A jornada de recuperação de João Chianca até sua participação nos Jogos Olímpicos de Paris
Após superar o acidente em Pipeline no Havaí, o surfista está pronto para representar o Brasil na competição.
Por Rafaela Pontes
O ano de 2023 parecia ser o melhor ano da vida de João Chianca: ele voltou ao Championship Tour (CT) da Liga Mundial de Surfe (WSL) após não conseguir passar o corte de 2022, ganhou sua primeira etapa no CT e fez três semifinais, e ainda se classificou como o segundo melhor brasileiro do ano, garantindo uma vaga na disputa do Finals Day em Trestles, Califórnia, e uma vaga nos Jogos Olímpicos de 2024.
Porém, esse ano dos sonhos, que tinha tudo para ficar marcado na memória do surfista, virou um pesadelo.
Em 3 de dezembro de 2023, João sofreu um acidente grave no mar de Pipeline, no Havaí. Ao tentar descer numa onda da série, ele caiu e não voltou à superfície.
Jake Maki, surfista havaiano e um dos responsáveis pelo resgate, descreveu no documentário “Meu Nome é João Chianca” como o acidente se desenrolou:
“Eu vi essa série gigante vindo e lembro de ver o João enquanto a onda armava, muito grande. Eu meio que tive um pressentimento negativo. Algumas ondas passaram, mas quando a série acabou, eu vi a prancha dele. Quando eu vi a próxima onda atingir a prancha e ela não ser arrastada pelas ondas, eu soube na hora que ele estava preso à prancha, debaixo d’água, nocauteado e inconsciente.”
Jake compartilhou que entrou no mar e nadou até a prancha de João, onde pegou a cordinha e mergulhou até o fundo do mar. Jake encontrou o atleta desacordado, o puxou para a superfície e foi um dos surfistas que ajudaram a retirá-lo da água.
João, também conhecido como “Chumbinho”, foi levado às pressas ao hospital. De acordo com surfistas que ajudaram no resgate, ele já estava acordado quando entrou na ambulância.
Lucas Chumbo, irmão de João e surfista de ondas grandes, foi um dos que ajudou no resgate. No documentário “Meu Nome é João Chianca”, Lucas diz que um dos momentos mais assustadores foi quando seu irmão disse que não conseguia sentir suas pernas a caminho do hospital.
João compartilhou em entrevista à Globo que não lembra do acidente e dos cinco primeiros dias após a queda.
“Não tenho memórias claras, nem embaçadas das coisas que aconteceram. Talvez seja até melhor assim, não lembrar de algo que foi tão difícil para nós.”
O processo de recuperação do surfista foi longo. Após voltar ao Brasil no final de dezembro, Chumbinho iniciou o tratamento de fisioterapia. Em uma entrevista ao ge surfe, ele falou sobre as principais sequelas do acidente.
“Como eu tive uma lesão na cabeça, meu lado esquerdo foi afetado e minha perna esquerda sofreu bastante. Não sei exatamente qual foi o problema, qual neurônio foi afetado, mas eu perdi muita força.”
João ficou de fora das primeiras etapas do CT em 2024, focado em sua recuperação para poder surfar nos Jogos Olímpicos. Ele voltou a competir no CT em El Salvador no mês de junho, onde terminou em quinto lugar, e também competiu na etapa de Saquarema, sua cidade natal.
CONEXÃO COM TEAHUPO’O
João compartilhou em seu documentário que sempre sentiu uma conexão com as ondas de Teahupo’o, mesmo antes de surfar no pico pela primeira vez.
Em 2022, após não passar do corte do CT, Chumbinho ficou abalado. Seu irmão Lucas o convenceu a encontrá-lo em Teahupo’o, e João diz que foi nos tubos do local que recuperou a energia e o foco para conseguir se reclassificar em 2023.
“O Taiti me deu esperança para voltar ao tour e ter a oportunidade de perseguir meus sonhos.”
A conexão de João com o mar de Teahupo’o também está associada à palavra mana. Muito utilizada em comunidades polinésias, mana refere-se a uma energia sagrada e poderosa encontrada na natureza, que os surfistas dizem sentir nas ondas do Taiti.
Chumbinho cresceu surfando ondas grandes com seu irmão Lucas e tem experiência em tubos como os de Teahupo’o. Agora que ele está recuperado e de volta ao mar, não será surpresa se o surfista for longe na disputa e até conseguir um lugar no pódio.
“Minha relação com a onda de Teahupo’o é uma relação nova ainda, não está nem na adolescência”, João disse em seu documentário. “É uma onda com a qual sempre tive muita afinidade.”
Talvez os Jogos Olímpicos representem uma nova etapa na relação do atleta com as ondas do Taiti e o levem até o pódio olímpico.
A competição olímpica de surfe ocorre entre os dias 27 de julho e 5 de agosto, e João Chianca enfrentará o marroquino Ramzi Boukhiam e o neozelandês Billy Stairmand na quinta bateria do primeiro round.