A produção cinematográfica do país-sede da Copa do Mundo e a participação das mulheres
Apesar das diversas denúncias de violações aos direitos das mulheres no Catar, o setor audiovisual surpreende ao contar com grande participação de mulheres
Por Marilda Campbell
A produção audiovisual do Catar é fomentada pelo Doha Film Institute, uma fundação sem fins lucrativos que se dedica “a apreciação de filmes, educação e construção de uma indústria cinematográfica dinâmica no país”. Entre as iniciativas do Instituto, há a oferta de workshops e laboratórios, e a realização do Festival de Cinema de Aiyal, cuja décima edição aconteceu em outubro.
O Doha Film Institute financia produções independentes do Catar, Síria, Marrocos, Tunísia, Líbano e outros países do mundo árabe, em parceria com países europeus como França, Alemanha e Bélgica. A produção é bem diversificada, incluindo longas-metragens, curtas, documentários e séries para TV.
O investimento no setor está rendendo bons frutos, um exemplo é a indicação da produção catare Fly On The Wall para o Emmy Internacional 2022, concorrendo na categoria de Melhor Série de Curta Duração. A obra expõe como algumas das maiores mazelas do nosso tempo se tornaram o novo normal e questiona se elas deveriam ser normalizadas. A série documental foi dirigida por Raül Gallego Abellán e produzida pela Al Jazeera Digital.
Em entrevista ao programa Qatar 365, a cineasta Nadia Al-Khater acredita que as pessoas podem se surpreender com o número de mulheres que trabalham no setor audiovisual.
“Com o tempo, as mulheres começam a encontrar aqui as suas vozes e a compreender realmente que as suas perspectivas e as suas histórias são únicas. Penso que isso só ajuda a indústria, porque são histórias que ninguém conhece”, avalia a cineasta catare que, em parceria com o produtor estadunidense Justin Kramer, está dirigindo seu segundo curta-metragem, a comédia “A Proposal”.
Apesar dos avanços, as mulheres ainda sofrem uma série de violações a seus direitos. De acordo com relatório do Human Rights Watch (HRW): “as leis, regulamentos e práticas do Catar impõem regras discriminatórias de tutela masculina, que negam às mulheres o direito de tomar decisões importantes sobre suas vidas”.
Ainda conforme o relatório, “as mulheres no Catar devem obter permissão de seus guardiões do sexo masculino para se casar, estudar no exterior com bolsas do governo, trabalhar em muitos empregos do governo, viajar para o exterior até certa idade e receber certos cuidados de saúde reprodutiva.”
O Catar contesta o relatório do Human Rights Watch. O Gabinete de Comunicação do Governo afirma que a instituição avaliou de forma equivocada as leis, políticas e práticas do país sobre as mulheres.
Em nota oficial argumenta que “no Catar, mulheres mantêm funções de destaque em todos os aspectos da vida, incluindo economia e política. Somos líderes na região em quase todos os aspectos de igualdade de gênero”.
Na prática, é comum vermos denúncias de violação aos direitos das mulheres no Catar e em outros países do mundo árabe.
Fonte: Human Rights Watch – Catar: abusos de direitos mancham a Copa do Mundo da FIFA