A celebração do Dia da Mulher Negra Latino-Americana inspira o passado, presente e futuro
Neste ano, em que o Dia da Mulher Negra Latino-Americana completa 30 anos, o Festival Latinidades homenageou personalidades que inspiraram e continuam inspirando as novas gerações.
Por Mauro Utida
Há 30 anos, um grupo de mulheres negras latino-americanas e caribenhas se reuniram na República Dominicana para construir um novo futuro. Este movimento inspirou uma geração de mulheres negras destes continentes e trouxe um impacto significativo na sociedade contemporânea.
A cineasta baiana, Viviane Reis, que tinha 7 anos de idade na época, comemora os avanços e a influência que a pauta da época exerceu sobre quem ela é hoje. “Estas mulheres pararam para formular o que eu deveria ser 30 anos depois. Todo este conjunto representa a materialidade na minha vida, na minha atuação política e profissional”, afirmou durante o Festival Latinidades.
Neste ano, o Latinidades – o maior festival de mulheres negras latino-americanas e caribenhas -, completou 15 anos e foi realizado no Museu Nacional de Brasília, entre os dias 22 e 24 de julho. A Mídia NINJA esteve presente realizando a cobertura colaborativa do evento e conversou com mulheres negras que são destaque no cenário nacional sobre a importância desta data.
A cantora Tássia Reis é uma das jovens mulheres negras que já nasceram em um contexto de mudança, mas aos 32 anos – como mulher preta e artista – quer abrir novas portas como um sentido de existência. “Ter a consciência de que a arte nos permite abrir espaço para outras mulheres pretas é mágico”, diz. Outra forma que utiliza a sua arte é para quebrar um pouco a tensão e relaxar. “Criamos um corpo de guerra como mecanismo de defesa, mas precisamos também aprender a celebrar a nossa existência e a nossa resistência”.
A cantora baiana Nara Couto também concorda com Tássia Reis e por mais que não seja fácil quebrar esta dor, sugeriu colocar em prática diariamente. “Meu sonho de consumo para as mulheres pretas é que a gente consiga se curar de tudo o que a gente não sabe que aconteceu. Entrar em um processo de cura para quebrar todo um mal que veio antes”, desejou.
Homenagens
Após dois anos de atividades online, o Festival voltou ao forma presencial com o tema Mulheres Negras – todas as alternativas passam por nós. Neste ano, o Latinidades também fez uma galeria em homenagem a várias griôs – mestres portadores de saberes e fazeres da cultura -, que ainda estão vivas e são inspiração às novas gerações. A escritora Conceição Evaristo gravou um vídeo para agradecer a homenagem e a filósofa Sueli Carneiro demonstrou seu sentimento de gratidão pela nova geração presencialmente. “Considero que estamos juntas em uma das lutas mais importantes da humanidade, a luta por igualdade de direitos, por oportunidade e por justiça racial. Resistimos por todas que nos antecederam, por todas que estão aqui hoje e por todas que virão”, declarou Sueli.
A edição de 2022 homenageou 50 mulheres negras com diferentes trajetórias a fim de reconhecer a importância de seus fazeres na construção do país, dentre as homenageadas presentes também estava Mãe Nilce de Iansã, que declarou: “A nossa luta contra o racismo, contra o racismo religioso, é ancestral. Então é importante que a mulher negra esteja ocupando espaços, como este, como igualdade de direito e acima de tudo sendo muito respeitada.”
“Não é fácil empreender um festival de mulheres negras atuando na base, com a base, pela base. É sobre a gente saber que tem que levantar a melhor estrutura e as melhores condições possíveis para materializar projeto porque as mulheres negras são toda essa potência e em nenhum outro lugar essa potência é reconhecida, é uma responsabilidade enorme”, relatou Jaqueline Fernandes, coordenadora geral do festival.
A jornalista Griô Sueide Kintê também foi homenageada e comemorou a oportunidade do encontro que para ela é como um “vulcão explodindo”. “No Latinidades encontramos a oportunidade de juntar todas e fazer ecoar para os quatro cantos do país um pouco desta potência que as mulheres negras latino-americanas”, afirmou.
Para a chef de cozinha, Aline Chermoula, o dia 25 de julho é importante no sentido de reverenciar as mulheres que vieram antes. “Me inspiro e me fortaleço na fortaleza que estas mulheres foram”.
Já a secretaria de Cultura da Bahia, Renata Dias, comentou sobre as adversidades que trouxeram os povos africanos para a América Latina e disse sobre a importância em reconhecer a influência africana na constituição do Brasil e da região da América do Sul e Caribe. “Somos protragonistas nesta história”.