Grandes empresas de alimentos lucram com o aumento da fome no mundo
Grandes empresas de alimentos, energia, petróleo e fármacos enriqueceram no mesmo período em que 263 milhões entraram na extrema pobreza
Os 10 homens mais ricos têm mais riqueza do que os 40% mais pobres juntos. Relatório da Oxfam denuncia aumento recorde da desigualdade social na pandemia da Covid-19
A Oxfam, organização não governamental presente em mais de 20 países, incluindo o Brasil, lançou em março deste ano o relatório “Lucrando com a dor”, onde a organização expõe dados do crescimento econômico alarmante de empresas alimentícias, farmacêuticas, petrolíferas, de energia e tecnologia, acompanhado do aumento do número de bilionários no mundo, assim como de seus lucros. O relatório acompanha esses crescimentos durante a pandemia da covid-19 e retrata, ainda, como o empobrecimento da grande maioria da população é resultado direto do lucro daqueles que detêm fortunas em crescimento.
Durante a pandemia, a fortuna dos bilionários aumentou, em 24 meses, o equivalente a 23 anos. O preço de bens essenciais, como alimentos e energia, atingiu o nível mais alto em décadas, fazendo com que bilionários desses setores vissem suas fortunas aumentarem um bilhão de dólares a cada dois dias. Enquanto surgiram mais 573 bilionários no mundo, sendo 62 deles no ramo de alimentos, 263 milhões de pessoas entraram na extrema pobreza em 2022. Segundo o relatório, a pandemia e a forma como os Estados e empresas lidaram com ela, levou a desigualdade social a um novo recorde mundial.
O aumento no preço de alimentos e energia afeta em maior grau a população mais pobre, que vem tendo que cortar cada vez mais gastos. Em 2021, o preço dos alimentos registrou um aumento global de 33,6%, com previsão de aumentar mais 23% este ano, passando a registrar a maior alta desde o início dos registros pelas Nações Unidas (ONU), em 1990.
Entre as mulheres, assim como em grupos racializados, esses impactos são ainda mais profundos. O relatório aponta que a pandemia e o lockdown afetaram os trabalhos geralmente realizados por mulheres, como turismo, assistência e hospitalidade, além de o aumento do trabalho não remunerado para com os filhos, que não podiam mais ir à escola, ou parentes próximos que dependessem de cuidados, também contribuir para retirar as mulheres do mercado de trabalho.
Esses fatores elevaram a taxa de desemprego entre as mulheres, que aumentou em 13 milhões em relação a 2019, enquanto que, em 2021, a taxa de emprego entre homens voltou aos níveis pré- pandêmicos. Isso é refletido nos dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, cujos resultados demonstram que a fome afeta 60% das famílias chefiadas por homens e 74% dos lares chefiados por mulheres no Brasil. Em relação às mulheres negras, uma pesquisa realizada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) demonstra que 46,8% dos domicílios comandados por mulheres negras vivem em insegurança alimentar.
De acordo com o relatório, o aumento da desigualdade social, principalmente em países em desenvolvimento, é consequência do mau uso do dinheiro público, que deveria ter sido destinado a políticas públicas que poderiam conter os impactos da covid-19 e da crise econômica na população. Outro motivo apontado é a injeção de trilhões de dólares por bancos nas economias de todo mundo, o que impediu um colapso econômico global, mas também aumentou o preço dos ativos, levando ao enriquecimento das empresas e à pobreza entre a maior parcela da população.
Para conter essa disparidade gritante de renda, o documento da Oxfam defende que os governos deveriam aumentar a proteção social, implantar controles de preços, cancelar as dívidas dos países mais pobres, redirecionar os Direitos Especiais de Saque (SDRs) para os países mais pobres, juntamente com a ajuda, e introduzir impostos mais justos. Os Estados possuem o alcance para conter essa crise social, mas para isso é preciso formular medidas progressivas de tributação e direcionar as arrecadações para ações que combatam as desigualdades sociais.
A Oxfam argumenta que um imposto único de 99% sobre os lucros obtidos pelos 10 homens mais ricos do mundo durante a pandemia de COVID-19 sozinho poderia pagar pela produção de vacinas suficientes para todo o mundo, pelo preenchimento de lacunas de financiamento em educação, saúde universal e proteção social e ajudar a combater a violência de gênero em mais de 80 países. Por isso, uma tributação mais justa é a principal proposta do documento.
Para ler o relatório completo da Oxfam acesse Oxfam Brasil.