Por Alex Fravoline, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

A imprevisibilidade da aposentadoria é um capítulo que muitos atletas passam na vida. A incerteza da última vez que entrará em uma quadra ou no campo vai além do medo: é uma linha tênue entre a carreira e a vida profissional do esportista.

Antes mesmo dos Jogos Olímpicos de Paris começarem, já havia uma lista de nomes cotados para uma possível última aparição no evento, incluindo nomes de gigantes, famosos, conhecidos e medalhistas, que deixarão um inesquecível legado, alguns jogadores já deixaram claro sua saída das seleções, enquanto outros, já possuem anúncio feito, ainda sem data. Cada atleta possui suas razões para encerrar a carreira olímpica após Paris 2024. E muitos desses motivos são bastante pessoais e variados. 

Nomes brasileiros que deram sinais ou foram mencionados pela mídia:

Marta

Paris 2024 foi a sexta participação de Marta em Jogos Olímpicos. Foto: Livia Villas Boas/ CBF

Nossa lista é encabeçada pela gigante do futebol feminino brasileiro, que anunciou sua aposentadoria este ano. Marta, a nossa eterna camisa 10, anunciou em abril que Paris 2024 seria sua última Olimpíada como jogadora e que a partir do ano seguinte, não “teria mais Marta.”

Em entrevista, afirmou: “Este é o meu último ano, e eu já posso confirmar aqui. Tem um momento em que a gente tem que entender que chegou a hora. Estou muito tranquila com relação a isso, porque vejo com muito otimismo esse desenvolvimento que a gente está tendo com relação às atletas jovens”.

Apesar de estar bem convicta da atitude, Marta deixou uma possibilidade aberta de repensar na aposentadoria, na véspera do amistoso contra a Jamaica, em junho. O Brasil sediando a próxima edição da Copa do Mundo pode ter mexido com a jogadora, que vive pelo futebol: “Se eu não estiver em campo, vou estar aqui no Brasil, jogando com elas de qualquer maneira. Porque sempre sonhei em jogar uma Copa do Mundo aqui no Brasil”, declarou.

Nas Olimpíadas, viveu o drama de ser expulsa em campo, por acertar a jogadora espanhola Olga Carmona na cabeça durante um ataque na partida do dia 31, sancionada com uma suspensão de duas partidas.

Pela seleção brasileira, Marta acumula como principais conquistas as medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003, e do Rio de Janeiro, em 2007, e três edições de Copa América, em 2003, 2010 e 2018. Conhecida como a maior artilheira em Copas do Mundo, Marta fez sua estreia olímpica nos Jogos de Atenas em 2004, onde conquistou a medalha de prata.

Thaísa

Foto: Volleyball World

A bicampeã olímpica do vôlei já fala em aposentadoria há, pelo menos, cinco anos. A angústia do tratamento da lesão grave no joelho esquerdo e a intensidade para retomar o alto rendimento em quadra foram motivos que pesaram na carreira de Thaísa. O objetivo principal da central é alongar a carreira como atleta. 

“Quero jogar por mais tempo, o máximo que eu puder. Com o ritmo de seleção, o tempo útil do meu joelho diminuirá em muitos anos, é uma pegada forte”, explicou. A jogadora voltou às quadras com o Minas Tênis Clube.

Passados dois anos, o título da Superliga de vôlei chegou, e com ele, uma declaração oficial e despedida das quadras. Em uma postagem, a razão principal do encerramento com a seleção se dá pela alta exigência física e mental. Somados dois anos depois, em 2023, Thaísa anuncia o retorno à seleção brasileira feminina de vôlei na Liga das Nações, afirmando que os jogos de Paris eram sua meta: 

“Entendi que meu corpo aguentaria continuar após a Superliga. Demorei um pouco, uns dois anos, para o meu corpo entender o processo pós-cirurgia e para eu conseguir terminar bem a temporada”.

Dado o histórico da atleta, um novo anúncio da aposentadoria pode chegar a qualquer momento. Mas, por enquanto, nenhum indício. Somente sua celebração com a equipe de vôlei pelas vitórias conquistadas em Paris. 

