Desafiando as adversidades, a judoca Rafaela Silva construiu sua carreira na contramão de tudo aquilo que associam à favela. Nascida e criada na Cidade de Deus, uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro, o esporte trouxe a ela novas oportunidades.

Apesar de nunca ter pensado no judô como esporte preferido enquanto criança e ter mostrado sempre uma preferência pelo futebol, a chance de conhecer a modalidade aconteceu na Associação dos Moradores da Cidade de Deus. Para seus pais, foi uma boa oportunidade para fazê-la ser mais disciplinada e evitar brigas de rua. Assim, Rafaela iniciou sua trajetória no judô aos 8 anos no Instituto Reação, ONG fundada pelo judoca Flávio Canto, um dos principais responsáveis por inspirar e guiar Rafaela ao topo e medalhista de bronze olímpico na categoria até 81kg em Atenas 2004.

A atleta consolidou sua carreira como uma das maiores atletas do judô brasileiro, sendo pioneira, entre homens e mulheres, a acumular os títulos mundial, olímpico e pan-americano. Além de sua medalha olímpica em 2016, que foi também o primeiro título olímpico de uma atleta negra em esportes individuais, Rafaela se tornou a elite do esporte com muito esforço, enfrentando diferentes desafios ao longo de sua trajetória.

Competindo na modalidade peso leve (até 58 kgs), foi campeã mundial sub-20 em 2008 e em 2011, firmou seu nome em campeonatos de visibilidade mundial, ganhando prata no Mundial de Paris e prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. O ápice de sua carreira, até o momento, é a conquista olímpica em 2016.

Foi durante as comemorações após conquistar o ouro no Pan-Americano de Lima, em 2019, que a atleta viu sua carreira tomar outro rumo. Ao ser submetida ao exame de antidoping, foi encontrada a presença de uma substância que invalidou a medalha da judoca, além de ser punida com dois anos de suspensão, sendo proibida de lutar judô. Como consequência, Rafaela ficou de fora dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, após a decisão da Federação Internacional de Judô.

Toda a situação não passou de um mal entendido, já que a atleta afirmou que o resultado se deu em função do contato com um bebê que estava sendo tratado para asma, alguns dias antes da competição. 

“Porque eu não podia entrar em nenhuma academia que tivesse judô, eu não podia ter contato com a minha irmã, que ela era professora do (Instituto) Reação. Então, foi difícil. Tinha dia que eu queria treinar pra ir pra Paris, tinha dia que eu só queria jogar meu carro no poste. Foi um momento bem difícil pra mim.” – relata a atleta em entrevista para o The Players Tribute Brasil.

Rafaela revelou ter enfrentado a depressão durante o período de suspensão e que o desânimo quase a derrubou, mas a atleta provou que não desiste fácil. Sendo prova disso, sua participação nas Olimpíadas de Paris e sua disputa pelo bicampeonato. Apesar da derrota, a atleta teve uma trajetória honrosa e contou com o carinho do povo brasileiro, que a acolhe e confia em seu talento.