Projeto de saúde indígena apresentado na COP30 respeita práticas e costumes das comunidades
Além disso, o projeto Hämy tem o propósito de garantir participação indígena em todas as fases, da administração ao atendimento médico
Elizabete de Jesus e Francy Ramos, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30
A saúde indígena foi tema de um dos debates que movimentaram a programação da Aldeia COP, durante a COP30, em Belém (PA). No último dia da conferência do clima, 21, o painel “Hämy e AAB: Mobilidade sustentável e saúde indígena na Amazônia brasileira” apresentou o projeto que visa levar atendimento de qualidade às aldeias, respeitando-se práticas e costumes locais.
A Aldeia COP foi um espaço construído a partir da somatória de forças da articulação do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), para acolher representantes dos povos de todas as regiões do país, sediada na Escola de Aplicação da UFPA.
No painel organizado pelo Instituto Nacional de Cuidados Oncológicos e Humanização (INCOH), foi explicado que o projeto Hämy nasce no Maranhão, com o propósito de levar ações de prevenção, diagnóstico e promoção à saúde para as comunidades indígenas, respeitando os conhecimentos de cura, espiritualidade e as tradições dos povos originários.
Segundo a liderança indígena do Maranhão, responsável pelo projeto, Lourenço Krikati, a ideia é que haja a participação indígena em todas as fases do projeto, da administração ao atendimento médico.
Hämy é uma palavra indígena que significa “cuidar”; traduz bem o propósito do projeto: levar assistência médica para os territórios indígenas, garantindo que recebam orientações e tratamentos de saúde adequados. Considerando que muitos territórios estão distantes dos centros urbanos e das estruturas dos hospitais, o projeto pretende contar com uma estrutura móvel que permita esse deslocamento até esses lugares.
Respeito às práticas e costumes locais
Os atendimentos são estruturados de acordo com a realidade da comunidade, de modo que seja planejada a melhor maneira de atender às necessidades daquele povo, respeitando as práticas e costumes locais. Visando isso, uma das estratégias utilizadas pelo projeto é atuar em conjunto com representantes indígenas, que auxiliam na comunicação com a comunidade.
“No Maranhão temos dois troncos: o G e o Tupi. A gente está realizando palestras adaptadas na nossa língua, isso tem facilitado o acesso, porque falar do câncer, falar de doença mental e de outras comorbidades não é simples. A gente pensou que da forma que estava chegando, da forma que traziam para gente, não estava sendo absorvido da forma que é necessário”, explica a assistente social Lana Guajajara, que integra o projeto.
Um dos desafios na aldeia é a resistência à ajuda médica, pois muitos indígenas apresentam resistência para realizarem os exames. Outra estratégia adotada pelo projeto é capacitar a equipe médica para que se estabeleça confiança e segurança.
“A primeira coisa que eu tenho que fazer é treinar o nosso profissional indígena. Por que indígena? Porque vai falar muito com o povo indígena”, destaca Krikati.
Com a realização do atendimento nas aldeias, a ideia é colaborar para que o diagnóstico e tratamento aconteçam de forma mais rápida, pois o atendimento pelo SUS ou de outra instituição são demorados e isso pode ocasionar em situações de morte. Lourenço relata o caso de uma indígena, de Amarante, que contou já ter feito exame três vezes sem nunca receber resultado. “Ficou por isso mesmo. Então, como iniciando o projeto, ela veio, mas já estava sangrando. Infelizmente, nós não conseguimos salvar”.
Pensando nos próximos passos, Krikati destaca que a ideia é ampliar o projeto, para ser levado a outros estados brasileiros e países da América Latina. Para que isso aconteça, é preciso ter recursos e investimentos.
“O projeto precisa de apoio a nível de Estado, no primeiro plano do DSEI (Distritos Sanitários Especiais Indígenas), do governo do Estado e da própria liderança da comunidade que o abraça para que possa funcionar. Mas para isso tem que estar junto para buscar recurso porque precisa de um custo para poder funcionar”, enfatizou sobre os desafios a serem vencidos.
Vale ressaltar, o projeto é idealizado pelo Instituto Nacional de Cuidados Oncológicos e Humanização (INCOH) em parceria com a Associação Automobilística do Brasil (AAB) e com o apoio da Federação Internacional do Automóvel (FIA).



