Atleta não concordava com as condições de trabalho, oferecidas pela Federação Norueguesa, à equipe feminina
Atleta não concordava com as condições de trabalho, oferecidas pela Federação Norueguesa, à equipe feminina
Por Morgana e Sarah Américo
Ada Hegerberg pode ser considerada como uma das melhores jogadoras de futebol da atualidade. A norueguesa coleciona títulos e, aos 23 anos, foi a primeira atleta a receber o troféu Bola de Ouro Feminina, em 2018. Ao todo, em sua carreira, ganhou seis títulos na Champions League (competição na qual é a maior artilheira, com 59 gols), foi oito vezes campeã francesa, além de conquistar seis Copas da França e duas Supercopas.
O que muitos não sabem é que essa jogadora, de apenas 28 anos, e que, atualmente, defende o Lyon, da França, se recusou, por cinco anos, a defender a seleção da Noruega. Ela só voltou à equipe em abril de 2022. A razão que a fez tomar essa decisão e deixar de disputar a Copa de 2019, no auge da sua carreira, foi seu posicionamento contra a Federação Norueguesa de Futebol: Hegerberg não aceitava as condições de trabalho oferecidas à equipe feminina.
A atacante afastou-se, em 2017, logo após disputar a Euro, campeonato no qual foi a artilheira, com dez gols. Na época, ela chegou a declarar, ao jornal norueguês Morgenbladet e à revista de futebol Josimar, que estava, mentalmente, ‘quebrada’. “Eu tive pesadelos depois de estar com a seleção, você não deveria ter coisas assim. Se você quer chegar a algum lugar na vida, você tem que fazer escolhas”, disse, na entrevista. “Imediatamente, o pensamento me veio à mente – ‘Acho que vou ter que parar de jogar pela seleção’. Então, tudo acabou e eu comecei a dormir bem de novo”, acrescentou.
Ver essa foto no Instagram
Em seu instagram, ela comentou sobre sua escolha e como estava sendo difícil. “A decisão de fazer uma pausa da seleção tem sido difícil, mas é bem ponderada. A decisão não é apenas uma consequência do Campeonato Europeu deste ano, mas baseia-se nas minhas experiências com as seleções ao longo de muito tempo”, escreveu. “Na minha opinião, se a seleção quiser atingir os objetivos e resultados que a seleção definiu para si, será exigido em várias áreas, tanto no planejamento, como na fase de implementação, como no acompanhamento. Além disso, há muito a fazer em termos de comunicação e diálogo. Acredito que tentei influenciar essas áreas de uma forma construtiva onde posso ter uma voz”, continuou. “Senti orgulho de jogar na seleção, mas do jeito que as coisas estão não tenho motivação para continuar agora. Desejo aos meus colegas da seleção tudo de bom e bons resultados nas eliminatórias pela frente”, finalizou.
Em 2019, após perder sua principal estrela, a associação norueguesa concordou em dobrar o pote de remuneração para mulheres de 3,1 milhões de coroas norueguesas para 6 milhões de coroas. Mesmo com essa mudança, a atacante continuou firme em sua decisão, até o ano passado. Em março de 2022, quando foi questionada sobre seu retorno, ela declarou aos jornalistas: “Eu amo o futebol e eu quero jogar futebol. Eu tomei uma decisão em 2017 que eu mantive. Mas tive muito tempo para refletir nos últimos dois anos, em muitos aspectos. Fui capaz de ter muitas discussões honestas com a Federação, por meio da Lise Klaveness, Presidente da Associação Norueguesa de Futebol. Estou feliz em estar apta a voltar com o time e começar uma nova história”, disse.
Ao chegar à Nova Zelândia, em entrevista aos jornalistas, a jogadora defendeu a decisão de outras seleções que queriam boicotar a Copa e se disse feliz por ver essa movimentação. “Fico feliz em ver que as pessoas estão começando a entender por que essas jogadoras estão tomando essas decisões. Eu estava muito sozinha na minha decisão, lá, em 2017, e isso não é algo que eu digo por pena de mim mesma, é assim que era naquela época”, declarou. “Hoje, você vê que há muitas, muitas nacionalidades diferentes que lutam com os mesmos desafios e que são forçadas a apenas se posicionar, e tenho muito respeito por isso. Eu gostaria que não fosse assim”, acrescentou.
Ver essa foto no Instagram
“Não estamos nem falando de igualdade salarial aqui, estamos falando de condições mínimas para sentir que você está sendo levada a sério e para que você possa, realmente, ter um desempenho no nível que deseja e precisa”, continuou a atleta, que defendeu que essas situações não vão mudar sem que as mulheres se levantem. “Temos que nos unir e garantir um bom desempenho, porque sem desempenho também é difícil fazer mudanças”, disse a atacante.
Apesar de vencer a anfitriã, por 1 a 0, no jogo de abertura da Copa do Mundo Feminina 2023, a Noruega perdeu da Nova Zelândia, pelo mesmo placar, no ano passado. Contra o Kosovo, na partida que marcou seu retorno à seleção, a atleta fez três dos cinco gols que deram a vitória à Seleção Norueguesa.
Entre 2020 e 2021, Hergerberg teve uma lesão séria no joelho e passou por um dos piores momentos de sua carreira. Rompeu o ligamento cruzado anterior e precisou ficar afastada dos gramados por mais de 20 meses, retornando aos campos, somente, em outubro de 2021.
Mesmo tendo se ausentado por cinco anos, ela tem um bom retrospecto na Seleção da Noruega. A atacante foi vice-campeã europeia, em 2013, mesmo ano em que estreou pela seleção. Já em 2015, foi eleita a melhor jogadora jovem da Copa do Mundo. Para este ano, ela busca levar a Noruega ao bicampeonato – elas foram campeãs em 1995, mesmo ano em que Hergerberg nasceu.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube