A seleção Inglesa pode vencer a Copa do Mundo Feminina, mas precisará de grande apoio para se manter como favorita
Falta de clubes, campos e treinadores está sufocando o progresso da seleção que inspirou uma geração de meninas
Falta de clubes, campos e treinadores está sufocando o progresso da seleção que inspirou uma geração de meninas
Por Raisa Gonçalves
O cenário atual do futebol feminino na Inglaterra é marcado por conquistas e desafios que refletem o crescente interesse pela modalidade. Enquanto a seleção norte-americana passa por um processo de renovação, as inglesas se consolidam como uma força em ascensão no cenário mundial. A recente vitória, na Eurocopa feminina de 2022, na qual superaram a poderosa Alemanha, impulsionou a moral da equipe, que agora busca o tão sonhado título mundial na Copa do Mundo Feminina de 2023, na Austrália.
Uma das peças-chave da seleção inglesa é a lateral-direita Lucy Bronze, eleita, pela Fifa, a melhor jogadora do mundo, em 2020, e que, atualmente, atua no Barcelona, na Espanha. Sob o comando da técnica holandesa Sarina Wigman, conhecida por levar a seleção da Holanda à final da Copa de 2019, Bronze desempenha um papel crucial no esquema tático da equipe.
Outra jogadora que merece destaque é a talentosa meia Keira Walsh, que fez uma marcante transferência do Manchester City, na Inglaterra, para o Barcelona, por uma histórica quantia de 460 mil euros, representando a maior transação na história do futebol feminino.
A celebração contagiante de Chloe Kelly, após a conquista do título europeu, no verão passado, evidenciou o crescente interesse e entusiasmo em torno do futebol feminino, na Inglaterra. Essa efervescência também se refletiu em uma carta aberta, enviada pelas Lionesses, no ano passado, em que destacavam a preocupação com a baixa participação de meninas nas aulas de educação física, instando o governo a assegurar, pelo menos, duas horas semanais de atividades esportivas para elas.
“Atualmente, apenas 63% das meninas podem jogar futebol nas aulas de educação física. A realidade é que estamos inspirando meninas a jogar futebol, mas muitas acabam indo para a escola e não podem jogar”.
Em resposta, o governo comprometeu-se a promover a igualdade de oportunidades entre meninos e meninas, na categoria, além de investir em esportes escolares e atividades extracurriculares.
Apesar dos avanços, o futebol feminino ainda enfrenta desafios estruturais. A Football Association (FA) vem renovando seus esforços para identificar talentos, em todo o país, e proporcionar treinamento de alta qualidade para as jovens jogadoras. Clubes importantes, como o Arsenal e o Chelsea, também se comprometeram a realizar mais partidas em seus estádios, na próxima temporada, o que pode impulsionar o público e a popularidade do esporte.
Entretanto, é preciso reconhecer que o financiamento e o apoio às jogadoras ainda precisam ser aprimorados. O aumento, no fundo de prêmios da Copa FA Feminina, é um passo positivo, mas ainda há uma diferença significativa em comparação com a premiação oferecida aos finalistas da Emirates FA Cup masculina.
O futebol ainda lida com a necessidade de incluir disposições sobre maternidade, nos contratos, e de apoiar as jogadoras que, também, são mães; manchetes lascivas e exageradas sobre a “epidemia” de lesões do ligamento cruzado anterior, no jogo feminino, não diminuem o fato de que as mulheres são, de fato, mais propensas a elas, e que treinamento, arremessos, kit e equipamentos precisam ser avaliados e pesquisados, mais a fundo, para reduzir o risco.
Mas isso vale para toda a pirâmide, na qual o futebol feminino, ainda, luta para sobreviver. Isso não é porque não há interesse. Entre outubro de 2021 e outubro de 2022, houve um aumento de 17% no número de jogadoras, em todos os níveis do jogo; então, nos três meses seguintes à vitória na Euro, houve um aumento de 196% nas reservas de sessões de futebol feminino e por meio da ferramenta “Find Football” da England Football.
Essas novas jogadoras, no entanto, precisam de clubes para jogar e treinadores para treiná-las. A falta de locais apropriados pode desencorajar o talento em potencial e comprometer o crescimento da modalidade.
Enquanto Millie Bright lidera as Lionesses, todos aqueles que comemoraram, quando o futebol voltou para casa, no verão passado, esperam repetir o desempenho nessa Copa Do Mundo Feminina. Esse triunfo não foi um ponto final, foi apenas um impulso; ainda há muito a ser feito para garantir que mulheres e meninas possam alcançar o topo do esporte, mas também que elas possam, simplesmente, se divertir, chutando uma bola com chuteiras, kit e campo adequados.