‘A Queda do Céu’: Documentário brasileiro sobre o povo Yanomami é selecionado para a Quinzena de Cineastas de Cannes
Programação integra a 77ª do Festival de Cinema de Cannes
Por Lilianna Bernartt
“A Queda do Céu”, longa-metragem inspirado no livro homônimo do xamã Yanomami Davi Kopenawa, é selecionado para participar da Quinzena de Cineastas de Cannes (Quinzaine des cinéastes), que ocorre de 15 a 25 de maio de 2024.
A história foca na festa Reahu, ritual funerário e a mais importante cerimônia dos Yanomami, que reúne centenas de parentes dos falecidos com a finalidade de apagar todos os rastros daquele que se foi e assim colocá-lo em esquecimento. A partir de três eixos fundamentais do livro (Convite, Diagnóstico e Alerta), o filme apresenta a cosmologia do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o mundo das doenças produzidas pelos não-indígenas, o garimpo ilegal, o cerco promovido pelo povo da mercadoria e a vingança da Terra.
O filme é dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha. Esta não é a primeira vez de Eryk em Cannes. Em 2004, o cineasta disputou a Palma de Ouro de melhor curta-metragem por “Quimera” e, em 2016, recebeu o L’Œil d’or (Olho de Ouro) de melhor documentário no Festival de Cannes por “Cinema Novo”, seu sétimo longa.
Agora, com a “A Queda do Céu” na Quinzena de Cineastas, “será uma belíssima oportunidade e uma dupla celebração: de ver e ouvir explodir na tela o sonho e a luta do povo Yanomami e da força poética e geopolítica do xamã, filósofo e líder Davi Kopenawa. E, ainda, acompanhar a trajetória de um cinema que acreditamos e que está fora dos modismos e das convenções. De um cinema sem fórmulas, que navega no desconhecido, que transita entre a materialidade e o espírito e cuja linguagem surge da nossa relação com os Yanomamis e a comunidade de Watorikɨ, e que nasce, também, do nosso encontro com artistas Yanomamis que participaram criativamente da realização deste filme”, diz Eryk.
“A Queda do Céu” é a expressão cinematográfica do arrebatamento que tivemos ao ler o livro. Mas principalmente da nossa relação e do que foi vivido em carne, osso e espírito ao longo dos últimos sete anos ao lado de Davi, Watorikɨ e os Yanomami. É um filme onde a câmera não olha só para os Yanomami, mas para nós não indígenas também. E isso sempre foi um fundamento do filme tanto para mim quanto para Eryk. Trabalhamos para fazer um filme que expressasse a materialidade onírica de uma relação”, explicou a codiretora Gabriela Carneiro da Cunha.