Na COP30, povos indígenas têm protagonismo histórico na agenda climática
Nos espaços em Belém (PA), reforçaram que não há debate sobre o futuro sem a participação dos guardiões da floresta
Lara Lima, da Cobertura Colaborativa NINJA na COP30
A COP30, que segue até o dia 21, em Belém (PA), é a primeira Conferência Mundial do Clima em que os povos indígenas do Brasil tiveram grande protagonismo. Mesmo com apenas 400 representantes credenciados para a Blue Zone, o índice de participação é histórico, como declarou a ministra Sônia Guajara ao G1. Cerca de 5 mil indígenas circulam pelos espaços públicos onde ocorrem debates em Belém.
“É a maior e melhor em participação e protagonismo dos povos indígenas. Pela primeira vez, a gente não está só presente: estamos no centro das decisões globais”, afirmou Guajajara.
Mas oportunidades de diálogo também foram criadas pelas próprias organizações indígenas, caso da Aldeia COP, que tem se consolidado, não apenas como local de alojamento, mas também como espaço político e de resistência. O espaço foi montado em uma escola pública da Universidade Federal do Pará (UFP) e abriga delegações de povos vindos de todas as regiões do país.
Somam ainda, povos de diferentes regiões do mundo, que têm utilizado o local para apresentar reivindicações como a demarcação de territórios, a proteção das florestas, o enfrentamento à violência em suas comunidades e a garantia de participação direta nas decisões globais sobre o clima.
Nesse sentido, a Aldeia funciona como um centro de articulação, onde a presença consolidada evidencia a força da mobilização indígena e seu papel estratégico na construção de justiça ambiental.
O protagonismo indígena também se manifesta de maneira vigorosa na Green Zone, nas ruas de Belém, entre outros eventos. Lideranças e jovens conduzem atos e mobilizações, como a Marcha Indígena pelo Clima, realizada na segunda-feira (17), demonstrando que a ação política vai além das salas de conferência.
A ocupação e realização de atividades em espaços públicos garantem visibilidade às demandas indígenas, fortalecem a pressão por políticas climáticas mais inclusivas e evidenciam a importância da participação indígena não apenas como observadores, mas como atores centrais no debate ambiental global.
Por que está COP é diferente
A realização do evento em uma cidade amazônida, muda o centro do debate para o território que tem papel fundamental na regulação do nível global. A expectativa é de que os povos indígenas passem a integrar, de fato, as mesas de negociações e participem das tomadas de decisão. Historicamente, os guardiões da floresta são impedidos de acessar espaços de negociação e confinados a eventos paralelos. Sem justiça territorial, não há solução climática.
A luta por um novo modelo
As lideranças indígenas defendem uma agenda mais assertiva, que vá além da preservação ambiental. Buscam reconhecimento dos saberes ancestrais, reparação pelas violências e o fim de projetos extrativistas, como petróleo e outros. Assim, políticas climáticas sem participação direta dos povos tradicionais reproduzem desigualdades.
Por esse motivo, em entrevista ao InfoAmazônia, Lucas Tupinambá, que é integrante do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns, disse que espera ainda mais avanços. “Começa que para estar aqui precisa de um credenciamento; na minha região só foram duas pessoas. O processo deve também ser custoso. Eles não estão abertos a escutar quem precisa ser escutado”.
E reforçou que decisões sobre o futuro da Amazônia não podem ser tomadas sem os povos originários.
“Antes de qualquer discussão sobre petróleo, sobre a escavação dos rios da Amazônia, sobre privatização, sobre qualquer ação que possa prejudicar os direitos dos povos da Amazônia, tem que nos ouvir”, afirmou.
O impacto esperado na conferência
Com a crescente mobilização indígena e de coletivos nacionais e internacionais, a COP30 inspira um novo modelo de conferência a ser reproduzido nas próximas edições. A proposta é dar oportunidade de fala a quem mais sofre os impactos da crise climática e que costuma ser excluído das decisões. O protagonismo amazônida pressiona por uma agenda mais justa.
E mesmo com a necessidade de ampliação de mais pessoas nos espaços de negociação, a CP30 deve inaugurar um novo ciclo na luta climática global, agora liderado por aqueles que historicamente estiveram na linha de frente da defesa da Terra. Em Belém, o mundo tem finalmente a oportunidade de ouvir os povos indígenas, que há séculos preservam e protegem o planeta.



