
A tradição da doação de água para promesseiros da corda
Conheça a tradição de grupos solidários que mobilizam doação de copos d’água para promesseiros da corda do Círio.
por Anna-Beatriz Aflalo
As procissões do Círio de Nazaré são marcadas por ondas emocionantes de fé e devoção, mas também de muito esforço físico. O sacrifício dos promesseiros e romeiros é evidente e salta aos olhos para quem assiste a tudo pela primeira vez.
Segundo a Cruz Vermelha Brasileira – Pará, os atendimentos mais frequentes nos postos de saúde do Círio são por desidratação ou exaustão física, em virtude do calor típico de cidades de clima tropical úmido, como Belém.
Por isso, tornou-se tradição, no período do Círio, que muitas famílias e grupos mobilizem campanhas de arrecadação de água, com o objetivo de oferecer suporte aos promesseiros da corda e aliviar o calor e a sede dos devotos.
Muitos desses grupos iniciaram suas atuações a partir de promessas feitas a Maria, em busca de alguma graça. No caso da Família Filhos de Maria, o movimento solidário tem origem a partir de uma promessa feita por um de seus fundadores. Paulo Anjos, um dos coordenadores do grupo, conta que o amigo pediu a Nazinha que intercedesse pela saúde de sua mãe e que, em gratidão pela graça alcançada, ofereceria doação de água aos promesseiros que puxam a corda do Círio.
Assim teve início a mobilização que chega, em 2025, ao seu 17º ano e mais que triplicou em número de voluntários e volume de doações. A Família Filhos de Maria cresce a cada festividade e, neste Círio, conta com mais de 240 colaboradores, tendo como meta doar aproximadamente 70 mil copos de água no próximo domingo.
Além dos Filhos de Maria, que se posicionam estrategicamente na calçada da Praça da República — em um dos pontos mais críticos da procissão do Círio, na curva da Avenida Presidente Vargas para a Avenida Nazaré —, outros pontos de doação são encontrados durante o trajeto.
Caíque Lobo, arquiteto, 41 anos, puxa a corda de Nazinha há 27 anos e diz que os grupos de doação de água são muito importantes para que os promesseiros concluam seu trajeto, mantendo-se hidratados e refrescados.
Edifícios residenciais, empresas locais e igrejas — inclusive de outras religiões — que estão localizados no trajeto das procissões, também se organizam e se unem para doar água gelada a quem percorre a procissão caminhando, e água natural para quem puxa a corda e conduz a Virgem de Nazaré pelas ruas de Belém.
As águas geladas são armazenadas em isopores, caixas-d’água com gelo e distribuídas em baldes. A fé e a solidariedade passadas de mão em mão.
Já as águas naturais são despejadas sobre as cabeças, pés e mãos dos promesseiros da corda, para evitar o choque térmico causado pelo calor extremo e exposição ao sol no domingo do Círio. É a devoção em forma de chuva — um banho de fé e bênçãos, testemunhado por Maria, no grande dia da festa da fé.