A história do Futebol Feminino na Argentina: “Las Pioneras” abriram caminho para as novas gerações
A partir do momento em que “Las Pioneras” começaram a contar sua história, em 2019, o futebol feminino passou a romper barreiras e a estabelecer-se profissionalmente
A partir do momento em que “Las Pioneras” começaram a contar sua história, em 2019, o futebol feminino passou a romper barreiras e a estabelecer-se profissionalmente
Por Georgina De Biase Echevarría
O futebol feminino, na Argentina, começou a se desenvolver em 1923. No antigo estádio do Boca Juniors, aconteceu a primeira partida entre mulheres. Na ocasião, as ARGENTINAS enfrentaram as COSMOPOLITAS e venceram o jogo por 4 a 3.
Nesse período, os jogos eram organizados por empresários e registros da época informavam que sua finalidade era FAZER NEGÓCIOS. O encontro em questão contou com 6 mil expectadores.
Em 1970, na Itália, aconteceu o Primeiro Mundial de Futebol Feminino (não oficial). Para a competição, foram convidados oito países e a Argentina não foi um deles.
O torneio se dividiu em dois grupos, com 4 equipes em cada um deles: grupo Sul, formado por México, Áustria, Itália e Suíça, e grupo Norte, com Inglaterra, Alemanha Ocidental, Dinamarca e Checoslováquia (que não chegou a participar devido a problemas com os vistos de suas jogadoras).
A final aconteceu no Stadio Communale, em Turín, onde quase 40 mil expectadores puderam ver a Dinamarca vencer, por 2 a 0, com gols de Helene Hansen e María Sescikova, as donas da casa.
Um ano depois, em 1971, no México, foi organizado um novo Mundial de Futebol Feminino (extraoficial). Foi nesse ano que surgiu a Seleção de Futebol Feminina conhecida, até hoje, como “As Pioneiras”. Desse campeonato, participaram 6 países: Dinamarca, México, Itália, Inglaterra, França e Argentina.
No dia 15 de agosto, desse mesmo ano, entravam em campo, pela primeira vez, para vestir e defender as cores da Argentina, “As Pioneiras”. Perdendo, por 3 a 1, para o México, Elba Selva, atacante da seleção argentina, nos últimos minutos do jogo, teve a chance de bater um pênalti e converteu o gol, diminuindo a diferença no placar.
Marta Soler, atacante da seleção argentina, disse: “Essa seleção chegou ao Mundial como o ‘Patinho Feio’ do campeonato, viajamos sem chuteiras, sem médico, sem massagista, sem técnico e com, apenas, uma camisa, tivemos que encontrar meios de nos organizarmos num país que sequer conhecíamos” (Pujol,2019,P.30).
O segundo confronto do campeonato aconteceu no dia 21 de agosto. “As pioneiras” foram a primeira seleção a enfrentar a Inglaterra. Elba Selva foi o grande nome da partida. Graças às belas assistências de sua companheira, Betty García, a atacante fez 4 gols, dando a vitória à Argentina por 4 a 1.
Depois desse jogo histórico contra a Inglaterra, as argentinas enfrentaram a seleção da Dinamarca (que era a atual campeã mundial (1970) e a grande favorita de 1971) e perderam por 5 a 0. “Las Pioneras” tiveram a chance, então, de disputar o terceiro lugar. Acabaram perdendo, por 4 a 0, para a Itália, equipe que era considerada, tecnicamente, superior.
Embora a Dinamarca tenha vencido o Mundial, pela segunda vez consecutiva, as argentinas voltaram para casa com um saldo positivo. Além de vencerem a seleção da Inglaterra, ficaram com o quarto lugar, em sua estreia num campeonato internacional.
Ao regressar para a Argentina, depois de trabalhar em um bar para poder pagar seus gastos no México, a seleção feminina se deparou com um cenário triste e desolador: nenhum veículo de comunicação ou jornalista estava à sua espera, apenas suas famílias estavam ali, para recepcioná-la.
A história desse Mundial é, hoje, bastante conhecida, graças ao Movimento de Mulheres Lucila Sandoval, criado há quase 30 anos, e que se propôs a reunir todas as jogadoras dos anos 50, 60, 70, 80 e 90.
O grupo, formado por jogadoras que atuaram entre as décadas de 50 e 90, ganhou grande reconhecimento, na atualidade, devido ao Mundial extraoficial de 1971. No dia 21 de julho de 2018, já com o nome “Las Pioneras”, passam a se fazer conhecidas por seu pioneirismo e história, de cada uma delas, no futebol. Em conjunto, incentivam a criação de um projeto de lei que tornaria o 21 de agosto conhecido como o DIA DA JOGADORA DE FUTEBOL, por se tratar de uma data histórica para a Primeira Seleção Feminina.
“Assim como os homens têm o Dia do Jogador de Futebol, em 14 de maio, por conta do grande gol de Ernesto Grillo, as mulheres pedem que esse dia seja declarado como o Dia da Jogadora de Futebol. Para as mulheres, foi muito difícil ser parte do futebol por ser um esporte atravessado pelo machismo: sempre foram os homens que jogaram, apenas os homens iam aos estádios, que era considerado um lugar perigoso para as mulheres, etc. Com certeza, se a mídia tivesse acompanhado o futebol feminino e lhe dado crédito, sua visibilidade não teria sido afetada e poderíamos ter crescido muito antes (Betty Garcia, comunicação pessoal).
Desde 2021, celebram-se, na Argentina, oficialmente, depois da aprovação da lei, pelo Congresso Nacional, todos os 21 de agosto o Dia da Jogadora de Futebol, em homenagem a “Las Pioneras”.
A partir do momento em que “Las Pioneras” começaram a contar sua história, em 2019, o futebol feminino, na Argentina, passou a romper barreiras e a estabelecer-se, profissionalmente, como uma modalidade de esporte, na qual as atletas contam com salários e obras sociais. Com relação à semiprofissionalização do futebol feminino, Elba menciona: “Houve muitas mudanças importantes, mas ainda não é o suficiente. É lindo poder ver garotas jogando, por todos os lados, mas elas precisam ser reconhecidas e pagas da forma como merecem.”
Por outro lado, Aldana Cometti, atual jogadora da Seleção Argentina de Futebol Feminino, diz que “para que o futebol feminino cresça, os clubes têm que apostar. Receber um salário ou ter um contrato não significa ser profissional. Para isso, é necessário trabalhar todos os dias e conseguir o apoio de todos, como dirigentes, veículos de comunicação”. (comunicação pessoal)
“O futebol feminino está em processo de evolução, superando paradigmas que foram impostos, pela sociedade, ao sexo feminino. Se as lutas são medidas pela força, o ano de 2019 mostrou que as mulheres têm ganhado a batalha”. (Pujol, 2019. p.276)
E agora? O futebol feminino se tornou, de fato, o sucesso da sociedade moderna? Apesar dos avanços nos últimos anos (principalmente devido à união entre antigas e novas jogadoras) e, embora se saiba que que o futebol feminino, na Argentina, iniciou sua história em 1971, só 48 anos depois se conseguiu profissionalizar o esporte em questão.
Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube