Aplausos à barbárie lembra os que pediam a martirização e morte do jovem de Nazaré
Lamentável esse capítulo triste da nossa cidade e do nosso estado, onde o governador usa as polícias como exércitos particulares.
A Sociologia da Segurança mostra que quando o governo precisa exibir poder por meio de cadáveres é porque perdeu o controle da legitimidade. Nesta afirmação da professora e pesquisadora da Segurança Pública, Jaqueline Muniz, está encerrada uma série de desastres que se sucedem no estado do Rio de Janeiro, onde a percepção da população em relação à segurança pública e à violência é pior e mais grave do que no restante do país.
Fato que ficou evidente na última pesquisa realizada pela Atlas Intel, o mais surpreendente nessa história, contudo, é que o “novo normal” é a barbárie e digo isso com muito pesar e receio, já que o governador alardeia que novas operações similares ocorrerão.
Sabemos que frear a escalada da criminalidade em uma sociedade é algo fundamental e faz parte da manutenção da ordem, da garantia de normalidade social. Não são as operações ou a luta contra o crime organizado que nos causa espécie, mas é a forma como no Brasil, sobretudo no estado do Rio de Janeiro, se faz isso.
Poderia discorrer aqui sobre questões raciais, preconceitos de classe ou sobre a eterna estigmatização de moradores de favela. Como afirmou o geógrafo e professor da faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Andrezinho Campos, em seu livro “Do quilombo à favela: a produção do espaço criminalizado no Rio de Janeiro”, ou até sobre a seletividade no emprego da força extrema de maneira indiscriminada e da justificativa habitual ao tirar vidas inocentes: efeito colateral. Já para os agentes das forças policiais, a afirmação é de que o risco faz parte do ofício.
Não há inverdades nestas frases. Acidentes podem acontecer em um ambiente inflamado, mas o dever do Estado é agir de maneira que seus agentes sejam preservados até nas mais extremas situações, bem como da população em geral.
Não é só o número de mortos que aterroriza. É a normalização, a manutenção de uma forma desgastada, ineficaz e eleitoreira, a serviço de interesses individuais e de grupos que vampirizam o Estado e colocam toda a população de joelhos, refém.
Refém do medo constante, de gente com muito poder e nenhum coração, de uma narrativa de guerra que só desperdiça vidas. Em um estado onde o desemprego das juventudes alcança níveis altos, se comparado ao restante do país, e no qual as crises fiscais e éticas ganham volume. Estado, no qual o transporte público ainda não serve bem Zona Oeste e à Baixada, onde faltam equipamentos públicos de ensino médio. A lógica não pode ser a política do terei e do medo, da selvageria e da atuação midiática.
Já vimos esse filme e ele é repetido e requentado. Há que se organizar a ação política, a garantia de um estado que cresça economicamente, que atenda aos seus cidadãos, segurança pública não é confronto. Segurança pública é um conjunto de ações políticas coordenadas, garantindo o bom funcionamento de uma sociedade e igualdade de oportunidades para todas as pessoas que vivem nela.
Lamentável esse capítulo triste da nossa cidade e do nosso estado, onde o governador usa as polícias como exércitos particulares, desperdiça futuros para ganho eleitoral e cristãos aplaudem, lembrando a multidão ávida por sangue e espetáculo de horror, igual aos que pediam a martirização e morte de um jovem de 33 anos oriundo de um vilarejo miserável de Nazaré em Israel (antiga Galileia).