Por Tainá Junqueira e Luma Mariath, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Em uma das maiores reuniões de bandeiras nacionais, o Comitê Olímpico Internacional (COI) proibiu a participação russa nos Jogos Olímpicos de Paris. No início de 2022, a explosão do conflito entre Rússia e Ucrânia violou o princípio da trégua olímpica, o que gerou a punição. De outro lado, a bandeira israelense está presente nas arenas de Paris mesmo com ofensivas militares em curso na Faixa de Gaza.

O Comitê Olímpico Palestino (COP) exige que a mesma regra de crime de guerra aplicada à Rússia seja válida para Israel devido ao massacre em Gaza, que já deixou mais de 186 mil mortos. O genocídio afetou, inclusive, atletas que iriam competir na França, como o palestino Mohammed Hamada. O atleta de halterofilismo, foi impossibilitado de participar das olimpíadas após perder 20 kg pela fome que enfrenta a população de Gaza. Hamada também sofreu uma lesão no joelho ao carregar 500 litros de água por dia.  

Além da figura jurídica da “violação da trégua olímpica”, a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) também pediu o boicote do comitê israelense por conta das anexações de território palestino e de segregação étnica, fazendo uma comparação ao apartheid sul-africano na segunda metade do século XX. Em 1964, a África do Sul foi banida das Olimpíadas em resposta ao regime segregacionista do país. 

Condenação russa

Em outubro de 2023, o COI anunciou o banimento das delegações da Rússia e de Belarus pelo não cumprimento da trégua olímpica. Essa é uma tradição iniciada na Grécia Antiga que prevê a interrupção de conflitos armados durante os jogos. Antigamente, as cidades declaravam trégua no período entre três meses antes do início a três meses após o fim das competições. 

Nos dias de hoje, a trégua é de sete dias antes a sete dias depois dos Jogos Olímpicos. A punição à Rússia se refere ao início da guerra contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, durante os jogos de inverno em Pequim. “Isso constitui uma violação da Carta Olímpica porque viola a integridade territorial do Comitê Olímpico Nacional da Ucrânia, reconhecido pelo COI conforme a Carta Olímpica”, declarou um dos porta-vozes do COI.

A respeito disso, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou que o COI estava se curvando às potências ocidentais e que “mais uma vez, vemos um exemplo da parcialidade e do fracasso do Comitê Olímpico Internacional, que, vez após vez, prova sua parcialidade política”. Na última terça (30/08), Israel bombardeou a capital do Líbano em resposta a um ataque nas Colinas de Golã – provavelmente de autoria do grupo extremista Hezbollah -, violando a trégua olímpica prevista. 

Pedidos de punição

Os pedidos de restrição feitos pela Palestina e Irã a atletas israelenses em Paris foram rejeitados pelo COI. Emmanuel Macron, presidente francês, disse que eles são bem-vindos nas Olimpíadas de Paris e devem competir “com suas cores”. No total, a delegação conta com 88 atletas – entre eles, o judoca Peter Paltchick, porta-bandeira de Israel na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, que autografou uma das bombas lançadas na Faixa Gaza no ano passado. Ele chegou a publicar em suas redes sociais fotos dos projéteis com a legenda “de mim para você, com prazer”. 

Enquanto isso, durante a cerimônia de abertura, o porta-bandeira palestino Waseem Abu Sal vestiu uma camisa com o desenho de um bombardeio sobre crianças jogando futebol. Em Paris, é possível encontrar cartazes que protestam contra a presença da delegação e também manifestações daqueles que estão competindo. O judoca argelino Dris Messaoud Redouane não lutou contra seu rival israelense pelo que indica ser motivo político e se desqualificou durante a pesagem. 

Atletas Neutros Individuais (AIN)

Foto: Reprodução/Brasil de Fato

Apenas 15 atletas russos e 17 bielorrussos fazem parte da delegação russa nas olimpíadas em 2024 e competem como “jogadores neutros”, proibidos de cantar o hino ou fazer qualquer tipo de referência à bandeira, cores, símbolos ou nome do país. Durante os jogos, eles competem sob o nome de Atletas Neutros Individuais (AIN) com bandeira azul esverdeada e reproduzem hino neutro definido pelo Comitê. 

Os atletas também não puderam participar da cerimônia de abertura. Como boicote a Paris, a Rússia não está transmitindo as olimpíadas desse ano e organiza uma competição interna.