O DH Fest – Festival de Cultura em Direitos Humanos chega à sua 5ª edição reafirmando a arte como instrumento de memória, resistência e imaginação política. De 25 de novembro a 2 de dezembro, o evento ocupa diferentes espaços culturais de São Paulo — Centro Cultural São Paulo, Cinemateca Brasileira, Galpão Cultural Elza Soares, Espaço Petrobras de Cinema e Reserva Cultural — com entrada gratuita, além de disponibilizar parte da programação na plataforma CultSP Play. Realizado pelo Instituto Vladimir Herzog e pela Criatura Audiovisual, com patrocínio da Petrobras e da Caixa via Lei Rouanet, o festival organiza sua curadoria em torno do tema “Memória, terra, liberdade”, convidando o público a revisitar lutas históricas e refletir sobre a defesa de direitos e territórios em meio às crises contemporâneas.

A edição marca os 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura militar, lembrança que ganha força com um ciclo de documentários dedicados à sua vida e legado. Entre os títulos exibidos estão “A Vida de Vlado – 50 Anos do Caso Herzog”, de Simão Scholz, além de um programa especial que reúne “Marimbás” — único filme dirigido pelo jornalista —, o média “Herzog: O Crime Que Abalou a Ditadura”, de Antonio Farinaci, e o teaser “Antonio e Vladimir”, de Maikon Nery.

Pela primeira vez, o DH Fest entrega o Prêmio Marimbás, criado para reconhecer trajetórias marcadas pela defesa dos direitos humanos. O troféu, desenhado por Laerte e inspirado no documentário “Marimbás”, será concedido a Sebastião Salgado (in memoriam) — cuja família receberá a homenagem — e a Zezé Motta, que também fará um pocket show após a cerimônia no Espaço Petrobras de Cinema. A abertura oficial acontece em 25 de novembro, no Reserva Cultural, com a exibição de “Alma Negra, do Quilombo ao Baile”, de Flavio Frederico, um longa que revisita o papel dos bailes black como territórios de resistência cultural e política e traça conexões entre passado e presente das lutas antirracistas.

Entre os destaques da programação está o debate internacional “Memória, Terra e Liberdade”, que reúne o ambientalista martinicano Malcom Ferdinand, autor de “Por Uma Ecologia Decolonial”, e a escritora, psicóloga e ativista guarani Geni Nunez, referência nos estudos sobre afetos e descolonização. O encontro acontece no Centro Cultural São Paulo. Outra novidade desta edição é a inclusão de espetáculos teatrais, como “Cerrado!”, do Grupo Pano, obra indicada ao Prêmio Shell 2025 que combina realismo fantástico e teatro do absurdo para discutir colonialismo e disputas políticas na América Latina.

No sábado, 29 de novembro, o Galpão Cultural Elza Soares recebe uma programação que sintetiza o espírito do festival. As atividades começam ao meio-dia com o almoço da Cozinha Escola Dona Ilda, do MST, seguido do encontro “Terra e Luta”, que discute alimentação, soberania popular e ativismo com nomes como Jerá Guarani e Ana Chã. A partir das 15h30, a festa Discopédia transforma o espaço em celebração da black music paulistana, abrindo caminho para o retorno de Leci Brandão aos palcos, às 17h30, em uma apresentação especial que reafirma sua trajetória como voz histórica do samba e dos direitos civis. Durante todo o dia, serão realizadas coletas de alimentos e roupas.

A programação audiovisual reúne mais de vinte títulos, entre longas, curtas e episódios de série, muitos deles inéditos comercialmente no Brasil. Entre eles estão “Cadernos Negros”, de Joel Zito Araújo, vencedor do prêmio do público na Mostra SP; “Honestino”, de Aurélio Michiles, sobre o líder estudantil desaparecido na ditadura; “Sérgio Mamberti – Memórias do Brasil”, de Evaldo Mocarzel, premiado no Festival de Brasília; “Apolo”, primeiro longa dirigido por Tainá Müller e Isis Broken, premiado no Festival do Rio; e episódios de “De Menor – A Série”, de Caru Alves de Souza, reconhecida internacionalmente. A seleção também inclui obras dedicadas à memória política, às lutas indígenas, às questões ambientais, às resistências LGBTQIA+ e às violências de Estado, com produções vindas de várias regiões do país.

Dois programas de curtas-metragens completam a mostra, com filmes premiados como “Alice”, de Gabriel Novis, vencedor no Hot Docs; “Nosso Modo de Lutar”, sobre o Acampamento Terra Livre; “Marmita”, vencedor do Prêmio Canal Brasil na Mostra de Tiradentes; “Presépio”, premiado na Perspectiva Queer do Festival de Biarritz; “A Lenda dos Cavaleiros da Água”, de Helen Quintans, inspirado em cordel; e “O Som da Pele”, sobre o grupo de percussionistas surdos Batuqueiros do Silêncio. Oito desses títulos estarão disponíveis gratuitamente no CultSP Play durante o festival.

Ao definir “memória, terra e liberdade” como eixos de resistência, lembrança e reinvenção, a curadoria transforma o DH Fest 2025 em um manifesto vivo, onde arte, história e direitos humanos se encontram. Mais do que uma celebração, a nova edição reafirma a democracia como prática cotidiana — construída por gestos individuais e coletivos, atravessada por disputas, mas sustentada pela insistente defesa da vida, da cultura e da dignidade.