Por Paula Cunha, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024

Verônica Hipólito é filha de pai e mãe professores e sempre foi incentivada por eles a praticar esportes. Como era muito tímida, sentia que as atividades a ajudavam socialmente, então fez de tudo um pouco: natação, ginástica olímpica, vôlei, basquete, futebol. Ela diz que era ruim em todas as modalidades, mas que se encontrou no judô e, nele, sim, ganhava todas as competições. Mas na mesma época, aos 12 anos, durante exames de rotina, descobriu um tumor na cabeça e teve que deixar a modalidade para evitar impactos.

Foi quando conheceu o atletismo, participando de uma corrida em que foi inscrita pelo pai, ficou em último lugar e saiu decidida a ser a garota mais rápida da cidade. Verônica sempre foi determinada e queria treinar no alto rendimento, mas teve um AVC isquêmico que paralisou todo o lado direito do seu corpo. Foi ali que Verônica se tornou atleta paralímpica e ouviu de seu pai que nunca aceitasse que lhe dissessem o que era possível ou impossível para ela.

Aos 16 anos, Verônica participou de um campeonato regional como paratleta e ganhou 3 ouros, seguidos de mais 3 no nacional. No seu primeiro mundial, em Lyon, ela se tornou campeã e recordista nos 200 metros rasos. Faltava só um ano para as tão sonhadas Paralimpíadas, quando Verônica começou a sentir fraca, com anemia e descobriu que tinha 200 tumores no intestino grosso. Após tirar 90% do intestino, Verônica se recuperou, voltou a correr e foi para o Rio de Janeiro, onde ganhou medalha de prata nos 100 metros rasos e bronze nos 400. Foi sua consagração paralímpica.

Nossa campeã mirava em Tóquio quando precisou passar por duas cirurgias no cérebro que a deixaram sem boa parte da hipófise. Por conta disso, Verônica não produz mais hormônios femininos, testosterona e cortisol, o que a forçaram a tomar corticoide diariamente. Se você é mulher e já tomou corticoide, sabe bem do que estou falando: Verônica engordou 20 quilos e viu seu corpo mudar e inchar a ponto dela não o reconhecer. Sentindo-se muito frustrada, desenvolveu ansiedade e depressão. No começo de 2021, um novo tumor no cérebro a fez passar por radioterapia e radiocirurgia. Ela não estaria no Japão.

Foto: Verônica Hipólito

Mas fora dos estádios, Verônica surpreendeu o público com seu jeito divertido e comunicativo comentando as olimpíadas de Tóquio. Ela diz que foi uma maneira leve de participar das competições. Já de volta ao esporte, em maio de 2024,cinco anos após participar de sua última competição internacional, Verônica ganhou a medalha de bronze nos 100 metros da classe T36 (para atletas com transtorno do movimento e falta de coordenação motora nos quatro membros). Essa é a categoria que Verônica compete agora.

8 anos depois do Rio, em Paris

Como tudo na vida da nossa velocista é com emoção, na semana da viagem para Paris Verônica teve uma hemorragia gastrointestinal e chegou lá sentindo ainda algumas dores. Mas competiu, e muito, levando o bronze nos 100m T36 e subindo ao pódio 8 anos depois do Rio 2016. Além de atleta campeã, Verônica é fundadora do Instituto Naurú, em Santo André, para crianças com e sem deficiência começarem no esporte, assim como a própria medalhista começou quando pequena. Ela também estuda economia e políticas públicas na Universidade Federal do ABC.

Foto: Joanna De Assis

Verônica é alegre e bem humorada, mas crítica, quando o assunto é capacitismo e as oportunidades dadas aos paratletas e pessoas com deficiência. Nossa gigante já disse que medalhas acabam e corroem e o que fica é o exemplo deixado no esporte. E na vida, né? Sua história é contada pela jornalista Joana de Assis no livro infantil Verônica, a magrela que era forte que será lançado também em libras e audiolivro.