Uma morte anunciada: o colapso da bacia amazônica
Caso o desmatamento siga crescendo, os ecossistemas florestais — tão importantes para a conservação da biodiversidade, a regeneração da água e a manutenção do equilíbrio atmosférico, além de lar ancestral de milhares de povos originários — estão condenados.
por María Cecilia Chacón
Segundo dados da Global Forest Watch (GFW), o desmatamento de florestas tropicais vem alcançando novos recordes todos os anos. Somente em 2024, 6,7 milhões de hectares de florestas foram destruídos — o equivalente a 18 campos de futebol por minuto.
O ecossistema amazônico é responsável pela circulação de 15% da água doce do planeta, e Brasil e Bolívia são os maiores responsáveis por seu desmatamento. Ficou claro, em Belém do Pará, que a falta de ações contundentes dos governos está favorecendo a aproximação do ponto de não retorno.
À extinção dos recifes de coral e ao colapso das camadas de gelo do planeta, soma-se a morte das florestas.
Os ecossistemas florestais, tão importantes para a conservação da biodiversidade, a regeneração da água e a manutenção do equilíbrio atmosférico — além de lar ancestral de milhares de povos originários —, estão condenados caso o desmatamento continue crescendo.
As iniciativas de comunidades locais e populações originárias que protegem as florestas, sozinhas, não são suficientes. Ações estatais são fundamentais, principalmente para agir contra grupos armados que movimentam uma economia ilegal em territórios protegidos por leis nacionais.
As políticas públicas podem ter um impacto significativo na diminuição da perda de florestas quando são implementadas e rigorosamente fiscalizadas. Entretanto, quando países assumem medidas mais rígidas, o mercado privado age de maneira reativa a fim de “proteger” os interesses de seus investidores por meio de mecanismos econômicos completamente fora da realidade.
O informe “Baku to Belém Roadmap to 1.3T”, publicado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), ressalta isso e estabelece o caminho para mobilizar 1,3 trilhão de dólares para financiar ações de mitigação e adaptação climática desses países, a fim de que não sejam reféns do mercado e possam agir na proteção das florestas.
Entretanto, apesar dos compromissos já firmados, o apoio financeiro continua insuficiente, e até o momento a COP30 não dá sinais claros de vontade política por parte dos chefes de Estado.
O Brasil está trabalhando no novo mecanismo para a conservação da Amazônia, o Tropical Forest Forever Facility (TFFF), apresentado na COP30. É um projeto desenhado para que o Norte Global pague anualmente a países do Sul pela conservação de suas florestas.
O investimento seria realizado por meio do Tropical Forest Investment Fund (TFIF), que contará com aportes públicos e privados para criar um fundo de 25 bilhões de dólares. Porém, até agora, “só” conseguiu angariar 1/5 desse valor.
Mais de 150 organizações internacionais, como a Global Forest Coalition (GFC), se posicionaram contra a TFFF, argumentando que ela é um produto do capitalismo verde e questionando suas reais funções ambientais. Seus defensores, por outro lado, afirmam que a proposta é uma iniciativa positiva para que o Sul Global enfrente o problema do desmatamento com foco em resultados nacionais.
O maior ponto de destaque da TFFF é que ela altera a lógica tradicional dos artigos 4.3 e 4.4 da UNFCCC, que determinam que países desenvolvidos devem prover financiamento e transferência de tecnologia para países em desenvolvimento. A TFFF propõe uma arquitetura financeira diferente, reposicionando responsabilidades e criando novas formas de condicionalidade.
Entretanto, um dos aspectos mais preocupantes é o fato de o fundo poder ser usado para oprimir ainda mais comunidades locais e governos mais pobres, sem tratar das causas estruturais do desmatamento, já que a proposta prevê a penalização dos países que mais desmatarem com o pagamento de uma multa 100 vezes maior que o valor investido por hectare — a perda de 1 hectare corresponderia ao pagamento equivalente a 100 hectares.
Outro aspecto criticado é o fato de que os países desenvolvidos que investirem no fundo receberão lucros por seu aporte.
O colapso amazônico não acontecerá por acaso: é resultado de medidas e políticas econômicas tomadas conscientemente.
Sem uma transformação profunda na maneira como as políticas são concebidas e financiadas, mecanismos como a TFFF servirão apenas como greenwashing de um modelo econômico que subjuga a natureza aos interesses do mercado.As florestas precisam de vontade política, justiça climática e respeito aos povos e às tradições que as defendem no dia a dia.



