‘A Substância’: Terror estrelado por Demi Moore critica a pressão estética imposta às mulheres
A produção navega entre os limites do medo, da realidade e da busca pela “melhor versão de si mesmo”
Por Nathalin Gorska
Dirigido por Coralie Fargeat, “A Substância” (“The Substance”) foi o vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes 2024, e mistura elementos clássicos do terror e da ficção científica, debatendo o “prazo de validade” da mulher para a indústria.
O desejo de ser mais jovem, bonita e de voltar ao auge de seus dias dourados é o que cerca a história da ex-estrela de cinema Elisabeth Sparkle. A personagem, interpretada por Demi Moore, vê a sua vida desmoronar quando o produtor de seu programa decide trocá-la por uma mulher mais jovem.
O filme brinca com a percepção masculina em relação às mulheres: elas são julgadas pela idade, fertilidade e beleza, com uma narrativa parecida com as produções da cantora Melanie Martinez, “Mr. Potato Head” e “Nymphology”.
Ao perceber que não possuía mais valor para a indústria, Elisabeth decide então ingerir a “substância”, que promete uma versão jovem e melhor de si mesma. Os efeitos são imediatos: Sue, a versão mais jovem de Elisabeth (vivida por Margaret Qualley), nasce e ocupa então, o lugar de protagonista do programa de exercício que a ex-estrela de cinema comandava.
As coisas começam a dar errado quando Sue passa a desejar mais tempo no comando do que deveria, encantada pela juventude e pelo sucesso, enquanto a sua versão “Matrix” se vê cada vez mais sozinha, sendo corroída pelo ódio de si mesma. Um dos grandes acertos da narrativa é a retratação dos sentimentos da personagem principal. Aos 20, a luxúria e as companhias, atraídas pela beleza, são um pilar na vida da personagem. Já nos 50, a comparação e o sentimento de ser substituída fazem parte da construção da crítica que o filme carrega.
Ver Elizabeth Sparkle corroer a si mesma é uma experiência marcante e inesquecível, em especial quando sabemos que não é nada mais do que a retratação da realidade.
O filme se torna, com o passar do tempo, um fruto da sociedade em que estamos inseridos, com pitadas de ficção científica e elementos Gore*. O Body Horror* cumpre o seu papel e choca com as transformações corporais que são apresentadas, mas na verdade, o grande terror são os pensamentos de Elisabeth. O monstro já estava lá desde o começo, ele cresceu com ela, é seu parceiro de longa data e o medo mais íntimo da personagem. Um que, talvez, conta a grande verdade que o longa-metragem carrega: será esse o destino de todas nós?
*Gore é um subgênero do cinema de terror que, deliberadamente, se concentra em representações gráficas de sangue e violência. Estas películas, por meio da utilização de efeitos especiais, tendem a apresentar um interesse evidente na vulnerabilidade do corpo humano e na sua teatral mutilação.
*Body Horror ou Biological Horror é um subgênero do cinema de terror que apresenta intencionalmente violações gráficas ou psicologicamente perturbadoras do corpo humano. Essas violações podem se manifestar por meio de sexo aberrante, mutações, mutilação, zumbificação, violência gratuita, doenças ou movimentos não-naturais do corpo.