
‘A Hora do Mal’ e o ápice do terror psicológico de Zach Cregger
Um suspense aterrorizante, com narrativas interligadas que exploram o lado mais sombrio da mente humana
Por Hyader Epaminondas
O diretor Zach Cregger retorna com A Hora do Mal, um suspense psicológico que consolida sua assinatura autoral após o sucesso de Noites Brutais. Conhecido por reviravoltas inesperadas, como a troca de protagonistas no meio da narrativa, e pela habilidade de transformar espaços comuns em fontes de horror, Cregger explora, mais uma vez, elementos do cotidiano para distorcer o familiar e torná-lo inquietante.
Com sutis toques de humor estrategicamente inseridos, ele potencializa a tensão, criando uma experiência ao mesmo tempo perturbadora e fascinante. Cregger mostra que o terror psicológico não depende de exageros visuais, transformando emoções humanas, como a culpa, em mecanismos de tensão. Ao explorar como essa emoção leva os personagens a agir de maneiras inesperadas, e como pode ser manipulada por figuras parasitas, a produção se torna uma reflexão sobre influência emocional e parasitismo psicológico.
A escuridão, em suas mãos, deixa de ser mero detalhe no cenário e se torna uma presença opressora, quase física, que respira junto às situações. São momentos que beiram o inacreditável de tão palpáveis dentro desses espaços negativos. Os sustos surgem em cortes rápidos, pontuais e sem desperdício, como blocos de montar para o máximo impacto.
Outro diferencial está no uso dos enquadramentos. Ao optar por planos fechados e posicionar a câmera atrás das costas dos personagens, Cregger explora a fração de segundo em que o perigo já está presente, mas ainda não foi percebido. Essa escolha nos prende à mesma impotência dos protagonistas, prolongando o desconforto até o limite.
A trilha sonora segue o mesmo princípio de precisão: alterna entre o silêncio absoluto e batidas intensas que simulam os batimentos cardíacos acelerados de cada protagonista, como se o som fosse um espelho de seus dilemas internos.
O Pulso Triádico do Medo
Assim como a forma triangular está presente durante toda a narrativa, seja no correr das vítimas ou em padrões escondidos pelo próprio cenário, o protagonismo funciona como uma via de mão tripla, refletindo a perspectiva dos personagens principais enquanto se entrelaça com tramas secundárias, mantendo a vilã no topo da pirâmide.
Julia Garner interpreta a professora Justine Gandy como fio condutor moral da história, tentando manter a lucidez enquanto forças externas e internas a pressionam numa tentativa de responsabilizá-la pelo desaparecimento das crianças no início do filme. Nesse sentido, a trama se apresenta como uma alegoria da falácia da vilanização dos professores e do uso da guerra cultural como arma dentro das escolas.
Archer Graff, com a postura rígida de Josh Brolin e seu carisma taciturno, é o enigma que conecta diferentes peças do mistério, transitando entre vítima e possível algoz. Já Alex Lilly ganha vida na atuação surpreendente do jovem Cary Christopher, sendo o epicentro emocional que une todos os demais e mostrando o que está em jogo quando o horror ameaça destruir até o que há de mais puro.
No elenco secundário, o diretor da escola, Marcus, vivido por Benedict Wong, oferece o contraponto racional, equilibrando a tensão com um olhar sistêmico. Já o policial Paul, interpretado por Alden Ehrenreich, encarna seu oposto: um homem em eterno conflito entre coragem e autopreservação, sempre à beira de ceder ao pânico, em sintonia com James, personagem de Austin Abrams, cuja instabilidade emocional oscila entre impulsividade e medo paralisante. Esses dois últimos compartilham um passado marcado pela submissão involuntária ao vício, subtema que se conecta diretamente às motivações da vilã.
Cada personagem carrega sua própria narrativa, repleta de dramas, motivações e medos particulares. À medida que a trama se desenrola, essas histórias se entrelaçam como peças de um quebra-cabeça, revelando a imagem completa apenas quando surge Gladys Lilly, interpretada por Amy Madigan, irradiando uma presença antiga e quase onipresente. Com sua aura enigmática e ocultista, ela domina a cena, roubando a atenção e adicionando camadas de mistério que intensificam a mitologia do filme.
Essa divisão em múltiplos pontos de vista conduz o público por diferentes ângulos do mistério, sempre amparada por um uso consciente da atmosfera sonora e visual, que transforma o silêncio e a escuridão em protagonistas invisíveis. É o tipo de filme que vale a pena ver no cinema, daqueles em que o som ambiente da sala amplifica cada batida, cada ruído, e potencializa os sustos, elevando a experiência do suspense a outro patamar.
Primeiro, Zach Cregger constrói a ambientação de suspense para o medo habitar situações cotidianas; alimenta com doses de humor e libera no momento exato. Em paralelo, as performances intensas de Julia Garner, Josh Brolin e Amy Madigan carregam o peso emocional da trama, adicionando profundidade aos personagens que vivem na fronteira tênue entre o ordinário e o aterrorizante.