O que significa criar outra economia emocional e material
Repensar afetos, trabalho e cuidado para criar uma economia que sustente vidas e não produza exaustão
Chris Zelglia, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30
Estabelecer uma nova economia emocional e material implica reavaliar os métodos pelos quais estruturamos nossa vida mental e coletiva. Significa desafiar a lógica que converte sentimentos em produtos, conexões em moeda de troca e corpos em instrumentos de eficiência. Essa economia alternativa vai além das finanças, abrange também as relações. Trata-se de como repartimos afeto, desejos, atenção e senso de pertencimento.
Atualmente, estamos presos a uma lógica de escassez emocional: a crença de que nunca dispomos de tempo, amor ou reconhecimento suficientes. Essa contínua sensação de ausência molda nossos comportamentos, fomenta a competição, prejudica os laços e transforma a vida social em um terreno de luta emocional pela sobrevivência. A economia emocional que predomina é caracterizada pela pressão de se destacar, acumular e triunfar, até mesmo nas relações íntimas.
Criar uma nova economia emocional e material significa estabelecer novas formas de viver. É afirmar que o bem-estar provém da reciprocidade, não do cansaço. Que trabalho não se resume a emprego, mas inclui cuidado, criatividade e manutenção da vida. Que o valor não reside apenas no capital, mas também nas experiências, nas redes de suporte, na cultura e nas lembranças.
Sob a perspectiva psicanalítica, essa transformação envolve mover o indivíduo do campo da repetição, das mesmas dores, padrões e reações, para o do criação. Envolve entender que nossas relações com dinheiro, trabalho, tempo e com o outro são atravessadas por traumas, legados familiares e marcas sociais que influenciam nosso comportamento sem que nos demos conta.
Uma nova economia não é formada apenas por mudanças em políticas; é construída por uma mudança de significados. É necessário revisar o que realmente importa, o que sustenta e o que torna a vida habitável.
Portanto, criar uma nova economia emocional e material é um ato político e pessoal. É reconhecer que não há necessidade de seguir um modelo de sociedade que nos prejudica. É proporcionar espaço para modos de vida que não se fundamentem em culpa, escassez ou comparação constante. É entender que as comunidades se fortalecem quando o afeto é também redistribuído e quando o cuidado é considerado um bem fundamental, e não um privilégio.
*As opiniões expressas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor, produzidas durante a cobertura colaborativa da COP30.