Após graves denúncias de assédio sexual e moral contra indígenas e servidoras públicas da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) indígenas Kaingang entraram em conflito entre si por cooptação governamental de agentes públicos envolvidos na denúncia, nesta quinta-feira (6). Um grupo teria ido até a sede do Pólo Base do Distrito Sanitário Indígena (Disei) Interior Sul, ocupado em Passo Fundo, e agredido mulheres que realizaram a denúncia de assédios sexuais sofridos por parte dos servidores do Disei e coordenadores. Lideranças que pedem a saída dos coordenadores — indicados do governo Temer e bancada ruralista — denunciam cooptação de líderes em troca de cargos e vantagens para colocar indígenas contra indígenas. A Policia Federal está no local e registrou ocorrência. Outro grupo estaria a caminho da sede do Disei em Santa Catarina, e há risco de novo conflito.

A manhã de quinta-feira começou tensa com a chegada de mais indígenas à sede do Pólo Disei Interior Sul em Passo Fundo, que estava ocupada por indígenas das etnias Kaingang. Segundo o líder Kretan Kaingang, a ação teria partido de lideranças de algumas aldeias cooptadas por agentes políticos ligados aos ruralistas e servidores públicos denunciados pelos assédios, que teriam influenciado tais indígenas por meio da cooptação oferecendo cargos nos postos e recursos para a manutenção dos atuais coordenadores denunciados em processos administrativos por assédio sexual e moral a servidoras e indígenas.

“O espancamento das vítimas que estavam no Disei em Passo Fundo por outros indígenas é a demonstração de que essa coordenação perdeu completamente o respeito pelo povo a quem deveriam proteger e atender. Colocar indígenas contra indígenas é o mais claro sinal de violação de direitos fundamentais da pessoa humana. Essa gestão dos Disei acabou”, afirma o líder Kretan Kaingang que esteve em Brasília acompanhado de mulheres e líderes Kaingang denunciando às autoridades os atentados. Eles fizeram denúncia formal à Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa e à Procuradoria da Mulher do Senado e ainda à Procuradoria Geral da República por omissão do Ministerio da Saúde e a Sesai na apuração dos fatos.

Segundo informações dos denunciantes, três outros ônibus com guerreiros influenciados pelos coordenadores denunciados seguem para a sede do Disei Interior Sul ocupada em Santa Catarina. Líderes dos povos Kaingang, Xokleng e Guarani M’Bya temem que possa haver um massacre.

Kaingangs protestam em Brasília contra o assédio de Gaspar. Foto: Vinícius Borba