Isabella Lima, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30

A juventude amazônida deixou de ocupar cadeiras de ouvinte e passou a conduzir conversas na COP30, em Belém. Em diferentes espaços, são jovens, como de Manaus (AM), Santarém (PA), territórios tradicionais e periferias urbanas que sobem ao palco, puxam debates, questionam e apresentam propostas, como agentes que vivem a crise climática no corpo e no território.

Essa virada se expressa em iniciativas que colocam a juventude como força motriz, como o Global Shapers, rede do Fórum Econômico Mundial que desenvolve jovens lideranças em mais de 150 países. No Norte do Brasil, o Hub de Manaus se mobilizou para contribuir com a diversidade de vozes amazônidas na conferência.

“A iniciativa busca desenvolver a liderança em jovens através de projetos sociais nas nossas comunidades, gerando impacto e acreditando que juventude é importante e consegue transformar”, afirmou Aída Lins, curadora do Hub de Manaus.

Na Amazônia, a crise não é um conceito abstrato. É cheia severa, seca recorde, fumaça, desmatamento e insegurança alimentar. E essa realidade impulsiona a juventude para posições de liderança.

Do território para o global

Durante a Conferência, o Hub de Manaus realizou o “Amazônia Reset na COP30: Soluções Amazônicas para um futuro global”, a bordo do Banzeiro da Esperança, na Estação das Docas. O encontro reuniu cerca de 40 participantes para debater financiamento climático, impacto local e caminhos para um futuro sustentável construído a partir do território.

“Construir o Reset olhando para a perspectiva de juventudes atuando dentro da COP, falando de temas como financiamento e trazendo juventude para pensar do local ao global é essencial para este momento”, afirmou Shauana Nogueira, organizadora do evento.

Foto: Lucas Escobar

O primeiro painel, “Do local ao global — como iniciativas amazônicas podem gerar impacto mundial”, contou com Eurico Aripuanã, representante da Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi (OPIAJ), de Pauini, no Amazonas; Daniele Kambeba, fotógrafa e ativista da organização Makira-E’ta; Ana Luiza de Limas, coordenadora geral do Comitê Chico Mendes; e, mediação de Vinicius Amaral, integrante do Global Shapers.

Na sequência, o painel “Financiamento Climático: o papel do investimento responsável para impulsionar mudanças” reuniu Angelo Chaves, gestor de programas do Fundo Casa Socioambiental; Gustavo Alves, gerente de inovação da Fundação Ellen MacArthur para a América Latina; Gelson Henrique, diretor executivo da iniciativa PIPA; e, mediação de Netto Santos, integrante do Global Shapers.

Para Eurico Aripuanã, assumir o protagonismo é uma urgência geracional, mas também coletiva, sendo fundamental para o garantir um futuro sustentável.

“Quem tem que decidir para o amanhã somos nós, que vamos viver nele. Eu preciso viver em um ambiente que quero estar, que o igarapé, o lago, a floresta e os animais estejam bem. É tomar o protagonismo para si e dizer realmente o que queremos ou não, porque não basta levantarmos a voz e somente sermos consultados e não ter esse poder de decisão”, declarou.

Criado em 2019, o Amazônia Reset realizou pela primeira vez uma edição fora do Amazonas, somando à programação paralela das negociações oficiais e reforçando o compromisso com o futuro da região.

Mobilização para ‘furar a bolha climática’

Entre os projetos do Global Shapers está o Shapers pelo Clima, que reúne jovens do Brasil e de outros países com foco em educação climática, comunicação, articulação e apoio logístico à participação de juventudes na COP30.

A iniciativa aposta em produções como podcast e mobilizações digitais para aproximar a agenda climática da vida cotidiana. O objetivo é fortalecer representatividades diversas e furar a bolha que ainda distancia debates ambientais da realidade de grande parte da população.