Além dos casos trazidos na Parte 1 dessa série, a seleção estreante no Mundial também sofreu constantes abusos

Foto:Alexandre Schneider/Getty Images

Por Gabriela Nascimento e Rodrígo Olivêira

Além dos casos trazidos na Parte 1 dessa série, outro que ocorreu e teve pouca repercussão diz respeito a uma seleção que jogou, pela primeira vez, uma Copa do Mundo Feminina de Futebol: o Haiti.

Em 2020, o jornal britânico The Guardian denunciou o então Presidente da Federação Haitiana de Futebol, Yves Jean-Bart, conhecido como Dadou. Ele, que estava à frente da presidência desde 2000, praticou abusos sexuais contra as jogadoras (inclusive menores de idade) nos cinco últimos anos em que esteve à frente na presidência.

De acordo com a denúncia, o abuso era sistêmico e feito não somente por Dadou, mas também por outros dirigentes da cúpula do futebol haitiano.

Os abusos sexuais ocorriam dentro do centro de treinamento da federação. Sob anonimato, uma vítima contou que o presidente identificava as meninas por quem tinha interesse e as ameaçava de expulsão.

Para evitar a punição, tinham que procurar, pessoalmente, Dadou. A sós, com as meninas, ele praticava o abuso. O dirigente chegou, até mesmo, a engravidar uma menor de 14 anos. Embora o aborto seja proibido no Haiti, foram os funcionários da federação que a levaram para fazer o procedimento.

Logo após a publicação da matéria feita pelo jornal inglês, a FIFA suspendeu Dadou por seis meses, enquanto seu comitê de ética apurava o caso. Com o relatório em mãos, concluiu-se que o comportamento do dirigente era “simplesmente indesculpável, uma desgraça”.

Em novembro de 2020, a FIFA o proibiu, para sempre, de exercer qualquer cargo ou atividade relacionada ao futebol, além de puni-lo com uma multa de 1 milhão de francos suíços (R$5,5 milhões).

OUTROS CASOS

Há casos, no futebol feminino, em que as mulheres têm que conviver com má conduta por parte do corpo técnico de diferentes clubes. As denúncias aconteceram de 2021 até os dias atuais.

Um dos casos de maior repercussão surgiu em uma reportagem, no jornal americano Washington Post, na qual o ex-gerente do Washington Spirit, Richie Burke, estava sendo acusado de assédio moral e de ameaças contra as jogadoras. 

Foto: Getty Images

Outro caso aconteceu no time Venezuela: 24 jogadoras de futebol fizeram uma série de denúncias contra Kenneth Zseremeta, que era o técnico da seleção de base, na época. A partir dessas denúncias, muitas outras vieram à tona. Os assédios aconteciam por mensagens, telefonemas ou convites inadequados. 

Foto: The Grosby Group

Em um documento feito pelas jogadoras do time Venezuelano, Deyna Castellanos afirma que a comissão técnica apoiava e tinha conhecimento do que estava acontecendo no clube. 

O documento traz relatos como: “As insinuações sexuais eram temas do dia-a-dia, assim como os comentários sobre a atratividade física de muitas de nossas jogadoras.”, além disso, Deyna contou que “no ano passado, uma das nossas companheiras de equipe nos confessou que era abusada sexualmente, desde os 14 anos, pelo treinador”.

Na seleção brasileira, o ex-presidente Rogério Caboclo foi afastado após denúncias de assédio moral e sexual. A Comissão de Ética enviou a ordem à diretoria da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), para que o ex-presidente fosse, temporariamente, afastado do cargo e pudesse se defender das acusações feitas por uma funcionária da CBF.

Foto: Norberto Duarte / AFP

A seleção fez um manifesto que foi assinado por todas as jogadoras e divulgado em suas redes sociais.

Manifesto divulgo nos perfis oficiais da CBF — Foto: Reprodução

“Foi uma decisão em conjunto, a gente tem uma comissão que é muito alinhada com as atletas, liderada por Pia Sundhage, então a gente resolveu mostrar a nossa opinião nesse sentido. Somos, obviamente, contra qualquer tipo de assédio. Sem fazer pré-julgamentos, os fatos estão aí para serem apurados, mas a gente necessitava mostrar nossa posição”, disse Marta, antes da condenação de 21 meses de afastamento imposta ao dirigente.

O manifesto, que era uma espécie de carta aos brasileiros, consistia em apresentar as ações do ex-presidente. Além disso, a seleção feminina evidenciou o seu repúdio por qualquer tipo de violência. O manifesto mencionava a coragem para realizar uma denúncia, a luta pelo respeito e igualdade, e afirmava que o combate contra o assédio ia além dos gramados.

Fonte: Copa Além da Copa da Folha de Pernambuco

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube