Por Carolina Borin, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024


Fernanda Yara, atleta paraense nascida em Curionópolis, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de Paris na prova dos 400m da classe T47 (para atletas com comprometimento em um dos membros superiores, afetando o ombro, cotovelo ou pulso). Ela registrou o tempo de 56s74, o melhor de sua carreira. Esta é sua terceira participação nos Jogos Paralímpicos. Após um intervalo de 13 anos desde Pequim 2008, Fernanda terminou em quarto lugar em sua categoria em Tóquio 2020. Chegou a Paris como uma das favoritas, após vencer os 400m nos Campeonatos Mundiais de Paris 2023 e Kobe 2024.

A trajetória de Fernanda no esporte começou aos 14 anos, nos Jogos Escolares, onde descobriu sua paixão pelo atletismo. Nascida com uma má-formação congênita no braço esquerdo, abaixo do cotovelo, ela teve seu primeiro contato com o movimento paralímpico aos 21 anos, em uma competição em Minas Gerais. Antes disso, Fernanda competia em eventos de atletismo, onde enfrentava preconceitos. No entanto, as oportunidades de competir, viajar e conhecer novos lugares fortaleceram ainda mais seu amor pelo esporte.

A quinta de sete irmãos, Fernanda não foi apenas a primeira atleta da família, mas também a primeira a concluir o ensino médio e cursar faculdade de Serviço Social. Além disso, o esporte tornou-se uma importante fonte de renda para ela.

“O dinheiro sempre foi apertado. Comecei a receber patrocínio em 2019, mas durou apenas um ano. Em 2023, consegui novamente o apoio da Caixa, mas até então, sobrevivi com a Bolsa Atleta estadual, enfrentando muitas dificuldades”, relatou Fernanda em entrevista à BBC.

Recentemente, Fernanda passou a ser contemplada pela Bolsa Pódio, categoria do programa Bolsa Atleta, destinada a atletas com chances de disputar finais e conquistar medalhas olímpicas e paralímpicas.

Além dos desafios financeiros, a saudade da família é constante na vida de Fernanda Yara. Nascida no Pará, ela se mudou para Petrolina, em Pernambuco, ainda pequena, mas hoje mora em São Paulo, devido à intensa rotina de treinamentos. Sua filha, Lorena, de 8 anos, vive com o pai e a família dele em Recife. Sobre isso, Fernanda disse em entrevista à BBC:

“Tudo o que faço é por ela. Sei que a presença de uma mãe é muito importante para uma criança, mas de que adianta eu estar com ela se estivermos passando necessidade? Prefiro garantir que ela tenha uma vida melhor do que a que eu tive.”

Fernanda Yara durante os Jogos Pan-Americanos de 2023 em Santiago | Foto: Reprodução/Instagram

O caminho até o ouro paralímpico

Inspirada por Jennifer Martins e Rosinha dos Santos e suas participações em competições internacionais representando o Brasil, Fernanda entrou na equipe brasileira em 2008. A preparação para os Jogos daquele ano em Pequim foi curta, mas, ao mesmo tempo, a participação foi a concretização de um sonho da atleta. Naquela edição, Fernanda ficou entre as 12 melhores atletas do mundo nas provas de velocidade de 100 e 200m. 

Em 2019, levou bronze nos 200 e 400m nos Jogos Parapan-Americanos em Lima. Nessa competição, a questão da saúde mental foi algo que marcou a trajetória de Fernanda. “Eu tinha o treino, mas não o mental, e acabei perdendo a medalha de ouro porque fiquei abalada e não executei bem minha corrida. Desde então, trabalhei para fortalecer minha mente”, relembrou a atleta para matéria da BBC. 

Até Paris, houve uma grande preparação de Fernanda, que teve uma participação marcante nos últimos dois mundiais do paratletismo. Além da prova dos 400m, da classe T47, a atleta também competiu nas Paralimpíadas na prova dos 100m, no dia 3 de setembro, – na qual não se classificou para as finais. Fernanda ainda disputará, no dia 7 de setembro, a prova dos 100m rasos na mesma classe. 


Para Fernanda, o ouro inédito em Paris 2024 é uma resposta àqueles que um dia colocaram a sua idade, 38 anos, como um impeditivo de continuar a competir.

“Comecei há muito tempo, em 2008, estou aqui em 2024, então já tem muito tempo que estou aqui. E olha quando eu consegui a medalha. Depois que eu já estou bem madura. Muita gente falou para mim assim: ‘Por que você não para? Está na hora, você não dará em nada’ ”, disse a atleta após a conquista da medalha. “Esse nada foi campeã Paralímpica, campeã mundial, campeã Pan-Americana e futura recordista mundial”.