A importância do futebol para a classe trabalhadora no Reino Unido
Quando o amor pelo esporte e a luta de uma classe se encontram
Por Thaynizy Lopomo
Não é novidade que o futebol é o esporte mais popular do mundo todo, e também uma grande paixão do povo brasileiro e de milhões de torcedores ao redor do mundo. Como todo grande fenômeno mundial, ele teve e continua tendo impactos sociais gigantescos por onde passa.
O time mais antigo do mundo, Sheffield F. C, surgiu no país antes mesmo da regulamentação do esporte, que aconteceu em 1863 na Freemason’s Tavern – hoje conhecida como Freemasons Arms, em Covent Garden.
O nascimento dos clubes
Os clubes começaram a surgir por todo país, mas suas origens variavam de acordo com a região em que se encontravam. No sul da Inglaterra, era comum que os clubes fossem formados por faculdades e escolas públicas da região. Já no norte, os clubes foram formados por trabalhadores da região. Assim, diversas fábricas e indústrias locais fundaram seus próprios clubes. Dentre eles, alguns continuam ativos e são enormes na liga inglesa, como o Manchester United, Arsenal e Liverpool.
O Manchester United foi criado pelo departamento de transporte e vagões da ferrovia Lancashire e Yorkshire, em Newton Heath, em 1878. Após a mudança de nome em 1902, o clube se mudou para seu atual estádio, o Old Trafford em 1910 e permanece lá desde então, exceto por um período na década de 1940, quando o estrago causado pela guerra fez com que tivessem que dividir casa com os rivais, do Manchester City.
Com raízes no sul da capital, o Arsenal foi criado em 1886 com o nome Dial Square, por uma equipe de trabalhadores da Royal Arsenal, uma fábrica de armamentos em Woolwich. O clube se mudou para Highbury, no norte de Londres, em 1913, onde continuou até se mudar para o Estádio Emirates, em 2006, onde está até hoje.
Quando o amor pelo esporte e a luta de uma classe se encontram
A história do Liverpool Football Club tem um início intrigante. O empreendedor John Houlding, que se tornaria prefeito de Liverpool, comprou o estádio de Anfield. E então propôs um aumento para o valor do aluguel pago pelo Everton. Como o conselho do Everton recusou as condições de Houlding, o clube se mudou para outro lugar, até construir sua nova casa em Goodison Park.
Houlding, porém, tinha um estádio disponível e nenhum clube e, assim, nascia o Liverpool F. C. A ligação do Liverpool com a classe trabalhadora se intensifica entre 1979 e 1990, durante o governo da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, com a reação às políticas neoliberais adotadas que impactaram diretamente a população de Liverpool, com aumento do desemprego e o recém revelado apoio de Thatcher ao apartheid.
Um grande exemplo da relação entre os torcedores do Liverpool e o governo de Margaret Thatcher foi selada após o desastre de Hillsborough, que matou 96 torcedores. Apesar do número maior de torcedores presentes, a torcida do Liverpool foi colocada na Leppings Lane End, com capacidade para apenas 15 mil pessoas. O resultado foi um fluxo de milhares de torcedores adentrando o estádio através de um túnel estreito na parte traseira do campo, a caminho das já superlotadas duas divisões centrais, que fez com que uma parte da estrutura a frente do camp cedesse, fazendo com que pessoas fossem pressionadas contra as grades pelo peso da multidão atrás deles. As pessoas que entravam não estavam cientes do ocorrido; a polícia – regida pelo governo, não se mobilizou para evitar a entrada de pessoas além da capacidade permitida, por razões que nunca foram explicadas.
Margareth Thatcher, que já havia culpabilizado os torcedores do Liverpool F. C. após o acontecimento no estádio de Heysel, na Bélgica, deixou claro em seus comentários como os torcedores não passavam de “vândalos selvagens”, pertencentes ao hooliganismo.
A torcida do clube comemorou a renúncia de Thatcher ao cargo, em 1990, e seu falecimento, em 2013.