José Castro, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30

O governo do Pará acaba de estabelecer um novo acordo com a empresa Hydro, do setor de alumínio. Durante a COP30, no dia 11 de novembro, anunciou que a doação de equipamentos para prevenção e controle de incêndios reforçaria a “integração entre o setor público e a iniciativa privada em torno da pauta climática e da proteção ambiental”, de acordo com a reportagem publicada no site oficial do governo.

O ato de assinatura foi realizado durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Durante a solenidade também foi apresentado o Banco da Paz, “estrutura construída com alumínio de baixo carbono produzido no Pará”. Além disso, “o acordo contempla ainda ações voltadas à gestão de resíduos sólidos urbanos e capacitação de servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas).

Mas precisamos trazer aos fatos que a Hydro é uma empresa que há anos explora a região de Barcarena e cuja operação vem impactando sobre as vidas de comunidades, contaminando a água, o solo e até o ar.  

Imagine só a controvérsia de se celebrar na conferência, onde foram inúmeras as denúncias sobre greenwashing, parceria com uma empresa cuja operação traz impactos sobre comunidades vulneráveis. Por esse mesmo motivo um indígena protestou na cerimônia, relatando aos presentes de que forma a atuação da empresa vinha prejudicando pessoas.  

Desde 1995, a empresa Hydro, opera no estado do Pará, quando foi inaugurada a refinaria de alumina Alunorte. Uma multinacional que utiliza o discurso da sustentabilidade a partir do uso de energia renovável, mas que acumula diversas denúncias de danos ambientais e sociais.

Acusações foram apresentadas ao Tribunal de Roterdã, na Holanda, em julgamento que ocorreu em março de 2021. A Hydro foi acusada de danos ambientais causados pelo acidente ocorrido em sua planta de alumínio Alunorte, no Pará, Brasil, em 2018. O incidente gerou uma série de alegações e ações legais devido ao impacto tanto ambiental quanto social que causou na região. 

A acusação foi levada por organizações da sociedade civil, como Repórteres Sem Fronteiras e Greenpeace, juntamente com comunidades afetadas pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, além de ONGs ambientais e movimentos sociais que denunciaram os danos gerados pela operação da empresa.

Entre os impactos relatados estavam danos à saúde e prejuízos financeiros decorrentes da atividade industrial, especialmente após os vazamentos de 2018, envolvendo lama tóxica resultante dos resíduos da produção de alumina. Esses resíduos, conhecidos como bauxita (lama vermelha), são armazenados em barragens que não teriam conseguido conter todo o material. Em setembro de 2025, porém, o Tribunal de Roterdã absolveu a empresa de grande parte das acusações, especialmente as relacionadas à negligência e à falta de responsabilidade corporativa no vazamento.

Acusações contra a Hydro

Entre as acusações estavam os impactos ambientais provocados por diversos atos, como o despejo irregular de rejeitos de bauxita — uma lama altamente tóxica — nos rios e igarapés da região de Barcarena, além da contaminação atmosférica por poeira tóxica e fumaça.

A principal denúncia tratava do vazamento de resíduos de uma bacia de rejeitos após fortes chuvas em fevereiro de 2018, em Barcarena (PA), que acabou contaminando os rios locais. A pesca, principal fonte de renda da região, foi diretamente afetada. Mesmo quem não trabalha diretamente com o pescado sente as consequências, já que toda a economia gira em torno dessa atividade.

Outro ponto levantado foram os danos à saúde dos moradores, que relataram dores de cabeça, problemas respiratórios e coceira excessiva.

Além das denúncias apresentadas ao tribunal holandês referentes ao despejo irregular de rejeitos, novas denúncias chegaram às autoridades brasileiras sobre um mineroduto do qual a empresa é responsável.

O mineroduto é um sistema de tubulação usado para transportar minérios em forma de polpa — uma mistura de minério e água — por longas distâncias, desde a extração até o processamento final ou porto. Embora considerado um meio confiável de transporte, seus impactos ambientais são significativos e duradouros, atingindo o meio ambiente e as comunidades próximas. É exatamente isso que ocorre em Barcarena, configurando um crime ambiental sem precedentes.

Impactos ambientais causados pelo mineroduto

Os impactos incluem a contaminação da água e do solo, além de vazamentos de rejeitos como a bauxita (lama vermelha) e metais pesados — chumbo, níquel, cromo e alumínio. Rios e igarapés da região, como o Rio Pará e o Rio Murucupi, estão entre os mais afetados.

A alteração dos ecossistemas aquáticos é outro efeito grave do sistema de produção da Hydro. A morte de peixes e outros animais resulta da piora na qualidade da água, da redução do pH e da diminuição do oxigênio dissolvido.

As atividades de subsistência de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas — que dependem da pesca, da caça e da coleta de açaí — têm sido profundamente afetadas pela contaminação dos rios.

A insegurança hídrica passou a fazer parte do cotidiano dessas comunidades, uma vez que a água dos rios se tornou imprópria para consumo humano. Como consequência, as populações foram forçadas a depender de fontes alternativas e muitas vezes insuficientes de água potável.

As opiniões expressas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor, produzidas durante a cobertura colaborativa NINJA na COP30