por Pati Lima Felix

A lógica ocidental, que separa a vida em caixas, faz muita gente se questionar por que indígenas se manifestam com seus maracás, grafismos e adornos.

E por isso, algumas pessoas acreditam que a espiritualidade tem de estar em uma e a cultura, em outra. E ainda, que a política esteja distante dela. 

Mas os povos da região do Baixo Tapajós no alto de sua sabedoria, mostram que há uma integração entre elas. 

Para eles, vida, corpo, território e espírito não se separam.

E evidenciaram isso na manhã do dia 14 de novembro, quando promoveram um bloqueio nos portões da Blue Zone, e realização de ritual indígena.

O Pajé Nato Tupinambá disse que foi uma manifestação pacífica e que o grupo exigia a presença do presidente da COP, o embaixador André Corrêa do Lago; da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara e da presidente da Funai, Joênia Wapichana. 

“A Região inteira do Baixo Tapajós recebeu só três credenciais. Como vamos ter voz se, enquanto nós temos três credenciais, outros grupos têm quinze?”, criticou.  

Enquanto isso, os outros que o acompanhavam, e realizavam o ritual, cantavam:

“Terra, meu corpo

Água, meu sangue

Ar, meu sopro

Fogo, meu espírito

Mãe, eu te sinto sobre meus pés

Mãe, eu escuto o coração bater”

O ocorrido foi fundamental para expor ao mundo a desigualdade no acesso à voz dentro da COP30 e surpreendeu quem ainda desconhece a força política dos povos indígenas.

A Lei nº 6.001/1973, no artigo 53 do Capítulo II (“Dos Crimes Contra Indígenas”), estabelece que é crime: “escarnecer de cerimônia, rito, uso, costume ou tradição culturais indígenas, vilipendiar ou perturbar, de qualquer modo, a sua prática.”

Além disso, o artigo 215 da Constituição Federal determina que o “Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e as de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.”

As manifestações sempre são acompanhadas de proteção espiritual: jenipapo que fecha o corpo e que traz força, maracá rezado que sustenta a caminhada. Política, para quem defende a vida, não existe separada do espírito. A ausência de credencial impede o acesso à justiça. Sem credencial não há democracia climática.

Existe um espírito maligno que só quer explorar e arrancar da terra o que não lhe pertence — e para enfrentá-lo é preciso muito rezo, canto forte e corpo protegido.