Por Noelle Pedroso

Em seu discurso de vitória no 82º Globo de Ouro, Demi Moore, que conquistou o prêmio de Melhor Atriz de Comédia – o primeiro grande reconhecimento em seus 45 anos de carreira –, emocionou a todos ao compartilhar um pouco de sua jornada. Ela relembrou que, no início de sua carreira, uma produtora a descreveu como uma possível atriz “pipoqueira”, o que a fez acreditar que prêmios importantes não eram para ela. Apesar de ser a estrela de ‘Ghost’, um dos romances mais icônicos do cinema moderno, e de possuir um currículo extenso, Demi enfrentou a temida síndrome da impostora. Sua atuação marcante, somada ao impacto de sua narrativa pessoal, agora a posiciona como uma das favoritas a prêmios como o BAFTA, Critics Choice, SAG e até o tão almejado Oscar de Melhor Atriz.

A atriz superou inúmeros traumas ao longo de sua vida. Na infância, lidou com abandono parental e abusos frequentes. Na juventude, enfrentou o alcoolismo e problemas com drogas. Mesmo tendo vivido um bom relacionamento com Bruce Willis, enfrentou o divórcio, seguido por um relacionamento supostamente abusivo com um dos queridinhos de Hollywood da época.

O papel que a levou ao palco do Golden Globes foi no filme ‘A Substância’. Na obra, ela interpreta uma estrela da TV americana que, ao sofrer etarismo, é substituída por uma colega mais jovem. O que ninguém sabe é que Sue, vivida por Margareth Qualley, é uma versão “melhorada” dela mesma, nascida de maneira grotesca a partir de sua coluna, graças a uma substância secreta obtida com um médico amigo. Demi foi escolhida para esse papel por já ter sentido na pele os efeitos de comentários cruéis em seu meio de trabalho, vivenciando a frustração e o drama de ser uma mulher real em um mundo que insiste em idolatrar a perfeição plástica.

Ontem, ao erguer seu troféu, Demi não apenas celebrou sua vitória, mas também sobreviveu às adversidades, entregando um discurso poderoso e inspirador, repleto de emoção e empoderamento.

Fernanda Torres brilhou na premiação ao ser totalmente premiada com o Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz em Drama. Durante a estreia nos cinemas do filme ‘Ainda Estou Aqui’, em seu discurso, ela trouxe uma reflexão dizendo que os brasileiros sonham demais. Só por ser uma mulher latina, já deveriam abrir um champanhe pela indicação.

Reconhecida no Brasil como uma das maiores atrizes de sua geração, Fernanda acumulou papeis icônicos na televisão, especialmente em comédias como ‘Os Normais’, onde deu vida à irreverente Vani, e ‘Tapas e Beijos’, onde interpretou a carismática Fátima. Apesar do tom cômico, suas personagens eram marcadas por uma ousadia à frente de seu tempo, abordando temas como sexo e relacionamentos abertos em pleno final dos anos 1990 e início dos 2000.

No discurso de agradecimento, Fernanda dedicou o prêmio à sua mãe, a consagrada atriz Fernanda Montenegro, que esteve em uma posição semelhante há 25 anos. Naquele ano, Montenegro representou o Brasil ao vencer o Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama por ‘Central do Brasil’, também dirigido por Walter Salles. Embora não tenha levado o prêmio de Melhor Atriz, foi ela quem discursou em nome do diretor. No mesmo ano, perdeu o Oscar para Gwyneth Paltrow, que venceu por sua atuação em ‘Shakespeare Apaixonado’. Esse episódio gerou, por anos, um misto de descrença e resignação entre os brasileiros sobre a possibilidade de verem seus filmes alcançarem tal reconhecimento.

Fernanda Torres enfrentou uma competição acirrada contra gigantes do cinema, como Nicole Kidman, Pamela Anderson, Angelina Jolie, Tilda Swinton e Kate Winslet – todas veteranas, assim como ela. Embora Swinton e Wislet sejam britânicas, as demais são americanas interpretando personagens americanas em filmes americanos, o contexto não muda muito: tem uma latina na disputa. A vitória de Fernanda foi uma surpresa arrebatadora, mantendo os brasileiros na ponta das cadeiras até quase duas da manhã de um domingo para segunda, em plena véspera do fim do recesso de fim de ano.

Agora, assim como Demi Moore, Fernanda desponta como uma das grandes favoritas ao Oscar de Melhor Atriz. Segundo o site ‘GoldDerby’, a torcida brasileira pela atriz tem influenciado positivamente a percepção da Academia, reforçando ainda mais a força de sua candidatura.

A conquista de Fernanda Torres não apenas coroou sua brilhante trajetória artística, mas também reacendeu a esperança de um povo que, por alguns instantes, celebrou em uníssono. Naquela noite, o Brasil provou que a vida presta – e, sobretudo, que as mulheres podem tudo.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.