Diálogos paralelos à COP: por que o planeta está aquecendo e como isso transforma vidas?
Painéis em eventos paralelos às ‘zones’ expõem: o planeta aquece pela ação humana e seus impactos já moldam nossas vidas
Por Bia Aflalo
O mundo está com febre e essa febre tem história, causas, responsáveis e consequências muito concretas.
Do calor sufocante das cidades às secas na Amazônia, dos 62 °C dentro de casas na Mata Atlântica à água subindo dois metros em um quilombo no Rio Grande do Sul, o aquecimento global deixou de ser uma previsão científica e virou cotidiano. “A resposta não é mais emergente, é urgente”, alerta Jurema Werneck, médica, comunicóloga e enviada especial da COP30 para justiça climática, em painel no último dia 13 na Central da COP, promovido pelo Observatório do Clima.

Mas por que a Terra está aquecendo? Em fala para o público presente no ICA, na Praça da República, no dia 12 de novembro, Patrícia Pinho, doutora em ecologia humana e Diretora e Pesquisadora do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), explica que o planeta sempre variou de temperatura, mas o salto começa com a Revolução Industrial, quando combustíveis fósseis, derivados do petróleo, passaram a alimentar máquinas, fábricas, cidades inteiras. A queima desse combustível libera gases que intensificam o efeito estufa. É como se colocássemos um cobertor cada vez mais grosso sobre o planeta. Em excesso, ele sufoca.
A situação se agravou com a expansão global desse modelo econômico. Depois vieram os CFCs, usados em aerossóis e refrigeração, que destruíram parte da camada de ozônio. O alerta foi tão grave que os países se reuniram para agir. E conseguiram: o buraco diminuiu. O recado é claro: quando se coopera, funciona.
OS IMPACTOS NÃO SÃO OS MESMOS!

Mas a responsabilidade e os impactos não são iguais. O aumento pós-industrial de 1,5°C já ameaça sistemas naturais e humanos. E para o Brasil, país tropical, isso significa, na prática, até 3°C a mais. No calor extremo, aumenta o risco para crianças pequenas, idosos, pessoas em situação de rua, e que vivem em favelas e comunidades urbanas. E essas pessoas, no Brasil, tem gênero, cor, fenótipo e classe social. “Pra gente preta e indígena, o fim do mundo já se apresentou muitas vezes”, lembra Flávia Oliveira, jornalista da Globo News e Conselheira da Anistia Internacional Brasil, ao dividir assento com Jurema Werneck na Central da COP.
Como parte de sua missão como Embaixadora da COP30 para Igualdade Racial, Jurema percorreu todos os biomas brasileiros, ouvindo relatos de comunidades quilombolas ignoradas em enchentes, ribeirinhos sem água navegável ou potável, famílias pantaneiras sufocadas por queimadas. São vidas reais vivendo (ou perdendo a vida) frente à frente com os extremos da crise climática.
A missão de Jurema, unida a Janja Lula e Denise Dora, apresentaram durante a COP30, Cartas que consolidaram as experiências e impactos levantados em todos os biomas brasileiros, e que foram apresentadas ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao presidente da COP30, André Correa do Lago, e à CEO da COP30, Ana Toni.
Há quem peça que a Amazônia “resolva” o problema global por ser a maior sequestradora de carbono do mundo, mas Pinho é enfática: a floresta não dá conta de compensar sozinha o que a humanidade inteira emite.
Então, dá para esfriar? Sim. Mas não com discursos vazios. Exige ciência, coragem política e justiça social. Assim como exige que as COPs sejam mais do que vitrines, que se tornem lugares de verdade, como desafia Jurema: “Essa é a COP da verdade? Então mostremos a verdade da COP”.



