por Julia Gonsalo de Carvalho  e Kawê Veronezi para a Cobertura Colaborativa Mídia Ninja da COP 30

Ao longo das discussões da COP30, a juventude assumiu um papel central ao expor prioridades que muitas vezes ficam fora das mesas formais de negociação. Em diferentes espaços, das plenárias oficiais às atividades paralelas, jovens brasileiros e de mais de 100 países têm apresentado propostas, cobranças e diagnósticos claros sobre os impactos da crise climática em seus territórios, reivindicando mudanças estruturais.

As pautas defendidas pelos coletivos juvenis foram consistentes ao longo da conferência. Entre elas, estão a eliminação rápida e justa dos combustíveis fósseis, o acesso direto e desburocratizado ao financiamento climático, a centralidade da adaptação e a proteção de defensores ambientais. Soma-se ainda a demanda por educação climática permanente e pela valorização de saberes locais, sobretudo em territórios onde a mudança do clima já produz impactos severos.

Um dos marcos desse movimento é a Declaração Global da Juventude, construída com a participação de mais de 30 mil jovens de mais de 100 países. O documento reúne reivindicações que vão desde a institucionalização da equidade intergeracional na governança climática até mecanismos de financiamento acessíveis para projetos liderados por jovens e comunidades vulnerabilizadas. A plataforma evidencia que a juventude não atua somente como voz crítica, mas como formuladora de caminhos concretos para mitigar desigualdades e fortalecer a resiliência.

O protagonismo também se expressa nas demandas regionais. Em países africanos e latino-americanos, jovens enfatizam que já desenvolvem soluções em energia limpa, monitoramento territorial, agricultura sustentável e mobilização comunitária, e cobram que a política internacional reconheça esse trabalho como parte das estruturas de decisão. A perspectiva de perda e dano, junto ao foco em adaptação, aparece como prioridade diante da intensificação de eventos extremos que afetam diretamente suas comunidades.

Durante os debates sobre a transição energética, o ponto mais incisivo foi a cobrança explícita pelo fim do petróleo, do carvão e do gás. Em ações relacionadas à Amazônia, jovens amazônidas expuseram como desmatamento, queimadas, estiagens extremas e colapso dos rios têm sido apresentados como evidências de que o modelo atual aprofunda desigualdades e compromete modos de vida inteiros.

A pauta da justiça territorial e racial atravessou todas as intervenções. Lideranças indígenas, quilombolas, ribeirinhas, periféricas e amazônidas destacaram que os impactos climáticos não são distribuídos de forma igual. Ao relatar seca severa, fumaça constante e insegurança hídrica, reforçaram que o centro da política climática deve ser ocupado por quem sente os efeitos mais duros da crise e não por quem apenas negocia sobre eles.

No campo educacional, a defesa é por currículos que integrem riscos, vulnerabilidades e adaptação, além da necessidade de garantir que escolas sejam ambientes seguros diante de enchentes, ondas de calor e outros desastres que já afetam regiões brasileiras e internacionais. A proteção de jovens defensores ambientais, alvo de criminalização e ameaças em diversos países, também ganhou espaço como pauta urgente.

Ao final da COP30, o balanço é claro: a juventude internacional não reivindica apenas um futuro, reivindica poder político no presente. Suas propostas oferecem um diagnóstico rigoroso das falhas do sistema climático atual e apontam trilhas concretas para uma transição justa. Se será ou não ouvida, dependerá da capacidade dos governos de incorporar, de forma institucional, a equidade intergeracional como princípio e não como retórica. A COP30 mostrou que a juventude está pronta, agora resta saber se o mundo também está.