A trajetória de superação de Kerolin Nicoli até a sua primeira Olimpíada
Com a descoberta de uma infecção na infância, Kerolin superou as adversidades ambicionando chegar aos grandes palcos do futebol mundial
Por Lara Musa
Imagina receber a notícia que não poderia mais fazer algo que ama? Com apenas 11 anos, Kerolin teve que lidar com essa situação, ser forte e superar as adversidades acreditando que um dia chegaria aos grandes palcos do futebol mundial.
A atleta nasceu em Bauru, mas logo mudou-se com a mãe para Campinas, onde sua história no futebol começou. Quando criança, sentiu uma dor na perna direita, precisou ser internada, e assim descobriu uma osteomielite, uma infecção no osso.
Foi aconselhada a parar de praticar esportes de contato, pois mesmo após a cirurgia os médicos não sabiam se ela iria conseguir voltar. Com isso, Kerolin estaria deixando de lado o que mais amava, sendo que o único momento que cogitou abandonar o futebol foi quando seu médico contou que existia a possibilidade dela ter sua perna amputada.
“A rotina era só hospital, eu fiquei internada, passei por uma cirurgia e eles tiraram um pedaço do meu osso. Ao mesmo tempo que passava muito rápido, passava muito devagar, porque quando eu vi já tinham passados três meses de internação e neles, eu só via a minha mãe”, disse a atleta, em entrevista ao Band Esporte Clube.
Mas ela nunca desistiu, voltou aos poucos a chutar a bola, em um ritmo mais leve e acompanhada de colegas, na intenção de ir recuperando sua força e habilidade, e com isso, sua perna foi melhorando e voltando para aquilo que nasceu para fazer.
Sua carreira começou em Valinhos, uma das grandes bases do país e ela era uma das jovens promissoras do projeto. Passou pelos dois clubes de Campinas, Guarani em 2016 e Ponte Preta em 2017, sendo eleita a melhor jogadora do Campeonato Paulista. Foi emprestada ao Corinthians/Audax em 2017, para jogar a Libertadores, sendo campeã com somente 17 anos.
Em 2018, marcou 14 gols em 35 jogos pela Ponte Preta, se tornando a “Revelação” do Campeonato Brasileiro daquele ano. Sua boa atuação foi alvo do interesse de clubes brasileiros e estrangeiros, como da França e China.
Com a separação da parceria Corinthians/Audax, o clube de Osasco ficou com a vaga para a Libertadores, mas sem um time montado para competir. Assim, o Audax firmou uma parceria com o Valinhos para que suas atletas representassem a equipe.
Com a exigência da CONMEBOL dos times participantes da Libertadores terem equipes profissionais femininas, o Palmeiras correu atrás de montar um time. Assim, firmou uma parceria com o Valinhos, concordando em financiar o salário das jogadoras e funcionários do clube, que usaram o nome da Sociedade Esportiva Palmeiras, mas continuaram treinando na cidade do interior. Em 2019, Kerolin acertou a transferência para o clube.
Um mês após sua ida ao clube alviverde, foi anunciado que Kerolin havia sido pega em um teste antidoping, realizado na época que jogou a Libertadores pelo Audax, em 2018. O exame indicou a presença da substância GW1516, e probenecida, que aumenta os músculos de resistência e auxilia na queima de gordura. A jogadora revelou que durante a disputa pela Copa Libertadores, em Manaus, recebeu de um médico algumas vitaminas para prevenir diarreia, quando chegou a notificação do doping ficou sem entender o que estava acontecendo.
“Foi um momento muito difícil e de solidão. Passavam várias coisas na minha cabeça. Não conseguia jogar futebol, ia para outros esportes e nem assistir como era a minha vida antes disso, não conseguia”, disse a jogadora para o Band Esporte.
Com seu nome na pré-lista da Copa do Mundo da França em 2019, Kerolin se viu ficando de fora da realização de um sonho. Suspensa por dois anos do futebol, recebeu uma ajuda especial em sua volta, de ninguém menos que a Rainha Marta. Em 2021, voltou da suspensão, e mesmo sem clube foi convocada para dois amistosos contra a Argentina.
A atleta então descobriu que sua inspiração havia sido peça fundamental para seu retorno à seleção, pois a camisa 10 confessou à jogadora que pediu à Pia Sundhage, técnica na época, que olhasse com carinho e atenção para Kerolin, e a considerasse.
Essa atitude deu a Kerolin um novo recomeço, e foi na seleção brasileira que encontrou refúgio para recuperar seu amor por aquilo que nasceu para praticar. Brilhou nos gramados e se tornou uma atleta de confiança da treinadora.
Logo seguiu para o futebol internacional, chegando ao Madrid CF em 2021, mas desde 2022 joga na liga americana, pelo North Carolina Courage.
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Em maio, a jogadora esteve presente em um evento das estrelas da Nike, ao lado de grandes nomes do esporte mundial, como Serena Williams, Sam Kerr e a nossa fadinha, Rayssa Leal. Ela ainda destaca admiração por Rayssa, e diz que a atleta é um exemplo sobre “manter os pés no chão” e continuar trabalhando na busca por mais conquistas.
Ao ser convocada para a Copa do Mundo em 2023, a sua primeira, Kerolin escreveu em suas redes: “Sonhos foram feitos para sonhar e realizar”. E assim, Kerolin segue realizando sonhos.
Hoje, a garotinha que quase teve sua perna amputada e uma carreira impedida, está em sua primeira Olimpíada.