Por Aline Mattos

Recordar a carreira de Tina Turner é recordar uma voz poderosa e uma presença inigualável nos palcos e nas telas. A imagem que vem à mente é brilho, luz e glamour. Mas apesar do sucesso estrondoso, a vida de Tina foi marcada por desafios e superações. Nascida Anna Mae Bullock em 1939, em Nutbush, Tennessee, a cantora enfrentou uma infância difícil com a dislexia não diagnosticada e a frieza materna. Ainda jovem, passou pelo que descreveu como um “inferno dantesco” em seu casamento com Ike Turner, sofrendo abusos constantes.

A relação abusiva com Ike, seu parceiro musical na dupla Ike & Tina Turner, durou 16 anos. Seu primeiro livro, “I, Tina”, lançado em 1986, revelou os horrores desse casamento, inspirando o filme “Tina: A Verdadeira História de Tina Turner” (1993), cujo lembranças dolorosas evitaram que ela assistisse. Em sua segunda autobiografia, “Tina Turner: Minha História de Amor”, lançada quando completou 80 anos, Tina se abriu sobre o romance com Erwin Bach, e narra episódios até então desconhecidos de sua vida.

Apesar dos abusos, Tina nunca perdeu o talento e a determinação. Começou a cantar profissionalmente aos 17 anos, conciliando a carreira com trabalhos como empregada doméstica. Seu relacionamento com Ike começou em 1958, e a dupla foi rebatizada como Ike & Tina Turner, mas o sucesso veio acompanhado de violência e controle. Ike comandava tudo, desde os shows até o dinheiro, e Tina, apesar das agressões, conseguiu se destacar em projetos memoráveis, como a música “River Deep – Mountain High”, produzida por Phil Spector, e sua atuação no filme “Tommy” (1975).

A década de 1960 foi particularmente difícil devido ao racismo, mas Tina sempre brilhava no palco, mesmo escondendo as marcas das agressões com muita maquiagem e perucas. Tentou suicídio em 1968, mas sua força interior prevaleceu, e em 1976, finalmente conseguiu se libertar de Ike. O retorno ao show business não foi fácil. Tina passou anos se apresentando em clubes menores até ser redescoberta e elogiada por David Bowie, o que impulsionou seu retorno triunfante.

Com mais de 40 anos, Tina Turner se reinventou e tornou-se uma das maiores estrelas da música. Seu álbum “Private Dancer” (1984) foi um marco, com sucessos como “What’s Love Got to Do with It”, que lhe rendeu quatro prêmios Grammy. Sua performance explosiva e sensual, combinada com uma voz única, conquistou fãs em todo o mundo. Em 1985, participou do filme “Mad Max – Além da Cúpula do Trovão” e sua música “We Don’t Need Another Hero” tornou-se outro grande sucesso.

A felicidade pessoal também encontrou Tina. Em 1986, conheceu Erwin Bach, executivo da EMI, com quem casou em 2013. Mas a vida continuou a testar sua resiliência. Sofreu um derrame três meses após o casamento, seguido por uma crise de labirintite e um diagnóstico de câncer no intestino em 2016. Seu problema de pressão alta afetou seus rins, e em 2018, Erwin doou um rim para salvar sua vida.

Tina também enfrentou a perda trágica do primogênito, Craig, em 2018. Apesar das adversidades, seu legado permanece intacto. Turner vendeu 200 milhões de discos, ganhou 12 prêmios Grammy e foi incluída no Rock and Roll Hall of Fame. Seus shows memoráveis, incluindo uma apresentação histórica para 180 mil pessoas no Maracanã em 1988, e seus maiores hits como “Proud Mary” e “The Best” solidificaram sua posição como ícone musical.

Tina Turner inspirou inúmeras artistas ao longo de sua carreira. Beyoncé, Janet Jackson, e Mick Jagger são apenas alguns dos nomes que citaram Tina como uma influência fundamental. Sua capacidade de reinventar-se, sua resiliência diante das adversidades e seu talento inigualável fizeram dela uma verdadeira lenda.

O dia de hoje marca a sua passagem por esse plano. Em 2023, Tina Turner faleceu, mas sua história de superação e talento continua a inspirar milhões. A “Rainha do Rock’n’Roll” deixou um legado inestimável, mostrando que, apesar das dificuldades, é possível alcançar a grandeza. Sua vida foi uma verdadeira montanha-russa de emoções, mas Tina Turner sempre encontrou forças para se reerguer, tornando-se um símbolo de resistência e paixão pela música.