Por: Nadine Cardoso Silva

Para atletas femininas de alto rendimento, a preocupação com o ciclo menstrual é uma realidade importante. Nem sempre foi assim, mas com a crescente participação das mulheres nos esportes, muitas comissões técnicas entenderam que precisavam olhar para esse tópico com maior cuidado e atenção. 

O ciclo menstrual é um período em que há alterações hormonais, sua duração pode variar de 21 a 35 dias, iniciando no primeiro dia de sangramento. Os principais hormônios que comandam o organismo feminino são estrogênio, progesterona, hormônio luteinizante e folículo estimulante. Eles são liberados em maiores concentrações a depender da fase do ciclo: folicular, ovulatória e lútea.

As variações hormonais causam alterações nas mulheres, as quais são muito individuais, isto é, variam de organismo para organismo. Os sintomas podem ser cólicas, dor de cabeça, fadiga, dores abdominais e lombares, enxaquecas, além de oscilações no humor e alterações no sono e no apetite. Diante de todas essas mudanças, observar os ciclos menstruais, considerando a individualidade de cada atleta, é essencial para adaptar o trabalho e conseguir o melhor rendimento mesmo com as limitações. 

O técnico da seleção brasileira feminina de vôlei, José Roberto Guimarães (Zé Roberto), e sua comissão técnica já trazem esse assunto há alguns anos. Em reportagem para a Folha de São Paulo, em 2005, essa preocupação já foi citada.

“Eu era muito intransigente no começo. Cobrava coisas que hoje eu vejo e penso que estava completamente errado. Mas fui estudar e pesquisar com preparador físico, médicos fisiologistas, ginecologistas e comecei a entender um pouco melhor o que se passava. A TPM, por exemplo, tem mais de 160 sintomas diferentes e isso influi nos treinamentos, na performance e, consequentemente, nos resultados. A partir do momento em que comecei a tomar conhecimento desse mundo, o meu resultado foi muito melhor”, disse Zé Roberto para a GQ Brasil.

Em outras entrevistas, Zé Roberto confessa que há um monitoramento dos ciclos de cada jogadora pela comissão técnica e, inclusive, uma programação para que em grandes competições nenhuma atleta esteja menstruada. A postura do técnico em treinos e jogos é influenciada pelos períodos das meninas, tendendo a ser mais calmo e carinhoso, já que ele entende que é um momento particular, inclusive cortando-as de treinos para poupá-las, seja por dores ou irritabilidade. 

A Dra. Tathiana Parmigiano, médica ginecologista do Comitê Olímpico Brasileiro e membro do Conselho de Saúde da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), na Saúde da Mulher, traz sua visão sobre conta um pouco sobre o trabalho que faz junto das seleções:

“A menstruação não é desvantagem e pode sim ser usada ao seu favor. Planejamos o ciclo menstrual em relação ao calendário competitivo, minimizando os sintomas da TPM. A atleta pode escolher em que fase do ciclo menstrual quer competir para tirar melhor proveito dos hormônios e ter boa performance ou até mesmo optar por não menstruar mais. É ela quem nos diz como se sente melhor”, disse ao espnW.

A iniciativa é vista como positiva pelas atletas. “Eu fico insuportável. É bom que eles saibam que isso acontece por causa da TPM”, afirmou Carol Gattaz em entrevista.

“Foi a melhor coisa que fiz. Comando minha menstruação e posso parar a pílula quando quiser (…) Não fico inchada nem triste. E triste nas Olimpíadas não dá!”, relatou Dani Lins.

“Ficava meio mole, irritada e tinha cólica. Hoje penso que deveria ter começado o tratamento antes. Mas não tinha tanta informação, não tinha ideia de que poderia ser bom. Meu medo era ter dificuldade para engravidar depois”, confessou Camila Brait.

Atualmente, este assunto é amplamente discutido entre outras seleções femininas. O trabalho multidisciplinar e individualizado é presente não apenas no vôlei, mas também em outros esportes, como o futebol.