Abandono: Com a invasão do garimpo e sem assistência de saúde, Yanomami sofrem com desnutrição aguda
Novas imagens divulgadas nesta sexta-feira trazem mais um alerta para a situação dos Yanomami: crise humanitária
Novas imagens de Yanomami em situação dramática repercutiram nesta sexta-feira (09). Elas revelam moradores da comunidade Kataroa acometidos por desnutrição aguda grave. Kataroa fica na região de Surucucu, no município de Alto Alegre, norte de Roraima.
A crise sanitária resulta da combinação fatal da invasão garimpeira, descaso do governo federal e casos de corrupção, com desvio de recursos da saúde indígena. A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
Em novembro, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) realizaram uma operação contra uma fraude na compra de remédios destinados ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). Entre os alvos da operação Yoasi estão empresários e servidores do Distrito de Saúde Indígena Yanomami (Dsei-Y), órgão do Ministério da Saúde responsável pela saúde indígena Yanomami.
De acordo com as investigações, o esquema criminoso deixou pelo menos 10 mil crianças indígenas sem medicamentos. E são justamente as crianças, as que mais sofrem com a falta de assistência de saúde.
O flagrante mostra ao menos 17 crianças com desnutrição aguda, além de outras doenças infecciosas, segundo divulgado pelo presidente da Urihi, Júnior Hekurari Yanomami, que também é chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY).
“O agravo da invasão garimpeira, doenças infecciosas e a desassistência do Dsei aumentam a insegurança da população, resultando em níveis catastróficos de desnutrição”, publicou a Urihi numa rede social.
À GloboNews, que repercutiu as novas imagens, o advogado do Conselho Indígena de Roraima (CIRR), Ivo Cípio, afirmou que as crianças estão sem assistência médica e sem o acompanhamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). O CIRR acompanha a situação.
“Cada dia que passa a situação piora, né? São praticamente 10 mil crianças yanomami sem assistência médica, sem acompanhamento da Sesai por falta de recurso, por falta de equipe médica em área”, ressaltou à Globo News.
O Ministério Público Federal (MPF), solicitou que a denúncia seja encaminhada para a procuradoria acompanhe o caso. À reportagem, o procurador Alisson Marugal destacou:
“Desde o ano passado vislumbramos muito claramente uma crise humanitária não só pela atividade de mineração ilegal, mas também, mas também pela falta de gestão da saúde Yanomami”.
Unidade básica de saúde incendiada
A situação de precariedade do sistema de saúde é grave. Na terça-feira (06), outro fato aumentou o alerta para o território. A Unidade Básica de Saúde Indígena de Homoxi (UBSI), na região de Homoxi, foi incendiada.
O vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa denunciou: “Os garimpeiros queimaram o nosso posto de saúde Yanomami na região do Homoxi!”.
A Urihi também se manifestou, ressaltando que o ato partiu de garimpeiros ilegais que ocupam o território. A suspeita da Urihi é que o incêndio ocorreu em retaliação à operação Guardiões do Bioma, do Ibama, com participação da Polícia Federal, que combate a extração ilegal de minérios e outros crimes ambientais na Terra Indígena. A fiscalização está em curso e já queimou aviões usados por garimpeiros.
Na segunda-feira (5), fiscais estiveram na região de Homoxi e destruíram equipamentos de garimpeiros. Após isso, o posto de saúde foi incendiado, conforme a associação. Ao menos 700 Yanomami dependem da unidade.
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