Por Yasmin Henrique, para Cobertura Colaborativa #NECParis2024

Para eventos internacionais como os Jogos Paralímpicos, o Comitê de Coordenação Internacional (ICC) exigia que cada país nomeasse um único representante oficial para gerenciar todas as questões referentes ao movimento paralímpico. Até 1984, essa responsabilidade estava a cargo da Associação Nacional de Desporto para Excepcionais (ANDE). A ANDE continua a administrar modalidades como a bocha, o futebol de 7 e a petra, uma variante do atletismo na qual os atletas competem usando um triciclo sem pedais para se apoiar.

Antes do surgimento do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o esporte paralímpico no Brasil já havia alcançado marcos importantes. Um desses marcos foi a “Carta de Batatais”, datada de dezembro de 1986, que integrou a Educação Física Adaptada aos currículos de Educação Física das universidades. Esse documento desempenhou um papel crucial ao iniciar as discussões que culminaram na fundação do CPB.

Durante as décadas de 70 a 90, os atletas paralímpicos enfrentaram grandes dificuldades devido à escassez de investimentos e à falta de infraestrutura adequada para treinamento. Muitas vezes, as instalações e os equipamentos eram emprestados das modalidades olímpicas. Até 1988, a equipe brasileira competia sem uniformes oficiais, utilizando roupas emprestadas de organizações como a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV). Entre 1972 e 1992, um total de 200 atletas paralímpicos representaram o Brasil.

Nascimento do CPB

O Comitê Paralímpico Brasileiro foi criado oficialmente em 9 de fevereiro de 1995, com a sua sede localizada inicialmente em Niterói, Rio de Janeiro. João Batista Carvalho e Silva assumiu o cargo de primeiro presidente e ocupou a posição até 2001. Durante seu mandato, dedicou-se a aumentar a visibilidade do esporte paralímpico e trabalhou em colaboração com o Ministro Extraordinário do Esporte da época, Pelé, durante os Jogos Paralímpicos de Atlanta 1996.

A estreia do Brasil sob a gestão do CPB foi promissora, com o país alcançando a 37ª posição e acumulando 21 medalhas, entre elas dois ouros, seis pratas e 13 bronzes. Nos Jogos Paralímpicos de Sydney 2000, o Brasil avançou para a 24ª posição e conquistou um total de 22 medalhas, sendo seis de ouro, dez de prata e seis de bronze.

Em 2001, Vital Severino tomou posse como presidente do CPB e implementou uma reestruturação organizacional notável. A principal alteração foi a reorganização dos esportes com base nas modalidades, em vez de agrupá-los por tipo de deficiência. Em 2002, o CPB mudou sua sede para Brasília.

Nos Jogos Paralímpicos de Atenas 2004, o Brasil avançou para o 14º lugar no quadro geral, acumulando 33 medalhas: 14 de ouro, 12 de prata e sete de bronze. Este evento marcou a estreia das transmissões dos Jogos Paralímpicos na televisão brasileira, graças à estratégia do CPB, que garantiu os direitos de transmissão. O nadador Clodoaldo Silva brilhou ao conquistar sete medalhas, sendo seis de ouro e uma de prata.

Nos Jogos Paralímpicos de Pequim 2008, o Brasil alcançou a nona posição no quadro geral, conquistando um total de 47 medalhas, sendo 16 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze, o maior número de pódios obtido até aquele momento. No ano seguinte, a sanção da Lei Agnelo/Piva direcionou parte da arrecadação das loterias federais para o Comitê Olímpico e Paralímpico, impulsionando o desenvolvimento do paradesporto no país.

Andrew Parsons assumiu a presidência em 2009, marcando sua gestão com conquistas notáveis, incluindo a seleção do Rio de Janeiro como a cidade-sede dos Jogos Paralímpicos de 2016. Durante seu mandato, o CPB dedicou-se intensamente à preparação para garantir uma representação exemplar do Brasil nos Jogos.

Rio – 2016 em diante

A inauguração do Centro de Treinamento Paralímpico em maio de 2016 representou um avanço significativo, com um investimento de R$ 260 milhões. Este centro, que suporta a infraestrutura necessária para 15 modalidades paralímpicas, tornou-se a principal base para a preparação da delegação brasileira.

Centro de Treinamento Paralímpico  | Foto: Reprodução/CPB

Nos Jogos Paralímpicos do Rio 2016, o Brasil marcou um recorde com a participação de 278 atletas e conquistou 72 medalhas, o maior número alcançado até aquele momento, garantindo a 8ª posição geral. Em 2022, o país teve um desempenho histórico nos Jogos de inverno em Pequim e expandiu sua presença em campeonatos mundiais, estabelecendo novos recordes em natação e em competições globais.

Desde que Mizael Conrado assumiu a presidência do CPB em 2017, a organização tem concentrado seus esforços em ampliar o impacto social do esporte paralímpico. Em 2022, o festival Paralímpico e diversas outras iniciativas destacaram-se pelo alto número de participantes e pela realização de eventos significativos.

Mizael Conrado | Foto: Reprodução/CPB

Em 2023, os atletas brasileiros se destacaram em campeonatos mundiais, acumulando 123 medalhas em 11 modalidades diferentes e demonstrando uma performance notável nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago. No Parapan de Bogotá, o Brasil alcançou 52 medalhas e ultrapassou a marca de 500 pódios em toda a história do evento.

O CPB organizou eventos de grande relevância, como o ‘Meeting Paralímpico Loterias Caixa’ e as ‘Paralimpíadas Escolares’, que se destacaram pela alta participação e excelência na organização. Em 2023, a entidade continuou a impulsionar o esporte paralímpico no Brasil, promovendo iniciativas de grande impacto para a inclusão e o treinamento de atletas.
O CPB também incentivou a ‘Educação Paralímpica’ e criou a ‘Academia Paralímpica Brasileira’, com ênfase na capacitação e no avanço científico no campo do esporte paralímpico. Em 2024, a entidade lançou um filme que explora a evolução do esporte paralímpico no Brasil, disponível para visualização gratuita no Globoplay.