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A solidão na era digital: Como ‘Ainda Estou Aqui’ aborda a desconexão na sociedade moderna
Filme reflete sobre essa solidão contemporânea e a forma como conexões virtuais parecem substituir interações humanas.
Por Lohuama Alves
Na interseção entre a solidão e as conexões digitais, o filme Ainda Estou Aqui se destaca ao retratar uma sociedade que, em seu frenético movimento, se distancia cada vez mais de sua própria humanidade. Inspirado na vida do deputado Rubens Paiva, sua esposa Eunice Paiva e a família, cuja história de resistência e desaparecimento se tornou um símbolo da luta pela verdade e pela justiça, o filme, indicado ao Oscar 2025, oferece uma reflexão pungente sobre o isolamento moderno e o impacto da tecnologia nas relações humanas. Ainda Estou Aqui está entre os escolhidos não só por sua direção e atuações excepcionais, mas por tocar em questões que são atuais e universais.
A obra, que nos transporta para um Brasil marcado pela ditadura militar, mais especificamente pelos anos de 1970, traz à tona a figura de Rubens Paiva, que, embora seja um símbolo da resistência política, também serve como espelho para os dilemas contemporâneos da solidão e desconexão. O filme não se limita a retratar sua história, mas se aprofunda na maneira como o desaparecimento e o apagamento de Paiva se refletem na vida de um personagem contemporâneo que, assim como ele, se sente perdido em um mar de falsas conexões digitais.
O filme coloca sob os holofotes a tragédia da desconexão emocional, que não é necessariamente a ausência de pessoas, mas a ausência de verdade nas interações. A história de Rubens Paiva, que desapareceu em uma época em que o silêncio era imposto pelas forças de repressão, conecta-se de forma simbólica com o vazio que muitos experimentam ao viver em um mundo de ecos virtuais, onde a autenticidade é muitas vezes ofuscada pela busca incessante por aceitação digital.
A obra, que concorre ao prêmio de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, torna-se ainda mais relevante quando analisamos o quanto a solidão da era digital reverbera nas questões sociais mais amplas, como as violências do passado e as cicatrizes deixadas por elas. O filme coloca em paralelo as perdas invisíveis de hoje – as amizades digitais que não geram vínculos reais, os relacionamentos que se distanciam pela ausência de toque e diálogo genuíno – com o apagamento histórico de figuras como Rubens Paiva, que simbolizam não apenas a luta política, mas também o custo da desconexão humana em tempos de repressão.
Por meio da trama, a desconexão não é apenas um reflexo das dificuldades emocionais, mas também uma crítica profunda à sociedade moderna. Em um mundo onde estamos constantemente conectados, Ainda Estou Aqui nos lembra que a solidão, muitas vezes, é uma companhia silenciosa, que habita mais forte dentro de nós quando estamos rodeados de telas e distantes do toque real, do abraço sincero. É na desconexão que a solidão cresce, e, talvez, seja só quando nos desconectamos verdadeiramente do virtual, que seremos capazes de nos encontrar.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.