A copa da minha vida: Versão 1994
Um segundo a mais era tudo o que o Brasil precisava para fazer o gol, mas o medo tomou conta quando o narrador anunciou os pênaltis
Por Clara Oliveira
O jogo estava acirrado, não queria ir ao banheiro e muito menos sair para beber água porque cada minuto desperdiçado poderia significar que um dos times iria marcar um gol, e eu não queria perder de jeito nenhum o gol do título que eu esperei desde muito antes do jogo, há 4 anos, para especificar. Cada vez que a Itália tocava na bola, sentia minha respiração travar. Por sorte, a defesa do Brasil recuperava a bola a tempo. O clima era de festa, minha família toda estava reunida, torcendo, vibrando, chorando e rezando por um propósito em comum. Em plena quinta-feira, havia duas seleções em busca do quarto título da Copa do Mundo, milhares de torcedores e apenas um troféu.
Enxuguei minhas mãos mais vezes do que em qualquer outro dia em meus 13 anos de vida. Dizem que isso acontece quando nos apaixonamos: Nosso coração passa a ter uma batida ansiosa, que faz as nossas mãos suarem e nossas pernas tremerem. Naquele dia descobri minhas primeiras paixões: a seleção canarinho e o futebol. Um segundo a mais era tudo o que o Brasil precisava para fazer o gol, mas o medo tomou conta quando o narrador anunciou os pênaltis, do nosso lado tínhamos Dunga, Cafu, Romário, Bebeto e“Ronaldo fenômeno”, que já amávamos mesmo antes de conhecer todo seu potencial.
Mas, o adversário não era alguém a ser subestimado, os italianos tinham vencido a Espanha e a Bulgária nas fases anteriores e pareciam prontos para fazer o mesmo com o Brasil. Seu astro, Roberto Baggio, estava em sua melhor fase. Como em um filme, o clímax do jogo ficou para o final, e se iniciou nos pés do Italiano Baresi. Depois foi a vez de Bebeto marcar, ele honrou a camisa e depois dos pênaltis seguintes, me lembro dos vários gritos em casa: “Vai que é tua Tafarel” “Bora, Branco!”. Não me lembro de onde eles sairam, mas tenho certeza que a rua inteira escutou, porque da minha casa também era possível ouvir os vizinhos.
Na vez de Romário, meu jogador preferido, lembro de ter feito uma promessa: “Se você acertar esse pênalti, eu coloco o seu nome no meu futuro filho” talvez milhares de pessoas tenham feito a mesma promessa enquanto viam Romário chutar a bola, porque assim que o fez, ele acertou. Quando Baggio mandou a bola para fora e se curvou no campo chorando, e o narrador gritou “É TETRA, É TETRA”, meu coração voltou a bater tranquilo. Depois de um período de extrema tensão, a alegria que sentia naquele momento fez me sentir como um dos fogos de artifício, que explodiam lá fora.
12 anos depois
– O nome dele vai ser Romário – O antigo garotinho que tinha feito essa promessa quis honrá-lo quando descobriu que seria pai, 12 anos depois, mas a mãe da criança rebateu.
– E quem disse que é um menino? Tenho certeza que é uma garota e o acordo é que você escolhe o nome se for menino e eu se for menina – Exclamou a mulher, com quem viria a se casar.
Ela não estava errada, eles esperavam uma garota, que viria a ser a única filha que o casal teria. O menino nunca honrou a promessa feita naquele 17 de julho de 1994, mas o universo se encarregou de tudo: Sua filha não poderia ser mais apaixonada por futebol, seu nome não tinha nada a ver com Romário.
Quando perguntado por nossa equipe como foi a sensação do tetra. ouvimos uma resposta comum: “Meu coração parou por um tempo e foi como se só voltasse a bater quando a gente ganhou”.
Não é por ser um país competitivo que o Brasil tem a raça que tem, mas por ser o Brasil. As pessoas aqui não amam o futebol só por achar o esporte interessante, elas amam o futebol porque são brasileiras e é impossível viver dentro do território da seleção verde e amarela e não torcer, chorar, vibrar e se emocionar pelo menos a cada partida.