Por Valéria Oliveira, para Cobertura Colaborativa Paris 2024

Quem está por trás das câmeras, capturando os momentos mais marcantes e emocionantes do esporte? A maioria desses profissionais são homens, uma realidade que se reflete em estatísticas preocupantes. Atualmente, mais de 62% dos fotógrafos esportivos são do sexo masculino, uma desigualdade que se mostra evidente durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Essa disparidade não é apenas um número: ela tem um impacto real nas histórias em que são contadas e na forma como os atletas são representados. Quando a maioria dos fotógrafos compartilha o mesmo perfil, a narrativa se torna limitada e a inclusão fica comprometida.

Foto: Nick La Galle

As mulheres, que representam apenas 32% dos fotógrafos esportivos, enfrentam desafios significativos e são frequentemente subestimadas em relação aos seus colegas, e muitas vezes são direcionadas para fora dos bastidores com a justificativa de que estão em risco de se ferir, uma alegação que não é apenas infundada, mas também contribui para uma menor visibilidade e menos oportunidades profissionais. Esse tipo de discriminação e preconceito limita suas chances de avançar na carreira e de desempenhar um papel igualitário no campo da fotografia esportiva.

Além das questões de representação no local de trabalho, a desigualdade de gênero também se reflete na própria cobertura dos eventos esportivos. Os esportes femininos, por exemplo, recebem significativamente menos atenção do que os masculinos. Quando são cobertos, a cobertura é frequentemente mais breve e menos detalhada, perpetuando uma visão parcial e muitas vezes estereotipada das atletas. A falta de diversidade entre os fotógrafos contribui para essa falta de profundidade na cobertura, distorcendo a percepção do público sobre as mulheres no esporte e perpetuando a desigualdade.

Estudos demonstram que a inclusão de diferentes perspectivas pode enriquecer significativamente a narrativa e a representação. Em diversos setores, incluindo o jornalismo esportivo, a presença de mulheres e minorias traz uma gama mais ampla de pontos de vista e histórias. As fotógrafas não apenas captam imagens com uma sensibilidade única, mas também contribuem para uma representação mais equilibrada e justa dos atletas e dos eventos esportivos. Quando as mulheres têm mais espaço e oportunidades na fotografia, elas não só ampliam a gama de histórias contadas, mas também ajudam a elevar a visibilidade e o reconhecimento das atletas.

Para além das grandes competições, a disparidade de gênero na fotografia esportiva também é realidade na rotina de muitos profissionais iniciantes e independentes. Thainá Nascimento, fotógrafa sem vínculo, que tem como foco capturar e cobrir o skate, vem conquistando seu espaço em eventos como o “Vans Park Series”, já fotografou nomes como Tony Hawk e compartilhou um pouco da sua percepção sobre o assunto, e como isso afeta o desempenho desses profissionais.

A fotógrafa conta que iniciou seu trabalho com foco nas atletas femininas, após perceber que a modalidade não contava com a cobertura merecida.

“Com o tempo fui ganhando espaço, mas sempre com olhares de pessoas julgando e achando que eu não sabia o que estava fazendo.”

Foto: Thainá Nascimento


Segundo Thainá, além dos olhares, as mulheres que estão por trás das câmeras também lidam com comentários diretos onde são colocadas em uma posição de fragilidade ou incapacidade.

“A gente precisa dividir espaço, e eu já vi equipe chegando empurrando e usando essas falas ‘Aqui não é seu lugar’, ‘Meu trabalho é melhor que o seu’, ‘O meu paga melhor, então dá licença”.

Seja em grandes eventos, como as Olimpíadas, ou em competições de menor expressão, a regra é clara e se repete em várias áreas: a diversidade de perspectivas não só enriquece a cobertura esportiva, mas também promove uma compreensão mais completa e inclusiva do mundo do esporte. A presença de fotógrafas e profissionais de diferentes origens e identidades é crucial para refletir de maneira justa e precisa a diversidade dos atletas e das histórias que eles passaram. É fundamental instigar a inclusão e a equidade no jornalismo esportivo para garantir que todos os atletas, independentemente do gênero, recebam a representação e o respeito que merecem.