Por Lucas de Paula

A Fórmula, série brasileira da Globo de 2017, virou assunto nas redes sociais após o lançamento de A Substância, filme com Demi Moore que concorre ao Oscar. Não só os nomes das produções se assemelham, como também a história. Isso logo foi o suficiente para levantar o questionamento: seria o filme estadunidense uma cópia da série brasileira? Em ambas as obras, temos uma mulher em busca da sua versão mais jovem. Seria apenas essa premissa o bastante para acusar Coralie Fargeat de plágio?

“Você já sonhou com uma versão melhor de si mesma? Mais jovem? Mais bela? Mais perfeita?”. É com essa indagação que A Substância nos leva a conhecer Elisabeth (Demi Moore), uma mulher descartada pela indústria por ser considerada velha demais. Ela logo recebe a tentadora proposta de um estranho: uma substância que a faz ser jovem por sete dias na semana. Mas não se engane, existem algumas regras e um doloroso parto. Após tomar a substância, logo um novo corpo sai de dentro das costas de Elisabeth. Agora, enquanto Sue (Margaret Qualley) está na rua, Elisabeth fica inconsciente, sobrevivendo à base de soros.

Em A Fórmula, é um pouco diferente. Não há essa separação em dois corpos; na verdade, são duas mentes habitando o mesmo corpo. Após anos de pesquisa, a cientista Angélica (Drica Moraes) descobre o segredo para rejuvenescer 30 anos e assim o faz, sem precisar de um parto doloroso como em A Substância

Entretanto, descobre que um desafeto do passado, que já foi seu namorado, é dono da empresa em que trabalha e pode ficar com sua patente. Em busca de se vingar do antigo amor, ela usa sua versão jovem, Afrodite (Luisa Arraes), para seduzi-lo. O problema é que isso cria um triângulo amoroso cheio de situações inesperadas.

Para além dos gêneros diferentes – um é terror, outro ficção científica misturada com comédia –, há também a forma como as histórias são conduzidas. Enquanto A Fórmula explora a fixação de uma mulher por um amor do passado e a dualidade entre ambição e caráter, A Substância destaca os efeitos colaterais do apego pela juventude. Duas obsessões e duas críticas diferentes, mesmo que usando a juventude como plano de fundo.

Fica óbvio que ambas bebem da mesma fonte: O Médico e o Monstro, inspiração para diversas obras ao redor do mundo. O livro de Robert Louis Stevenson, publicado em 1886, narra a história de Dr. Henry Jekyll, que desenvolve uma poção para separar seu lado ruim do lado bom. Com isso, nasce Edward Hyde, ou Mr. Hyde. A obra aborda como o bem e o mal podem existir em todos nós, nos levando a questionar os limites da moral. Para além disso, a plataforma de streaming Mubi divulgou as referências de Fargeat. Mesmo que A Fórmula não esteja lá, há o filme brasileiro O Animal Cordial (2017), dirigido por Gabriela Amaral Almeida.

Se houve influência ou não, é algo que só Fargeat poderia dizer. Enquanto isso, cabe ao público decidir: inspiração ou coincidência? No fim, a substância mais importante é a originalidade que faz cada obra ser única.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.