Bruninho

Bruninho em Paris 2024 | Foto: Alexandre Loureiro/COB

O levantador titular da seleção de vôlei do Brasil deixou a imprensa com a “pulga atrás da orelha” em uma postagem no Instagram após a derrota para os Estados Unidos nas quartas de final, no último dia 5. O desabafo veio como uma dica de um possível futuro fora das quadras cada vez mais próximo.

Capitão da seleção afirmou em seu post: “Lutei com todas as minhas forças. Todos esses anos, 18 anos, o meu maior orgulho sempre foi vestir essa camiseta e representar o meu país. Nem nos meus melhores sonhos, imaginei poder disputar 5 Olimpíadas, conquistar 3 medalhas olímpicas, e todos os títulos possíveis pela seleção”. E finalizou: “Falhei, chorei e caí várias vezes, inclusive agora. Fui sempre meu maior crítico e talvez por isso eu tenha entendido que a única maneira de enfrentar isso era trabalhando ainda mais para me tornar a cada dia a minha melhor versão”.

Bruno fez sua estreia na seleção brasileira em 2006, na Liga Mundial. Tornou-se titular em 2009, empilhou troféus de Liga Mundial, Copa do Mundo, Pan-Americano, Campeonato Mundial e Sul-Americano. Em 2016, viveu um dos maiores momentos de sua carreira, quando foi campeão olímpico nas Olimpíadas do Rio. Bruninho também foi eleito o melhor levantador dos Jogos de 2016 na capital carioca.

Lucão

Foto: Divulgação/FIVB

Assim como Bruninho, Lucão é outra peça brilhante da seleção de vôlei masculino que planeja dar adeus ao uniforme amarelo. O jogador afirmou que a decisão passa pelo desejo de ficar mais tempo com a família. No retorno ao Brasil, o central se apresentará no Barro Preto, em Belo Horizonte (MG), para a temporada com o Sada Cruzeiro. 

“São 19 anos sem férias, oito anos sem participar de um aniversário do meu filho, sem estar presente em casa. Tem uma geração nova chegando com força, que vai ter que ralar bastante. Infelizmente, eles pegaram o voleibol com o maior nível de igualdade de todos os tempos. A gente vai torcer bastante, vai acompanhar bastante, o que puder ajudar, a gente vai ajudar”, disse.

Leal

Naturalizado brasileiro, o ponteiro Leal se despede de cabeça erguida da seleção | Foto: Divulgação/Sada Cruzeiro

A Seleção Brasileira de vôlei ganhou mais uma surpresa ao ver o anúncio da aposentadoria de Yoandy Leal, após a eliminação do país nos jogos. O atleta de 35 anos nasceu em Havana, Cuba, e obteve a cidadania brasileira em 2019, ano em que começou a representar o Brasil nas competições.

Em sua postagem de despedida, Leal relembrou o processo de naturalização e a recente derrota em Paris. “Quero começar dizendo que amo o Brasil. Escolhi esse país para vestir a camisa e fiz isso com amor e muita dedicação desde 2019”, relatou. O jogador destacou o momento em que defendeu a seleção, comemorando as vitórias que conquistou com o time. Mencionou ainda que, mesmo não conseguindo a tão desejada medalha olímpica, se sente satisfeito com a sua entrega e dedicação ao esporte. Leal também relata que sai de cabeça erguida por ter se entregue por inteiro: 

“Nesse período com a seleção do Brasil, tivemos títulos, medalhas importantes e vivemos ótimos momentos! Fui muito feliz! Obrigado, seleção brasileira. Boa sorte a todos que vão seguir com essa história linda que tem a seleção brasileira de vôlei. Vou estar sempre torcendo por vocês!”, completou.

Leal joga vôlei desde 2006, começando sua carreira no time cubano Leones de La Habana. Após isso, passou por clubes de diversos países, como Itália, Catar e Brasil, possuindo passagem pelo Cruzeiro duas vezes. Com a Seleção Brasileira, Leal venceu importantes competições como o Sul-Americano de 2019, a Copa do Mundo de 2019 e a Liga das Nações de 2021. Além do Brasil, Leal também atuou pela seleção cubana.